Percebi que minha avó estava usando seus chinelinhos rosa.
Ela provavelmente esqueceu de tirá-los antes de sair, já que apenas os usamos quando estamos dentro de casa. Desde que me entendo por gente, todos de casa éramos proibidos de entrar com sapatos que usamos na rua, já que a casa é um lugar limpo e sagrado. Sempre achei meio tosco mas não discutia porque era melhor aceitar calada do que começar uma discussão.
Ela foi na minha frente, fazendo exatamente o caminho que eu havia feito pela manhã: apenas pisou no pequeno caminho de pedras que levava para a porta da casa.
Minha avó era um pouco mais baixa que eu, mas mesmo com a pálida luz da lua, era possível ver muito bem seus brilhantes olhos azuis. Ela deveria ter sido muito bonita quando jovem, pois mesmo agora, aos 87 anos, ela continuava elegante e bonita. Seus cabelos outrora haviam sido pretos, mas hoje em dia eram completamente brancos, e ela os prendia sempre com um pequeno coque.
Mesmo de noite, era possível ver as flores plantadas no pequeno jardim de frente. Claro, tanto a luz da lua quanto à do poste à óleo que meu pai arranjou em uma loja de antiguidades que adornava o nosso pequeno jardim.
Entre o portão e a frente, havia plantas, flores e pequenas árvores que eram cuidadas todos os dias pela minha avó. Parecia que ela tinha um dom, porque absolutamente tudo que ela plantava crescia e florescia como se por um passe de mágica. Não era à toa que Maria tinha inveja dela - suas flores e plantas não chegavam nem aos pés das nossas, mesmo tendo sido compradas no mesmo lugar, ou terem sido retiradas de casa mesmo.
‒ Tranque o portão, Nyusha. A chave está na fechadura. ‒ Baba pediu.
Fiz o que ela solicitou e tranquei o diminuto portão azul atrás de mim com a chave. A retirei da fechadura e pus no bolso da calça, sem lembrar que aquele era o bolso onde também estava a caixinha de Pandora. Senti a chave roçando levemente na caixa por baixo do tecido grosseiro dos meus jeans.
Minha casa era simples, nada demais. Vivi nela minha vida toda. Aparentemente meus pais a compraram assim que casaram, portanto tanto eu quanto meu irmão nascemos e crescemos nela. Minha avó morava conosco desde que meu avô faleceu, há uns 5 anos. Minha mãe achou melhor trazê-la para cá para que todos ficassem juntos e pudéssemos cuidar dela. Acho que minha mãe se sentiu culpada por ter ficado longe de meus avós por tantos anos e nem pôde ter estado ao lado de meu avô em seus últimos dias por conta de sua rotina de trabalho insana, e trazendo minha avó para morar conosco foi sua maneira de talvez compensar. Eu gostava de ter minha avó conosco, então não era problema para mim.
O caminho de pedras levava até uma pequena escada que dava para a grande e elaborada porta de madeira que dava acesso à nossa casa. Também havia uma grande janela do lado esquerdo em forma de um meio-círculo, que chamava bastante a atenção do lado de fora, já que eu sempre achei que se parecia com a base de uma torre de um mago. Dava para ver as luzes acesas da sala por tal janela, mesmo com as cortinas fechadas.
As paredes do lado de fora eram bem rústicas, feitas com pedras prateadas, o que dava ainda mais um ar de torre de mago. Quando eu era criança, achava que um mago havia morado na nossa casa antes de nós, porque além do poste de luz que parecia ter sido retirado diretamente do set de filmagem de Nárnia e o cômodo em meia-lua, tínhamos também um grande aquário com carpas ornamentais no hall de entrada. Era muito fácil se perder nas brincadeiras de criança procurando por fadas, elfos ou gnomos em casa. Pena que toda a magia acabou quando a idade chegou.
Segui minha avó pelo caminho de pedras e depois pela escadinha até a porta. A mesma estava apenas encostada, então não precisamos abri-la. Fechei-a atrás de mim assim que entrei e pendurei a chave que estava no meu bolso no pequeno porta-chaves ao lado. A porta era tão ornamentada do lado de fora quanto era do lado de dentro, com ilustrações de flores e árvores, o que era bem irônico porque a porta era de madeira. Havia também um pequeno carpete escrito 'Bem- Vindo' no chão.
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Uma Canção Para Os Desalmados
FantasiAnna Akinawa não está vivendo, está apenas existindo. A cada dia que passa, ela se vê ficando para trás diante das conquistas do irmão mais novo e de seus próprios fracassos. Tudo muda quando Anna descobre uma loja esquisita debaixo de uma estação d...