HORTÊNSIA CAPÍTULO 56.

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SEM CORREÇÃO CONTÉM ERROS.

HORTÊNSIA CAPÍTULO 56.

O DEMÔNIO AINDA ME AFETA PROFUNDAMENTE, O QUE FAREI?


Acordar, abrir os olhos e enfrentar a realidade, os dias, as noites, eu não queria, o vazio o silêncio, era aconchegante, era agradável, eu queria ficar lá. No vazio não tinha dor, não havia angustia, tristeza, aflição, perda, decepções, medo, nada, somente o vazio.

Era frio, e ao mesmo tempo quente, não me afetava, me sentia cômoda eu queria ficar lá, poderia ficar lá para sempre.

Não havia mais demônios, sangue, eu me sentia em paz, liberta daquele monstro, de suas mãos da sua boca, da sua voz poderosa, forte, do seu toque, o cheiro forte da sua pele depois de um dia montado sobre um cavalo. Eu estava livre, eu me sentia livre.

Era confortável para mim no vazio, quem estava do outro lado na parte real da vida aquela, a que eu não queria voltar se esforçavam para me trazer de volta. Eu não queria voltar porque eu sabia que no momento que aquele véu de neblina no qual eu estava iria se desmanchar se romperia e, a dor da perda me sufocaria.

Lembranças do meu bebê, que eu o tinha perdido doeria, sangraria minha alma, queimaria a minha carne, assombraria os meus dias e minhas noites. Eu o culpei, eu o culpo e não o quero ao meu lado, não o quero ver. 

No dia que me dei conta que seu José estava ao meu lado me chamando de Dona foi emocionante, estávamos no jardim e eu estava sentada em uma cadeira olhando as flores, havia uma manta em meus ombros, eu estava distraída, quando ele me chamou.

O som de sua voz doce e mansa entrou nos meus ouvidos como música, meu coração se apertou o reconheceu, uma lágrima solitária desceu dos meus olhos, eu os fechei, poderia ser um sonho, eu não queria acordar. 

Senti sua mão em meu ombro, me virei lentamente, levantando minha cabeça, meu coração palpitou, abaixei minha cabeça sobre sua mão sentindo o calor da sua pele delicada na minha face com rugas do tempo, mostrando todos os seus anos vividos.

Foi inevitável não chorar, chorei por mim por meu filho, o que eu queria a todo custo evitar, a tristeza, ele me consolou, me abraçou me acalentou. -Essa dor vai passar um dia. Perguntei a ele em um sussurro abafado.

-Não. Respondeu. -Nunca vai passar, irá amenizar, conforme os dias, os meses e os anos passarem, eu sinto muito. Me respondeu com a voz embargada pelo choro.

-Estou feliz que está se recuperando? -Sim, eu agradeço, mais é muito difícil, o mundo real é doloroso, o vazio é confortável, não existe dor lá. O olhei e ele me olhava com ternura, com amor.

-Mas é aqui, no mundo real, que estão as pessoas que te ama, que sofrem em te ver perdida no vazio, com os olhos perdidos sem saber quem é. Abaixei minha cabeça pensando nas pessoas que me amava, que eu as amava.

-Meu pai, o povo da vila. A imagem do demônio veio como um raio, olhei para o lado cheguei a sentir sua presença, pisquei meus olhos. Vi sua postura ereta seus cabelos negros e olhos da cor da noite, a barba negra cheia de fios grossos, o olhar afiado misterioso, escondendo aquela besta fera que brilha e uiva através das iris negras.  

-Ele está aqui? Perguntei meio apavorada. -Está. -Onde? Meu velho amigo me apontou a vidraça. O busquei com meus olhos, encontrei seu olhar, estava compenetrado sobre mim, suspirei fundo, o choro veio, mas me segurei, ele ameaçou um passo. Comecei a tremer, minhas mãos ficaram frias, meu coração acelerou, as lembranças me lapeando, me via afogando, discutindo com ele, o corpo de Ruam sem vida, era muita coisa ao mesmo tempo me desesperei. Abracei meu corpo fechei meus olhos.

O Cheiro do pecado completa.Onde histórias criam vida. Descubra agora