Capítulo XXI - Propósito na Véspera

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Uma imensidão dourada-escura povoada por incontáveis pontos incandescentes se abria diante dos olhos de Ji Min, e o rapaz levou alguns instantes para se dar conta de que eram estrelas. Estava olhando para o céu de uma clara noite de verão, seu favor emprestava um tom áureo ao mundo.

O vento fazia as folhas farfalharem nas árvores, cigarras e grilos celebravam com seu canto o calor. Salvo os sons da mata viva, nada alcançava seus ouvidos, e ainda não desviara seu olhar das alturas. Ainda assim, Ji Min soube que alguém se aproximava dele.

Não se preocupou, conhecia bem aquela presença.

Moveu-se no momento em que mãos desceram sobre seu corpo, puxando quem interrompia seu descanso para baixo e se colocando por cima. Esse movimento não era esperado, do contrário sequer teria conseguido se erguer do chão. Tinha certeza.

A pessoa sob seu corpo brilhava mais que as estrelas a queimarem na abóbada celeste, tudo que conseguia ver dela era um contorno brilhante. Aliás, seus braços — tudo que conseguia ver de si mesmo — também eram só brilho, e ainda mais intenso que o dela. Isso não lhe pareceu nada estranho, porém.

— Vossa-! Vossa Graça! — Era uma mulher. Já sabia disso, claro. A voz era suave, meiga. Quase inocente. O tom, muito baixo. Hesitante. Ela sempre reagia assim quando pega aprontando. — Pensei que… estivésseis em sono profundo…

— Minha mente está deveras barulhenta por causa da situação no Extremo Leste, não consigo adormecer — explicou Ji Min, e a simples menção ao assunto fez seu coração se apequenar dentro do peito. Muitas, muitas vidas em agonia. Muitas, muitas vidas em risco por causa do egoísmo de poucos. — Mas que importa isso, Ha Gi? O que pretendíeis fazer sem que eu vos visse?

— Eu… eu só…

— Não tencionáveis retirar meu manto, decerto — disse com cautela, como se achasse a própria dúvida tola. Torcia para estar enganado. Porém, Ha Gi não o respondeu. Desesperou-se, mas não levantou a voz. Não queria acordar Ago que sabia dormir a menos de um metro de ambos. — Sabeis bem que não posso ser visto, Ha Gi!

— Eu não ia olhar, juro que não ia. Tudo que eu desejava era vos tocar sem impedimentos.

— Ha Gi…

— Vós podeis ser tocado, minha unnie o faz todos os dias — continuou ela, soando machucada. Isso o oprimia. — Se eu pudesse vos sentir por um momento, só um momento, já estaria bom para mim.

— Sabeis tão bem quanto eu que isto não é verdade. Por isso, não o permito.

— Não confiais em mim?

— Com minha vida inteira, minha brava. Não fio é no sentimento que trazeis em vosso peito. Ele é intenso demais e vos mantém cativa de suas vontades, tal como o que trago aqui comigo mantém a mim. Seguro sou quando vos digo que não me bastaria apenas tocar a vós uma vez. Um milhão de toques não bastariam. Desejo que vos torneis minha, almejo me tornar vosso, e isso jamais será possível enquanto eu permanecer um instrumento de Dameolin nesta terra. — Embora se pudesse parecer, não estava sendo nem um pouco exagerado. A simples presença de Ha Gi ofuscava todos os males de seu mundo, era difícil pensar racionalmente estando tão perto dela, exatamente o que precisava fazer pelo bem de ambos. Estar tão perto e ainda assim tão longe também lhe era muito penoso, doía demais. —  Entendei o que digo, Ha Gi? Há muito que sonho convosco e seria incapaz de resistir, se a chance de me unir a vós me viesse. Portanto, sei que seríeis incapaz de vos manter de olhos cerrados ao me ter ao alcance de vossa vista.

— Mas a unnie-

Amava a obstinação de Ha Gi e, exatamente por amá-la, cortou o protesto dela.

Outlander || YoonjikookOnde histórias criam vida. Descubra agora