Olha pra mim

A Mensagem

Sabe aquela estranha sensação de que vai dar tudo errado? Era assim que eu estava me sentindo depois que entrei para aula e quinze minutos depois eu recebi uma mensagem de um número desconhecido. Até ai "tudo bem", se não tivéssemos na aula da pior professora e eu esqueci de colocar o celular no modo silencioso e agora cá estou eu na sala da direção com um diretor me olhando com o cenho franzido.

- Não posso negar que estou surpreso com sua presença na minha sala que não seja por motivos acadêmicos Sarah. - Ajeitando a gravata vermelha com bolinhas pretas e brancas ele sorri sem graça.

O Diretor Will é um amor de pessoa comigo, sempre foi, mas é de se esperar esse tratamento todo pois eu sempre trago troféus para seu colégio que leva o mérito de ter os melhores alunos.

- Sei que é estranho, mas o motivo não é algo de outro mundo, apenas esqueci de colocar o celular no modo silencioso e a professora Glória me mandou para cá porque recebi uma mensagem. - Disse sentindo-me cansada desse besteira sem sentido.

Soltando o ar de seus pulmões o Diretor Will ajeitou-se em sua cadeira e abriu um sorriso.

- Realmente a Professora Glória é conhecida por ser muito extremista, mas você conhece as regras, vai ter que ir para a detenção. - Ele olhou para a porta atrás de mim e apontando para ela me dando a deixa de que era minha hora de ir. - Desculpe.

Isso era de se esperar, Professora Glória e o Diretor Will pensam que ninguém sabe mas todo o Colégio sabe que eles tem um relacionamento e ela é mandona de mais, ele não desacataria uma ordem vinda dela.

- Tudo bem. - Respondi frustrada sabendo que não estava nada bem.

EU NUNCA TINHA IDO PARA A DETENÇÃO.

Isso é uma injustiça e eu odeio quem me mandou essa droga de mensagem que inclusive eu nem li ainda.

No caminho da detenção mexi no celular para avisar as meninas que não iria voltar com elas e enfim olhar a mensagem.

"Querer se socializar é o primeiro passo para uma vida cheia de aventuras".

Que droga de mensagem é essa? Só pode ser brincadeira.

(...)

Entrando na detenção dei de cara com o Eric, o garoto mais nojento que conheci, uma vez a uns três anos atrás ele vomitou de propósito nas provas só para ser adiada, ele só não contava que a professora tinha mais cópias na sala dos professores. Sentado ao lado de Eric tinha o André que não queria nada com a vida, ele era o aluno mais antigo que tinha no colégio, já repetiu de ano três vezes, ninguém mexe com ele com medo de levar um soco a cara. Para completar a turma da detenção estava Daniel, o cara mais babaca que tive o desprazer de conhecer, sempre arrogante e indisciplinado ele sempre faz de tudo para chamar atenção de forma negativa, as vezes penso que ele se acha o bad boy mas pra mim ele não passa de um cara que usa da sua beleza para pegar garotas e depois descarta-las como lixo.

- Vai ficar em pé ai até que horas garota? - Hilton, o professor de geografia era o "monitor" do dia. - Vamos Sarah, sente-se.

- Ai! A certinha tá aqui. - Daniel disse ajeitando sua postura desleixada da cadeira e rindo com desdém. - O que você fez, errou um cálculo na aula? - Terminou e fez todos da sala rirem, incluindo o professor.

- Não que seja da sua conta, mas eu não fiz nada de errado, a professora Glória que é louca. - Disse sentando o mais longe possível do Eric que estava cutucando o nariz.
Que nojo!

- Ei garotinha, você não pode falar essas coisas aqui, vocês todos não podem, estão na detenção. - Hilton alertou e depois pegou o seu jornal colocando em sua frente tampando toda sua visão. - As regras são claras, se vocês não me perturbarem eu não perturbo vocês. Nada de brigas, gritos ou falarem mal dos professores, o resto tá liberado e me esqueçam. - Concluiu.

Suspirei aliviada por pelo menos poder colocar os fones de ouvido e estudar algo, não precisando ficar no tédio total. Coloquei Bubbly da Colbie Caillat. Respondi a mensagem que tinham me enviado no meio da aula.

"E quem disse que eu quero aventuras, já tenho tudo que preciso na minha vida".

Senti alguém me cutucando mas não olhei quem era, os três que estavam nessa sala eram pessoas que não queria para o meu ciclo de amizade, só que a pessoa não queria saber sobre isso e tornou a cutucar meu ombro. Tirei meus fones revirando os olhos.

- O que você quer garoto? - Falei me virando.

- Faz meu trabalho de literatura. - Daniel pediu? - Tá aqui, toma. - Estendendo uma folha de papável para mim e limitou-se a sorrir sem abrir a boca.

- E porque eu faria isso por você?

- Porque você não tem nada pra fazer aqui e eu sei que sua única diversão é fazer tarefas. - Daniel pegou uma cadeira e sentou ao meu lado e me encarou arqueando uma sobrancelha.

Isso era uma verdade que eu nem tinha como negar, era irritante como as pessoas conheciam esse meu lado sem realmente me conhecer.

- Tá, me dá isso aqui. - Puxei o papel de sua mão. - Mas nada na vida é fácil, você vai ter que fazer junto comigo. - Agora era minha vez de arquear a sobrancelha e sorrir vitoriosa.

- Que seja. - Levantando as mãos pro alto se dando por vencido ele rolou os olhos azuis para mim e eu pude sentir uma pontinha de humor em seus lábios em uma linha fina sendo segurado por seus dentes.

(...)

- Isso é realmente uma cena inédita. Como você conseguiu fazer com que Daniel estudasse na detenção? - Hilton estava andando lado a lado comigo enquanto os outros alunos vinham atrás após a detenção ter acabado.

- Não se acostume. - Daniel aumentou o tom de voz para que pudéssemos ouvir.

- Eu acho que tive uma grande ideia. - Hilton estalou os dedos e sorriu como se estivesse descoberto a cura para uma doença incurável. E assim sem mais nem menos ele apressou os passos sem se despedir e sumiu no corredor.

Eric e André passaram por mim barroando em meus ombros meus livros caírem. Me abaixei para pega-los chamando mentalmente eles dos piores nomes que conhecia.

Por mais incrível que pareça, Daniel abaixou-se e me ajudou a pegar minhas coisas.

- Se você contar para alguém sobre hoje eu faço da sua vida um inferno. - Disse Daniel me dando meu estojo de canetas e sorrindo.

Acho que falei cedo de mais.

Dando as costas ele colocou suas mãos no bolso do seu jeans velho e saiu me deixando ali sem entender o que foi isso que acabou de acontecer.

Afinal, Daniel tem ou não tem um coração?

Fiquei parada esperando os meninos não estarem mais em meu campo de visão.
Senti meu celular vibrar e me tirando dos meus pensamentos ali estava mais uma mensagem do numero desconhecido.

Desconhecido: "Ninguém tem tudo na vida, você precisa ser menos certinha e saborear o que a vida tem pra te oferecer. Posso te ajudar com isso".

Eu: "Não preciso da ajuda de ninguém".

Desconhecido: "Calma estressadinha".

Eu: "Você me estressou me fazendo ir para a detenção hoje".

Desconhecido: "Eu sei e me sinto lisonjeado a ter te proporcionado esse momento único na sua vida".

Eu: "Eu te odeio, sério".

Desconhecido: "Vou te chamar de estressadinha no lugar de certinha pelo jeito combina mais com você kkkk".

Bufei de raiva, que cara chato.

Algo matutava na minha cabeça, como ele soube que eu fui parar na detenção hoje?