Capítulo Seis - Discussões

2.1K 259 37
                                    

Não foi preciso reparar muito, era nítido que desde aquele dia em que Severus ganhara a cicatriz no rosto todos tinham medo dele. O modo como ele se concentrava e seus olhos brilhavam perigosamente o faziam alguém temido por sua própria aura pesada, que envolvia James em uma chuva de feromônios que o fazia estremecer.

Sua relação não podia estar melhor. Severus assistia seus treinos de Quadribol às vezes, e eles estudavam juntos na biblioteca com certa frequência. As provas antes do feriado de Natal nunca pareceram tão fáceis com a tutela de seu marido e Remus, ambos estavam ficando histéricos com a proximidade dos testes.

O relacionamento de Lucius e Sirius era um tópico discutido com frequência entre Severus e James, na privacidade de seu quarto mas masmorras. O Potter havia apostado cinco galeões que Sirius pediria Lucius em namoro no Natal. Severus achava que seria no Ano Novo. De todo modo, a aposta estava de pé e eles sempre se provocavam sobre isso, fazendo insinuações perto do Malfoy ou do Black sobre o assunto.

O Natal era algo que fazia James ficar apreensivo. Combinara com seus pais que Severus iria passar o feriado com eles, mas este lhe dissera que iria para casa para ver a mãe, ficando combinado que o alfa iria passar o ano novo com eles. Com este tópico resolvido, o mais novo entre os dois ficara um pouco incomodado quando percebeu que não sabia o que dar para o marido de presente e de aniversário - foi só então que James se tocara que não sabia a data de nascimento do esposo.

- Acho que sei o que te dar de Natal. - Severus puxou assunto naquela noite enquanto acariciavam seus cabelos. Sentado no sofá, lia um livro médio de bonita capa verde com interesse, enquanto James estava deitado com a cabeça em seu colo, lendo um dos livros do maior que achara muito interessante. Não sabia que Severus lia romances, porém gostava muito de todos os que o marido tinha. Principalmente um que relatava um romance entre um nobre inglês e um bárbaro escocês.

- O quê? - perguntou com interesse.

- Um marcador de páginas. - disse no mesmo tom desinteressado que começara aquele assunto. - Não quero meus livros com a página dobrada como você faz.

E o olhou com certa raiva e olhos apertados.

Se erguendo com o livro em mãos James o olhou lendo por um tempo. Mordeu os lábios e suspirou, fechando o livro azul que lia pela terceira vez e o colocando junto com os outros. O coração doía e acelerava do nada, estava com medo e não sabia o porquê. Acariciar seu estômago plano virara um hábito, mas não conseguia lhe acalmar naquele instante. Estava agitado, queria voar em sua vassoura para se sentir livre de novo, amava a sensação do vento em seus cabelos, ou então sair com seus amigos pelo castelo apenas porque adorava a adrenalina correndo por suas veias. A vida com Severus era boa e calma, tranquila e intensa, mas ele não estava contente com aquilo naquele momento. Queria agitação, emoção.

Sentindo sua inquietação Severus apenas o olhou com seu olhar apático. Era isso, até o modo de o olhar era algo... Frio. Distante. Era alguém de emoções profundas e agitadas, quentes e mutáveis, era um Grifinório, afinal, e a adrenalina tinha que jorrar em suas veias, fazendo seu coração quase sair pela boca. Gostava de seu marido, muito, mas era tudo calmo demais. Não combinava com sua alma que queimava como uma fênix.

Se fitaram até que o maior se ergueu e colocou o livro que lia junto com os outros, se retirando para o quarto de ambos e deixando a porta aberta em um convite mudo para esquecerem aquilo, as sensações. Mas James não queria, estava agitado e queria uma emoção que não tinha a meses.

Caminhou até o quarto e viu sua capa da invisibilidade sobre a cama. Não estava ali antes, e pelo barulho do chuveiro Severus quem havia lhe posto ali. Ele lhe dava liberdade e escolha, tudo o que James poderia precisar, mas ele também queria amor e isso era pedir demais ao frio Sonserino. Perdido em sua vingança, ele não poderia amar ninguém. Estava solitário mas não o deixava ajudar, nunca lhe dizia nada sobre o assunto e o afastava desde aquele fatídico dia no Três Vassouras.

