conserta o que tu fez

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Para o amor da minha vida,
Declaro aqui, em letras garrafais e mal feitas, que eu queria muitas coisas, porém, dentre todas, a mais importante seria: eu queria te esquecer.

Eu queria te esquecer; como esqueci aquela banda dos meus 13 anos. Aquela música repetida no Spotify de 2016 e os tempos ruins. Não, não é por não te amar mais. Pelo contrário, é justamente por isso que eu gostaria de reprogramar meu cérebro inteiro apenas para te esquecer, como eu esqueci qual era o tom de azul que irradiava da sua voz e como era ser feliz longe de você.
Porque eu já não me lembro como era não me lembrar de você.
Eu queria te esquecer e me segurei forte na ideia de que, um dia, eu conseguiria te esquecer.
Eu fiquei ouvindo fogos de artifício por muito tempo, assim que eu sei dizer quando eles têm som, e, portanto, posso dizer: é doloroso não escutar nada além da sua voz. Porque sim, você é igual os fogos de ano novo que eu via na praia, bela, intocável, e distante. Distante demais para eu lembrar, perto demais para sentir saudades. E, com o passar do tempo, como era de se esperar, desapareceu seu som.
Agora, só os de outros litorais escutam seus barulhos. E eu sinto falta, mesmo que as pessoas odeiem. Sinto falta porque o seu barulho era como melodia, um rock de época, que fazia meu coração acender nos dias escuros.
É que eu sinto falta de como seus olhos brilham, porque você diz que os meus iluminam e eu teimo que os seus incendeiam. Eles abrem uma chama em mim que nunca foi vista e eu só penso em como vou apagar, porque dói. Dói lembrar. Eu odeio gastar dinheiro em vão, mas eu pagaria pra te esquecer. Mesmo sabendo que eu voltaria a lembrar, porque eu sempre volto a você, eu sempre retorno ao ponto 0 quando você precisa. Porque é isso que amigas fazem, mas é ridículo nos citarmos como amigas quando eu estou ridiculamente apaixonada por você. E todos sabem, eu sei, você sabe, minha mãe sabe, e ela nunca soube de nenhum amor meu. Mas ela me pegou chorando naquele dia que você disse que amava outra pessoa e eu não consegui dizer nada além de que era por você. Porque ela sabe que era. Ela sempre soube de tudo. Eu me pergunto se a sua sabe, se meu pai sabe. Eu até tentei enganar a eles, mas eles sabem.
Eu acho que eles também queriam te esquecer.
Eu queria te esquecer, e esquecer junto as vezes que comemos brigadeiro juntas, na sua cama, que eu chorei no seu colo, até aquela vez que eu implorei e supliquei, porra, como eu queria esquecer aquela vez. Eu preferia viver em um talvez.
Mas meu melhor amigo disse que era melhor o não, sinto que é porque até ele quer te esquecer. É que, pra ele, lembrar de você é lembrar daquela vez que chorei no banheiro porque você estava com outro, ou de quando fui obrigada a te responder feliz, quando na verdade estava aos prantos, ou de todas as vezes que eu disse a ele que te amava.
E ele sempre me disse o mesmo.
Mas eu não posso.
Não consigo.
Não isso.
Não te esquecer.
E já que eu não posso te esquecer, eu fico presa a lembranças. Eu fico presa ao despencar de uma lágrima, da ausência contínua, do não inabalável. Eu continuo presa a alguma coisa, que ninguém sabe o que é, mas eu sei. Porque é invisível a todos, menos a mim. Deus, como eu queria te esquecer.
Mas Deus sabe que eu lembro de você tanto quanto lembro de respirar. E que, por mais que eu queira parar de respirar, eu continuaria respirando.
É assim com você.
Eu queria te esquecer.
Quer saber, eu desisto.
Eu não vou te esquecer.
Mas eu assino aqui,
Que eu queria.
(eu queria te esquecer)

Eu queria te esquecer [CONTO]Onde histórias criam vida. Descubra agora