Uma mente confusa, uma missão impossível - por Andy Herrera

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O dia acabara de amanhecer. Era quase um presente divino, que o sol aparecesse naquele dia, já que esses eventos não são recorrentes em Seattle. "Ao menos há um motivo para sorrir!" pensei. Tentava relembrar tudo o que me fizera chegar àquele lugar, naquele momento, com aquelas pessoas.

Fazia quatro semanas que um incêndio mudara nossas vidas, nos testou ao máximo e nos fez chegarmos no limite. Estávamos todos muito gratos por estarmos vivos, por termos nosso ganha pão, por não perdermos ninguém remotamente importante em nossas vidas naquele dia, exceto eu, que só conseguia pensar que meu único motivo para sorrir, era que havia sol em Seattle e os termômetros marcavam 26°C.

Poderia ser egoísmo da minha parte, que ao invés de estar agradecida pela vida do Travis, que havia sido arrastado para fora daquele prédio em chamas, com uma enorme lesão no coração, estivesse bem e se recuperando, ou grata por ter encontrado o Jack, que num ato heroico, salvou todos não deixando o prédio explodir, mas quase que as custas de sua própria vida, mas eu simplesmente não conseguia.

Sinto-me horrível. Sou a pior amiga que alguém pode ter, e talvez seja por isso que não tenha conseguido a promoção de capitão da Estação 19. Realmente, cabe a possibilidade de estarem certos a meu respeito. Eu não estou pronta para esse posto. Um capitão colocaria sua equipe em primeiro lugar sempre, e não é que não os priorize. São meus amigos, e mais que isso, são minha família. Mas sou incapaz de estar mais feliz por eles, do que triste pela minha derrota.

Por mais que eu ainda não esteja pronta para estar na liderança dessa equipe, um dia eu estarei. E é por essa razão, que vou levantar a cabeça e mostrar para o novo capitão, seja ele quem for, que sou a melhor tenente de Seattle, que posso evoluir e dar o sangue pela minha equipe. E quem sabe, talvez, eu ganhe a admiração desse novo integrante da Estação.

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O relógio soava as 12:00 e toda a equipe não poderia estar mais apreensiva. O recado era claro. O Chefe Ripley receberia o novo capitão da nossa estação às 12:00, na central do Departamento de Bombeiros de Seattle e juntos, eles iriam vir até a Estação 19, chegando as 12:07. A essa hora, todos nós deveríamos estar esperando na entrada para dar as boas-vindas e nos apresentarmos.

Curiosamente, o carro do Chefe estacionou às 12:05 e apenas eu estava na entrada ainda. Tive a impressão de que, para causar boa impressão, ele e o novo capitão, haviam decidido sair do carro apenas quando todos estivessem a postos. "Será que o capitão vai reclamar que não tem ninguém aqui? São 12:05 ainda. Não dá pra falar que estão atrasados. Mas... e se ele pensar que nos atrasamos para atender aos chamados? Ai meu De..." meus pensamentos foram interrompidos pela chegada da equipe.

A porta do passageiro se abriu lentamente, foi quando o vi pela primeira vez. Um homem alto, preto, de excelente porte físico, careca e com uma ligeira barba que provavelmente existisse por costume ou correria. Devia ter seus 37/38 anos, ou mais, mas o que mais me chamou a atenção nele, foram seus olhos castanhos. Eles eram profundos e pareciam perdidos e involuntariamente, eu os fitava.

Enquanto todos prestavam atenção no discurso sobre melhorias e esforços do Chefe Ripley, antes de apresentar o belo homem com o olhar mais misterioso que havia encontrado, eu estava ali, viajando em meus próprios pensamentos, idealizando quem era esse homem e teorizando sobre as razões que tornaram seu olhar tão perdido. Eu poderia continuar ali por horas, dias até, mas meu grande problema é não conseguir disfarçar nada. Não era necessário me conhecer para perceber que eu estava desnorteada com sua presença.

– Ten. Herrera? Está tudo bem? – perguntou Ripley, caminhando em minha direção e parando bem na minha frente.

Recebi um cutucão da Maya para me trazer de volta para a Terra, quando olhei para frente, saltei levemente num susto por ver o Chefe na minha frente. "Parabéns, Andy. O chefe para na sua frente e você nem vê, porque está encarando outra pessoa... e pior, mostra isso pra todo o mundo!"

A FORÇA DO DESTINOOnde histórias criam vida. Descubra agora