Ele parara de gostar dele? Era isso? Não o queria mais?

Barulhos estranhos vieram do banheiro. Ruídos que se assemelhavam a selvageria animal, sua marca doeu e a preocupação ocupou seu ser. O que estava acontecendo com seu marido, com Severus? Bateu suavemente na porta e os ruídos pararam por dois segundos antes da porta ser aberta com violência. Os olhos negros o fitaram com ódio e James recuou, caindo na cama sem querer e lhe observando se aproximar e prender seu corpo com o seu, maior e mais forte, lhe causando uma onda de pânico.

- S-Severus...? - perguntou em dúvida. - O que está acontecen...

- Então é isso? - ele lhe perguntou com a voz baixa e rouca. Não estava gritando mas era essa a impressão que o menor tinha. - Quer tanto assim quebrar essa droga de vínculo?!? Quer sua liberdade de volta?!?

James engasgou. Os feromônios furiosos o cercaram e ele tremeu. Seus pensamentos voltaram a sua filha e ele cobriu o ventre, temeroso. - E-E-Eu... Severus... Nossa filha...

- É só por ela que estou aqui. - ele rosnou. - Porque ela não é como você! Você quer ter liberdade? Quer ficar livre de um relacionamento sem amor? Ótimo! Está livre!

E se levantou, trocando de roupa rapidamente e saindo do quarto. Segundos depois ouviu a porta da sala bater e então a realização caiu sobre ele, o fazendo se encolher e abraçar seus joelhos, ainda deitado na cama, começando a chorar copiosamente. Seu coração pulsava tão forte que ele tremia, seu peito estava dolorido e ele tinha a sensação de estar sufocando.

Não viu a porta se abrir com a entrada de Sirius e Remus, já que o Black sentira a raiva de Severus por meio da marca em seu pulso, tinha medo dele machucar seu irmãozinho, mas Remus lhe garantiu, assim que entraram, que James estava fisicamente bem. Demorou, mais o ômega se acalmou o suficiente para contar o que acontecera, tendo o carinho de Sirius em sua nuca e sentindo seu cheiro de terra molhada. Remus, no entanto, o olhava com irritação nos olhos.

- Sério, James, você é um idiota. - sua fala atraiu a atenção completa dos dois melhores amigos, que o olhavam completamente chocados. - Severus está passando o tempo todo com você, ele quase não fala com os melhores amigos dele e você quer mais emoção? Severus protegeu você, aquela cicatriz em seu rosto prova isso. Ele mantém Marion longe por sua causa, ele está dedicando sua vida ao seu bem-estar e você acha isso sem graça?

- Ele faz isso tudo por ela. - indicou seu estômago plano.

- Sim, ele faz. Ele te mantém bem e feliz para que ela esteja bem e feliz. - concordou Remus. - Mas ele pode muito bem te maltratar, pode te deixar tão mal que você poderia entrar em uma depressão gravíssima, e ainda assim cuidar da bebê. Ele pode cuidar da sua alimentação e realizar seus estranhos desejos de grávido. Pode cuidar dela, mas te tratar como algo repugnante.

Remus se ergueu, o olhar âmbar duro parecendo duas barras de ouro em seu rosto pálido e cansado. Ele não olhava para nada além de James, o encarando nos olhos com seriedade. - Ele pode te odiar e cuidar dela como seu mais precioso tesouro, James. Mas acho bom você aproveitar bem a presença dele, pois você sabe que ele vai morrer assim que ela nascer.

- Ele prometeu que ficaria comigo pra sempre. - soluçou o ômega com os olhos cheios de lágrimas.

- Ele pode te prometer o céu, mas ele nunca vai cumprir de verdade, vai? - o mais alto arqueou a sobrancelha. - Não é possível dar o céu a alguém, assim como um mero mortal não pode te prometer o infinito. Severus jurou te proteger, e eu sinceramente não duvido que ele vá, mas seu tempo entre nós é curto. Não gaste esse tempo com discussões inúteis, isso não vai levar vocês a lugar nenhum.

E, dando um último beijo carinhoso na testa do melhor amigo, Remus deixou a sala.

A Rosa Dourada - SnamesOnde histórias criam vida. Descubra agora