Duas casas, iguais em dignidade na formosa Verona vos dirão.

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Taehyung definitivamente odiava participar das atividades escolares, mas a ideia de ter os holofotes sobre si ao menos uma vez em sua carreira escolar era legal demais para deixar passar. O negócio era o seguinte: o último baile do ano, e o mais esperado também, era o de formatura do terceiro colegial e o respeitadíssimo – porém pirado – do professor de Artes teve a brilhante ideia de fazer uma peça de teatro de um romance água com açúcar e fazer com que, automaticamente, o príncipe da peça também fosse o príncipe do baile. Ou seja, era só ele decorar algumas falas idiotas do tal Romeu e BOOM se tornaria o dono da porra toda. Contudo, Taehyung não esperava que:

a) O tal Romeu fosse chato pra chuchu.

b) A menina que seria a Julieta fosse o ser mais detestável daquela escola.

c) O professor exigisse 101% de química entre os atores principais.

As frases do Romeu davam um nó tremendo em sua cabeça, por quê o cara simplesmente não fala que gosta dela? pensou, ninguém entende essas baboseiras de tocha pendente, face luzente... E o que diabos seria uma música langorosa? entretanto, o pior de tudo não era decorar falas de palavras estranhas, e sim, ter que contracenar com a Sun Hee. E mais: ainda tinha que ter um química romântica com a garota, senão, seria chutado sem dó nem piedade como o garoto do teste 13, que inclusive atuou bem, foi neste exato momento.

Sobre Sun Hee... não era ruim de aparência – muito pelo contrário, ela era 11/10 – se fossemos contar somente a beleza exterior porque, na verdade, ela não tinha o demônio no corpo, ela era o próprio demônio. Que Deus a elimine. Taehyung sentia arrepios só de olhar para ela e as histórias que ouviu nos corredores alimentava mais a fama da garota.

Sun Hee era a Regina George daquela instituição e ninguém discordava de tal verdade.

Finalmente o vigésimo primeiro concorrente ia embora – o fulano até colocou o capuz do moletom, de tão triste que ficou – e Taehyung seguiu pisando firme, embora os passos fossem errantes, em direção ao palco. Havia treinado por horas e se não fosse selecionado por talento, seria por simpatia porque tinha como recusar aquele seu sorrisinho quadrado?

— Vigésimo segundo Romeu Montecchio, Kim Taehyung, terceiro ano 'D' — anunciou — vejo que você e nossa linda Heenie são da mesma classe, espero poder ver uma não boa, e sim ótima apresentação do ato dois, cena dois. — Taehyung assentiu educado, mas fazia um grande esforço para não rir: o tom de voz rígido automaticamente se fez suave quando este pronunciou o apelido de sua colega.

Foi um pesadelo. Taehyung não gaguejou, porém, esqueceu várias partes, soou como um robô em algumas e o ápice de tudo foi quando ao invés de chamar Julieta de ''anjo brilhante'' saiu um ''bico errante''. Foi nessa hora que o professor surtou e começou a chorar. Taehyung pergunta o que que teria feito de errado.

— Professor, acho que devemos dar uma chance.

— Sun Hee? Mas por que? Ele foi... ele f-

— Deplorável, eu sei. Mas o rosto dele é acima dos outros garotos e olha esse — Taehyung engoliu em seco, ao ter suas bochechas apertadas levemente — sorrisinho simpático.

— E quanto a química? Quanto a química, huh? Uma samambaia se sairia melhor de Romeu do que ele. — Taehyung queria socar no professor, não estava ali para ser humilhado.

— Eu cuidarei disso, prometo. Então já temos o Romeu? — arriscou a garota.

O adulto bufou, claramente discordando da aluna. Mas se a Julieta mais brilhante dos testes pedia aquele rapaz, quem era ele para discordar? Ele estava dentro do cast, é isso.

Taehyung pulava de alegria, e não é que simpatia ajudava? Depois de muitos anos tentando e quase conseguindo alcançar seu objetivo, finalmente seria o príncipe do baile, e o melhor: ninguém mudaria isso porque o papel de Romeu era unicamente seu. Iria comemorar a notícia com seus amigos depois, agora, estava com uma pulga atrás da orelha; não conseguia ver o porque da Sun Hee ter o ajudado, ela aprontava algo. Não podemos acusar as pessoas assim, pensou com seus botões, mas bondade não a representa nem no nome.

Eu não gosto da Julieta | TAEGIOnde histórias criam vida. Descubra agora