Capítulo 8: Paparazzi

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Assim que Harry colocou os pés na sala de jantar do apartamento, foi surpreendido por Sam, que surgiu por trás da porta de entrada, em uma tentativa, diga-se de passagem bem sucedida, de pregar uma peça assustando o namorado. Harry quase deixou o almoço cair, e colocou a sacola de papel reciclado sobre a mesa para se recuperar da falta de fôlego. Dando um soco no ombro de Sam, Harry explodiu em risos e sentou-se à mesa para comer. Sam sentou-se ao seu lado e abriram os recipientes de comida tailandesa um pouco fria que o entregador tinha deixado. Enquanto devoravam os pratos, o jornal na televisão informava que o número de afetados pela doença crescia cada vez mais, e era difícil manter a esperança. Se não fosse por Sam, talvez Harry não desse conta de lidar com essa avalanche de negatividade sozinho, bendita hora que brigaram e que fez com que passassem esses dias se aproximando.

Após o almoço, Harry e Sam decidiram realizar uma sessão de fotos no apartamento, valia tudo para passar o tempo. Sam foi o primeiro a ficar por trás das câmeras, fotografando Harry. O apartamento era colorido e a decoração favorecia diversos pontos ótimos para tirar fotos, começando pela vista da paisagem natural que se tinha da varanda, cenário verdadeiramente hipnotizante, sobretudo em um dia ensolarado e com algumas nuvens brancas tingindo o céu azul no horizonte. Ainda na varanda, tiraram várias fotos em meio às plantas que Harry cultivava no pequeno espaço, incluindo cactos, suculentas, samambaias, orquídeas e lírios. A sessão de fotos improvisada ainda contou com diversas trocas de roupas, que foram ficando largadas pelo apartamento conforme se trocavam. Saindo da varanda, Harry tirou a calça jeans rasgada e a camiseta amarela que usava e trocou-as por uma calça preta, camiseta púrpura, uma jaqueta jeans com pingos de tinta colorida esparsos, uma adaptação que o próprio dono das roupas tinha feito para englobar a sua personalidade nas roupas, e uma touca de cor mostarda, cores que contrastavam com a parede da sala de estar onde tiraram as próximas fotos. A parede possuía uma divisória em diagonal de um vértice ao outro, que a separava em duas cores, rosa e cinza. O azul turquesa do sofá já contribuía muito para a composição das fotografias, e na parede ainda se tinham pendurados dois quadros grandes em molduras pretas, um deles com a imagem de um astronauta pousando na lua e o outro com a frase "Love is all you need" em lettering preto e branco. Na lavanderia, os móveis de madeira compunham um ótimo fundo para as fotos, somados à luz que entrava de forma sinuosa pela janela. Para as fotos nos quartos, Harry vestiu uma camiseta branca e um short verde esmeralda tão curto que explicitava três quartos da perna, além de um óculos redondo sem grau. O quarto tinha um papel de parede com estampa de triângulos dourados do lado esquerdo, e um cordão de luzes pendia por essa parte do cômodo. Fechando a janela para deixar o ambiente escuro e acendendo as luzes, foi onde tiraram a maioria das fotos, aproveitando o espaço fazendo todas as poses possíveis.

Quando enfim Harry se sentou para conferir as fotos, tiradas com a câmera polaroid, Sam começou a coletar as roupas deixadas ao redor do apartamento, e ao pegar a calça de moletom que Harry vestia mais cedo, a aliança de compromisso que tinha resgatado do gramado caiu no chão, fazendo um barulho que pareceu mil vezes mais alto do que realmente foi, tamanho o eco do desespero de Harry, que correu para onde Sam estava, segurando o anel.

-Harry, você me prometeu.

-Eu sei, me desculpa. Mas quando eu disse que não significava nada eu menti. É uma lembrança de quem eu sou, do meu processo de autoaceitação. É um pedaço da minha história, e eu não queria que essa parte do meu passado acabasse assim, como se fosse lixo - Confidenciou Harry.

-Como você espera que eu confie em você me escondendo uma coisa dessas? - Gritou Sam.

-Você quer mesmo falar de confiança depois do que você fez comigo? Pelo menos eu nunca te traí!

Nesse momento, o celular de Sam vibrou em cima da mesa de vidro, e Harry foi mais rápido em pegá-lo para ver do que se tratava.

-Eu sabia.

A mensagem que tinha acabado de chegar era uma sequência de corações vermelhos.

-Tony? - Leu Harry na tela do aparelho - Você nunca apagou o contato do Anthony, não é? Só mudou o nome.

-Harry...

-Não. Chega. Eu te dei uma chance e você jogou fora. Só não vou te fazer sair por aquela porta agora mesmo porque por mais que você me dê nojo - enfatizou essa última palavra - eu não quero você exposto ao vírus, mas nunca mais fale comigo ou olhe para mim, estamos entendidos? Isso, nós dois, acaba aqui.

Harry ameaçou ir para o quarto, mas Sam reteve-o segurando seu braço, fazendo certa força para que Sam soltasse-o conseguiu se desvencilhar e se trancou no quarto novamente.

Sam passou aquela noite dormindo na frente da porta trancada, remoendo todos os seus erros, e Harry, por sua vez, chorou a maior parte da madrugada, enquanto bebia uma garrafa de vodka que escondia na última gaveta de sua cômoda de madeira. Separados por uma porta e por um abismo de rancor.

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