O pesadelo com rosto de pássaro

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Pálida, a lua se erguia no céu, acima da terrível cena que estava por acontecer.

Sonia, de apenas dez anos, corria, em desespero. Algo a perseguia.

Lembranças iam e voltavam da sua mente em flashes. Em um momento, estava sendo colocada para dormir. No outro, sua mãe jazia morta no chão.

Sonia não conhecera o pai. Esta havia partido quando ela não contava mais de dois anos de vida. Toda a sua vida só tivera sua mãe. Para quem Sonia era o centro de todo o universo.

Foram morar naquela pequena ruela fazia um ano ou pouco mais que isso. A mãe de Sonia trabalhava em uma humilde floricultura. Os ganhos eram ingratos mas dava para se viver com o mínimo de conforto.

Sonia conseguia ir à escola, tinha alguns bons amigos. Tudo assegurado pelo trabalho duro de sua pobre mãe.

A qual agora jazia, fria e imóvel sobre o chão da sala de ambas.

Sonia corria desesperada. Acima de sua cabeça, um grito, um som de bestial que lembrava o guinchar de um pássaro.

­-Sonia...- Ela também conseguia ouvir alguém que a chamava. Lágrimas corriam por seus olhos. Mas ela não pararia, não poderia parar.

As ruas pelas quais passava estavam anormalmente quietas, com os ataques e desaparecimentos, era muito mais difícil ver alguém a janela, ou sentado na porta tomando um gole de café ou falando de banalidades como o jornal e a novela.

Sonia não conseguia gritar. Seu coração batia, tão forte e depressa que parecia querer sair por sua garganta.

Ela mal vira seu perseguidor, mal ouvira sua voz. Mas ela sabia, ou ao menos pensava saber, o motivo de ele a estar perseguindo.

Fora o segredo. Dela e de sua mãe.

Havia começado há alguns meses atrás, quando Sonia começara a ver as sombras dançando. Assustara-se no inicio, mas logo juntou-se a dança com elas.

"Do que você está falando ?" Perguntou sua mãe na manhã seguinte, quando Sonia lhe contou o ocorrido.

"As sombras dançam comigo mamãe. Eu lhe mostro"

E mostrou, as sombras alongadas e negras no quarto se dobravam a vontade de sua menina. Era sinistro, mas ao mesmo tempo, belo.

"Não conte isso a ninguém" Pediu sua mãe.

E Sonia obedeceu. Mas, nem por isso, deixou de realizar sua brincadeira. A noite, no escuro de seu quartinho. Chamava suas amigas, as sombras, para dançar. Sonia jamais chegou, ou chegaria a saber, se era ela quem acompanhava as sombras ou se era seguida pelas mesmas.

Outro guincho do demoníaco perseguidor. Sonia tropeçou. Sentiu o joelho arder, mas seu pavor era maior que tudo.

-Pare de fugir criança- Ela ouviu a voz, mansa e aveludada, como a brisa da noite a chama-la. Mas não cessou sua fuga. Pôs-se de pé novamente, e voltou a correr. O ferimento em seu joelho doía. E as lágrimas que agora corriam por seu rosto não eram, agora, apenas meras lágrimas de pavor.

Quebrou em uma entrada a esquerda. Um suspiro de alívio preencheu seus pulmões. Chegava a porta de um pequeno boteco, o qual já estava perto de fechar.

-Em nome de Jesus menina!- Esbravejou o dono da casa, soltando a cadeira que segurava no chão, com um estrépido.

Entre lágrimas e soluços Sonia tentou contar o ocorrido. Apontava freneticamente na direção de sua casa.

-Minha filha, se acalme! Vamos chamar a polícia, mas o que foi que aconteceu ?!-

Com certa dificuldade, motivada pelo medo, obviamente, Sonia conseguiu levar o dono do bar, um senhor baixinho, gorducho, careca e queimado de sol. Até sua casa.

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⏰ Última atualização: May 27, 2020 ⏰

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