Muitos têm medo da morte. Mas a morte é egocêntrica e detesta sair durante a luz do dia.
Vivendo entre humanos durante séculos, o anjo responsável pela morte deseja o fim do mundo e de todo o sistema solar após ser aprisionado na Terra como punição...
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— Que droga de anjo é você?
Puxo de sua mão o saco de gelo que estava apoiado na maçã esquerda de seu rosto. O hematoma já não está mais ali e reviro os olhos ao me dar conta de que não passava de uma encenação da parte do mesmo.
— Eu nunca levei um soco. E meu corpo está fraco, ele demora um pouco para se regenerar. – ele fala a vontade, levando em consideração de que estamos em uma lanchonete movimentada. — Mas pelo jeito você vai me matar antes de eu estar cem porcento.
— Foi você que me jogou de um prédio.
— E te peguei. De nada.
— Nossa, me sinto grata pela sua gentileza. – ele sorri. — Pensando bem, acho que eu posso te socar novamente.
Icarus levanta os braços em frente ao rosto como se estivesse tentando se proteger.
Ele é patético.
Na verdade, eu sou. Patética o suficiente por ter que carregar essa cruz por trinta dias. Espero poder ter paz ao morrer e não cruzar caminho com esse imbecil novamente. E a única parte boa de tudo isso é que, por conta do nosso acordo, ele não consegue mais escutar meus pensamentos. Como eu sei disso? Me arrisquei a usar um cardápio derivado de xingamentos proibidos e ele continuou sorrindo como um paspalho.
— Sabe... – o moreno mantém um sorriso no rosto, mas esse é diferente. É sarcástico e até mesmo perverso. — Eu não preciso escutar sua mente para saber o que se passa dentro dela.
Ele apenas estica o braço e captura com os dedos longos e tatuados o copo do achocolatado quente. Ele balança o copo sutilmente, como se fosse a primeira vez a tocar em algo assim, levando o canudo aos lábios com certa desconfiança.
— E o que se passa nela?
— Ofensas e desprezo. – ele devolve o copo, apoiando as costas no banco. — E tudo bem. Melhor assim.
O anjo se levanta e gira o pescoço, como se estivesse exausto de ficar ali.
— Melhor assim?
— Se você me desprezar, será fácil esfaquear meu coração. – ele se abaixa sutilmente e pega o sobretudo preto que estava pendurado nas costas da cadeira.
Viro o rosto e o observo vestir a roupa.
Por um momento, esqueci que teria o golpear com tamanho brutalidade. Por mais que ele não seja humano — e possivelmente sobreviva —, não estou preparada por cometer essa atrocidade.
