Tudo estava calmo de mais para uma Segunda-Feira. O sol escaldante do mercado central fazia longas gotas de suor percorrerem meu rosto sujo e meu corpo lamacento. Por conta dessa má movimentação ficava mais difícil de escolher um alvo. Ter muitas opções é sempre bom.
Logo avistei um homem do outro lado da rua. Alto, com as costas curvas por causa da idade e uma bolsinha de dinheiro enrolada em sua cintura pedindo pra ser roubada.
Achei.
Atravessei rapidamente a rua e retirei agilmente a bolsinha de sua cintura com as minhas mãos leves. Corri para um dos becos que tinham ao longo da rua. Ninguém percebeu nada. São ignorantes demais para notar. Corri sem olhar para traz temendo que o homem percebesse o que acabou de acontecer.
Sei que não deveria roubar, principalmente quando não sei de quem estou roubando. Mas eu preciso.
Pela minha família.
Pelo meu irmão.Sempre fomos só eu e ele. André e eu fomos abandoados pelos nossos pais quando eu era apenas um bebê, mas quem sofreu mais foi André. Ele tinha apenas seis anos e foi abandonado com um bebê em seus braços, sem saber para onde ir, sozinho. Ele podia ter simplesmente me deixado no meio daquela floresta escura onde fomos abandonados e seguido com a sua vida, mas ele me levou junto, cuidou de mim, nos salvou. Devo tudo a ele.
Tivemos que aprender a sobreviver e nos virar com o que tínhamos. No início ficávamos num abrigo. Até que André completou dezoito anos e conseguiu arrumar um emprego, nos tirando daquele lugar terrível. Mesmo que ele não quisesse eu insisti para que me ensinasse a roubar para poder ajudar a nos sustentar de alguma maneira já que o trabalho de André não rendia muito. Hoje, não moramos nas melhores condições mas pelo menos temos um teto em cima de nossas cabeças. Se é que se pode chamar uma casa, com apenas um cômodo e um telhado cheio de falhas de um lar, mas é o melhor que você consegue achar nos subúrbios de Crowood.
Enquanto corria pelas estreitas ruas do beco, ansiosa para contar a André o que havia conseguido, via os cartazes que o governo da capital colocava dizendo que devemos entregar os eminentes, pessoas com habilidades incríveis e ao memo tempo letais. Desde de que a filha mais nova do rei Leonardo VI desapareceu ha quase dezoito anos atrás, logo após o parto, ele culpou os Sulistas e deu uma ordem para que todos aqueles com habilidades especias, como as dele, deveriam ser levados de volta para a capital onde estariam seguros dos ataques do exercito das forças do Sul. E todos os adolescentes eminentes são levados para internatos onde devem ser treinados para o exercito ou para assumir algum título um dia. Não sei porque, mas muitos dos eminentes fogem da capital, principalmente os mais jovens. Eles já não tem tudo? O que mais podiam querer? Pra que fugir ?
O Sul e o Norte de Iken estão em guerra a milhares de anos pelo controle do país, ambos só possuem eminentes no governo, mas a guerra está mais para algo ideológico, visto que eles só se atacam quando um tenta prejudicar o outro de alguma maneira mais séria.
Mas, enquanto eles estão vivendo suas vidinhas maravilhosas em seus luxuosos castelos só se preocupando com essa guerra inútil, eu e o meu povo estamos sendo escondidos atrás de grandes muros de aço que nos impedem de entrar na capital, sendo oprimidos e violentados por guardas eminentes , passando fome e vivendo em situações extremamente precárias. Onde isso é justo?
Sem contar que todos os ano eu vejo filhos e irmãos, ao fazerem dezoito anos, sendo levados a força pelo governo para trabalharem nos castelo da família real ou para servirem ao exercito em períodos de guerra. As senas sāo simplesmente horríveis. Tive medo que André fosse um deles e me deixasse sozinha, mas como ele arranjou um trabalho exatamente aos dezoito não foi chamado. Infelizmente não faltam muitos meses para saber se serei chamada, tenho medo de que me escolham e eu tenha que deixar André para traz.
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Quando tudo que é certo parece errado
Teen FictionMaya Redfield é mais uma das injustiçadas pela divisão do mundo por um grande muro de aço. Onde de um lado vivem pessoas extremamente poderosas, com habilidades inacreditáveis e mandam sobre tudo e todos: os eminentes. Já do outro, pobres e miseráve...