Manhãs

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"Eu tenho o mundo inteiro pra salvar
E pensar em você é Kriptonita
Você é tão bonita de se admirar
Tão bonita"

Ludov, Kriptonita


O despertador estava ajustado pontualmente para soar bem cedinho, mas Ochako já estava com os olhos bem abertos quando ouviu o som agudo e contínuo.

Logo ao desligar o ofensivo aparelho barulhento, ela sentiu uma mão em sua cintura, o que a fez sorrir involuntariamente. Às vezes, quando começava a pensar em coisas ruins, bastava lembrar que podia acordar ao lado daquela bela garota e tudo parecia mais suave, mesmo sob as circunstâncias adversas do relacionamento delas.

Quais circunstâncias? Bem, a começar pelo fato de que a garota em questão era Himiko Toga, uma das faces mais procuradas, tanto pela polícia, quanto pelos heróis, por ser um dos pilares da quadrilha de vilões mais perigosa do país.

Ochako já havia feito sua paz com essa ideia há muito tempo. A faísca entre as duas havia acendido desde a primeira vez que elas se encontraram, anos atrás, no fatídico dia em que a Liga decidiu sequestrar um de seus colegas de classe.

A garota de bochechas rosadas lutou muito contra os sentimentos confusos que começou a desenvolver, quando a loira a procurou — bem, praticamente a perseguiu, por diversos lugares, até ter uma chance de conversar com ela —, e não foi exatamente fácil encontrar aquela paz de espírito que agora possuía, e assumir que de fato estava apaixonada por uma vilã.

As duas encontraram uma trégua, prometeram jamais misturar suas vidas pessoais e seus sentimentos com o que faziam, ignorando o fato de que as duas estavam em polares completamente opostos, com ideais que chocavam-se fortemente.

Ochako só podia esperar que nunca chegasse o momento em que precisaria escolher entre o heroísmo e os sentimentos que tinha por Himiko — ela tinha uma vaga ideia de qual escolheria, sem nem pestanejar, mas preferia pensar que este dia jamais chegaria.

Preferia pensar que um dia haveria um acordo de paz entre heróis e vilões, onde todos poderiam coexistir sem a necessidade de travar batalhas e mais batalhas, nem derramar mais sangue por causa de opiniões divergentes, e ela então poderia finalmente amar a sua garota publicamente, sem que tivessem que manter-se confinadas nas paredes daquele apartamento.

Era um sonho agradável para alimentar, Ochako pensava.

Ela sorriu, ao sentir a namorada abraçá-la mais forte, deixando beijinhos em seu pescoço que faziam os cabelos de sua nuca arrepiarem levemente com a carícia. Ochako não precisava olhar para ela para saber que estava com aquele sorriso sapeca no rosto.

— Alguém aqui precisava levantar, sabe? — Dizia a morena, virando-se para ficar de frente para Himiko, deixando um beijo demorado em sua testa. Ochako ainda não tinha superado o quanto aquela menina era bonita, com seus cabelos desfeitos de seus coques laterais e sem nenhuma maquiagem, vestindo uma de suas camisetas. Simplesmente perfeita.

— Será mesmo que você precisa, Ocha? — Cerrava seus olhos daquele jeito que fazia a outra não querer mais nada se não beijá-la até perder todo o ar que havia em seus pulmões.

Himiko colocou as duas mãos no rosto de Ochako, acariciando-a com as pontas dos dedos, então se inclinou para beijá-la suavemente nos lábios, mas logo partindo para outras partes de seu rosto, preenchendo cada espacinho com pequenos selinhos, enquanto ria despreocupada.

Hime-chan — sussurrou o apelido carinhoso, trazendo as mãos para o rosto da loira e a puxando para que pudesse beijá-la, realmente beijá-la, degustando seus lábios com calma.

Himiko gostava de deixar leves mordidinhas em seus lábios quando beijava, algo que Ochako nunca admitiu em voz alta, mas amava.

— Eu sei, eu sei — ela fez um bico quando as duas se separaram —, você tem que ir lá salvar as pessoas e todas essas outras coisas que você deve fazer no seu trabalho de heroína.

— "Todas essas coisas" inclui uma infinitude de papeladas chatas que eu definitivamente não me sinto empolgada em fazer — ela própria fez um bico, que logo se desfez em um sorriso ao ouvir a risada de Himiko.

— Bem, de qualquer forma, você precisa ir, como vai se tornar a número um desse jeito? — Ochako sentiu um cutucão em sua costela e logo estava sendo levemente empurrada da cama. — Eu ainda quero te ver lá no topo, fazendo o Bakugou comer poeira, e o Deku também!

— Ora, ora, mas não era a senhorita que tinha, tipo, uma super queda pelo Deku? — Provocou, porque as duas também tinham resolvido isso já há muito tempo e agora era confortável o bastante para que pudessem brincar sobre.

— Haha, engraçadinha — Himiko virou os olhos, mas ainda estava sorrindo —, tem certeza que não está falando de você mesma? — Provocou de volta, seu sorriso tornando-se um pouco mais maléfico ao fazê-lo.

— Ugh, por que você tem que sempre me lembrar disso? — Sentou-se na cama, cobrindo o rosto com as duas mãos, sentindo suas bochechas esquentarem de vergonha — Eu estava confusa naquela época, ok? Aí você apareceu e foi game over para ele, de qualquer forma — arrumou uma mecha do cabelo atrás da orelha e se inclinou, deixando mais um beijinho nos lábios da namorada.

— Que sorte a minha! — Concordou feliz. — Agora vá tomar o seu banho — disse, também empurrando as cobertas de cima de si para levantar-se —, eu vou preparar o nosso café, também tenho alguns assuntos para resolver hoje.

Ochako não perguntou que tipo de assuntos ela precisava resolver, mas tinha uma ideia do que poderia ser.

Logo após o banho, finalmente caminhou para a cozinha, já vestida em seu traje heróico. Himiko debruçou-se sobre a ilha, dando uma boa checada nela dos pés à cabeça, com uma expressão contente no rosto.

— Sabe, você fica bem gostosa nessa roupa — comentou casualmente, fazendo Ochako rir, enquanto espalhava um pouco de geléia em uma torrada.

— Você acha mesmo? — Mordeu o alimento, sem se importar em lambuzar a boca, vendo Himiko encher sua xícara favorita e colocar a quantidade exata de torrões de açúcar que ela gostava em seu café, sorrindo satisfeita quando viu a aprovação no rosto da morena.

— Acho, mas isso também é um problema, sabe — sua expressão tornou-se um pouco séria por um instante —, pois faz com que eu fique morrendo de ciúmes — ela lambeu a faca com geléia, mas não havia nada de perigoso ou assustador em sua expressão ou em seu gesto, era apenas mais uma provocação que há muito tempo a outra já estava acostumada.

Ochako riu, com a cabeça levemente inclinada. Depois que as duas terminaram de tomar café, Himiko tomou seu banho, e enquanto se arrumava, as duas conversavam sobre trivialidades, fazendo piadas, a morena a ajudava a fazer seu penteado característico, sorrindo largamente e beijando a bochecha rosada da loira.

Nesses momentos, elas esqueciam completamente quem eram ou o que faziam, eram apenas as duas ali, vivendo uma vida perfeitamente doméstica, que ninguém jamais acreditaria.

Kriptonita - bnha | Toga x UrarakaOnde histórias criam vida. Descubra agora