26⛱

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A primeira coisa que fez o sorriso da mãe morrer foi nossas mãos entrelaçadas e só depois a presença de JJ. Mas não me deixei abalar por isso, e ergui minha cabeça enfrentando toda a rejeição que se formava nos olhos dela.

- fique a vontade - foi tudo o que ela disse pra ele com um sorriso forçado antes de voltar a se enfiar na cozinha.

- obrigado - ele respondeu com um movimento breve.

- vem cá - o puxei pra sala, indo até nosso aquário. Queria quebrar aquele gelo que se formava no ar.

Assim JJ reconheceu os peixes, abriu um sorriso surpreso e se aproximou do vidro.

- você criou eles mesmo? Achei que fosse só brincadeira.

- achou mesmo que eu iria jogar eles fora? - rio fraco.

- esse dia foi louco - ele se virou pra mim com uma nostalgia - o John B...

- nem me lembre disso - o interrompo - nunca mais pesco com ele bêbado.

JJ riu também se lembrando do desastre daquele dia. 

- nosso convidado de honra! - meu pai apareceu na sala, me assustando - bem vindo, rapaz.

Acabei me soltando de JJ, que também foi pego surpresa. Era visível o esforço que meu pai fazia pra não perder a calma só de olhar pro garoto ao meu lado. 

JJ acenou com a cabeça.

- como vai? - meu pai estendeu a mão pra ele, que a apertou.

- bem.

- acredito que deva estar faminto - meu pai brincou e eu lançei um olhar nada legal pra ele - já já a comida vai ser servida, pode ficar a vontade.

- valeu.

- tomara que goste de carne assada - meu pai voltou a comentar, de uma maneira totalmente forçada e percebi JJ ficar um pouco desconfortável.

Me aproximei dele e me abraçei ao seu braço, fazendo meu pai contrair o maxilar.

- ele gosta sim - respondi, acariciando sua pele com meu polegar.

- quando estiver pronto, eu venho chamar vocês então - meu pai disse forçando um sorriso e fuzilando o loiro com o olhar antes de sair - lincença.

Deixei que ele sumisse, podendo sentir JJ relaxar mais com sua ausencia e apertar sua mão sobre a minha, ainda no seu braço. Sorri fraco e o beijei na bochecha.

- relaxa - sussurrei proximo do seu ouvido.

Me afastei e alisei sua blusa um pouco amarrotada.

- tá afim de ver meu ukulele? - perguntei de repente, o fazendo rir.

- que tipo de pergunta é essa?

- se você prefere ficar aqui com meus pais nos atormentando, tudo bem...

- eu adoraria ver seu ukulele - ele me interrompe com um sorriso perfeito e eu toco em seu nariz, satisfeita com a resposta.

- ótima escolha.

***

Já fazia 17 minutos que comíamos em silêncio. Sim, eu estava contando cada minuto daquela tortura. Meus pais ficavam trocando olhando um pro outro como se estivessem decidindo quem iria puxar assunto primeiro.

- e então, JJ - meu pai começou com seu humor forçado - já deve saber da novidade a essa altura do campeonato.

- já to sabendo sim.

- e você vai...

- vou - ele interrompeu, atraindo a atenção da minha mãe.

- e você tá trabalhando com alguma coisa no momento? - meu pai perguntou e JJ assentiu em silencio - com o que?

- pro senhor Cameron.

Meu pai confirmou em silêncio, como se estivesse juntando coragem pra falar mais uma coisa.

- eu também to trabalhando. Acho que a mamãe já deve ter falado - comento, largando o garfo.

- garçonete, né? - ele disse com certo incômodo - se quisesse trabalhar assim, era só pedir pra gente. Nós temos vaga pra você no restaurante.

- bem melhor que aquele lugar caindo aos pedaços... - minha mãe resmungou.

Fiquei em silêncio. Não valia a pena iniciar uma briga por causa disso.

- já foram ao médico? - meu pai voltou a perguntar.

- to 2 meses ainda. Não dá pra ver nada - respondi afiada.

- certo... - ele bufou e segurou mais fime no copo - já planejaram onde vão criar a criança? Como vão cuidar dela? Creche? Alguma coisa?

Ficamos em silêncio.

- orfanato? - ele provocou.

- chega pai - corto ele - nós não pensamos em nada.

Minha riu nasalmente, balançando a cabeça com desdém.

- sabe ao menos trocar fralda? - ela zombou e eu a fuzilei com o olhar pra que ela parasse com isso - já vejo que não... - ela revira os olhos pra mim - e você, garoto? Sabe?

- não - JJ disse baixo, se segurando pra não explodir ali.

- que ótimo... - ela resmunga e meu pai toca sua mão, como que se lembrasse ela de que não era pra causar briga - bem, de qualquer forma, queremos que saibam que vamos bancar com as dispesas pra vocês se planejarem melhor.

- não precisamos da sua ajuda - tento não soar grossa.

- o salário seu deve ser muito bom pra negar isso - ela falou.

- nós vamos dar um jeito, mãe - tentei amenizar as coisas - queremos fazer isso do nosso jeito.

- mas muito obrigado pela ajuda - JJ completou.

Meus pais se olharam mais uma vez.

- olha, kiara - meu pai começou num tom de voz mais ameno - eu sei que você ainda está brava com a gente, mas também fazemos parte disso. Você é nossa filha e como seus pais, é nosso dever de ajudar nesse processo.

Me afundei na cadeira, cruzando os braços.

- vocês dois podem continuar trabalhando se quiserem - ele explicou - mas nos deixe ao menos ajudar vocês com isso. Nós já passamos por esse processo e podemos torná-lo menos assustador do que parece ser.

- se não quiserem criar a criança aqui, podem arrumar um lugar melhor ficar - minha mãe completou - mas por enquanto, nos deixe ajudar, filha.

Olhei pra JJ, que também pensava sobre a proposta dos dois. Ele me lançou um olhar pra que eu tomasse a decisão final, não se importando com a minha escolha.

Seja qual for ela, JJ estaria comigo e só isso importava.

- filha... - minha mãe me olhou com sensibilidade - não deixe essa oportunidade passar.

Pensei um pouco mais e acabei cedendo depois de alguns instantes.

- mas eu vou continuar trabalhando na lanchonete e vou continuar juntando meu próprio dinheiro - disse firme - quero que parte disso seja por minha causa também. Quero poder pagar minhas próprias consultas e minhas próprias despesas.

- tudo bem - ela confirma e sorri mais aliviada pra mim, voltando a comer.

Meu pai também assentiu confiante e voltou a tomar seu vinho, já bem maia tranquilo.

Por baixo da mesa sinto a mão de JJ pousar sobre meu joelho, como se estivesse orgulhoso da minha decisão. Sorri discretamente e segurei na nela, a apertando e roubando do loiro um sorriso idiota.





JJ and Kiara//outer banks⛱Onde histórias criam vida. Descubra agora