Elisa nunca soube o motivo, mas não lembrou-se de Damião durante a semana que passou após o encontro dos dois.
Uma que ela só conseguiu ver a mãe quando esta chegava, exausta no finalzinho da tarde. Outro foi a tensão que surgiu na rua onde moravam. Tensão essa oriunda de investigações policiais.
Um casal de irmãos havia desaparecido próximo a escola onde a mãe de Elisa trabalhava.
-Tem sido um inferno lá - Dizia Letícia a filha na hora do jantar –Todo dia estão interrogando professores. Como parece que esse psicopata, ou tarado ou a desgraça que ele pretende ser, tem preferência por crianças e adolescentes, parece que as autoridades locais vão colocar escoltas pelos portões e ao redor do bairro. Nem preciso dizer o quão isso é tenso quando se trata de escolas de bairro-
Elisa só pode concordar.
Outra coisa que varreu o suposto amigo de sua família de seus pensamentos foi que, naquela mesma semana, ela teve outro pesadelo. Não soube por que, mas esse foi um tanto quanto mais agressivo que o anterior. Ela acordou aos gritos, foi precisa que Letícia ficasse ao seu lado até ela conseguir adormecer novamente.
O que justificou seu mau-humor e as olheiras na segunda feira de manhã.
-Minha filha, você tá bem? - Perguntou o velho Angenor ao vê-la, pálida e emburrada sentada em seu banquinho de espera habitual.
-Estou- Disse ela sem muito ânimo –Só dormi mal ontem Seu Angenor-
-Ah, minha sobrinha teve isso esses dias, ela...-
"Oh Deus" Pensou Elisa. Não que não gostasse de ouvir o velho e simpático zelador, mas nos dias em que acordava naquele estado e o mesmo começava a falar da família, era particularmente irritante, demorado e repetitivo.
-...E aí você toma esse chazinho antes de dormir. É tiro e queda-
-Vou fazer isso. Obrigado Seu Angenor- Disse Elisa, percebendo que não tinha prestado atenção em uma palavra que o homem lhe dissera.
-Pois é, minha filha. Eu vou voltar pro meu serviço. Você fica bem aí né? -
Elisa aquiesceu. Suspirou aliviada quando o velho se afastou.
Uma etapa do dia superada. Faltava o resto.
O que foi um tanto quanto mais complicado.
-Elisa! - O chamado do professor de Ciências a arrancou de um estado de semi-sonolência em que um conjunto de imagens e rostos difusos apareciam em sua frente, em uma dança incongruente.
-Sim- Respondeu ela, zonza pelo despertar abrupto.
-Eu estava falando sobre o Complexo de Golgi e suas funções. Você poderia me dizer quais são? -
-Eu...- Ela olhou para baixo, ver se conseguia identificar uma pista no seu livro.
-Mas atenção jovem- Disse ele, apesar da suavidade, o quê de censura em sua voz era bastante perceptível. Alguns risinhos ecoaram, não baixos o suficiente para que Elisa não os pudesse ouvir.
-Você está doente? - Perguntou Rosália ao vê-la sentada em um dos bancos do pátio interno. Um cubículo a céu aberto, tendo uma grande árvore no meio e quatro banquinhos em suas extremidades. O pátio interno era ladeado pelo corredor da diretoria e o das salas de aula de séries mais baixas que a de Elisa.
-Não dormi bem noite passada- Disse Elisa esfregando os olhos.
-Aqueles pesadelos de novo? - Perguntou Rosália ajeitando os cabelos loiros e crespos que ela, costumeiramente, trazia amarrados em um rabo de cavalo.
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O Instituto Vitória Régia: Dobras e Portais
FantastikElisa Bernardes é uma moça, orfã de pai que passou por um trauma. O qual a afeta até os dias atuais. O ressurgimento de uma pessoa do passado pode acabar sendo o volatizador necessário para que Elisa entre em contato com um legado o qual ela pensou...