meu primeiro romance colegial

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era mais um dia comum, normal, monótono e indiferente na sala de aula num dia aleatório do ano letivo. não existia nada que minho odiasse mais do conceito desses adjetivos após conhecer han jisung.

o primeiro dia de aula não era a coisa mais especial do mundo, as mesmas pessoas, mesmos grupinhos inseparáveis se reencontrando, nenhum acontecimento anormal no ensino médio tornando tudo... chato, pelo menos aos olhos de lee minho. até que o professor tomou a regência da sala de aula, todos se calaram para ouvir o homem calvo com óculos de lentes engorduradas e seu humor demasiado sensível.

— devido a um acidente ocorrido no final do ano passado, tivemos um número incomum de transferências de alunos em toda essa parte da cidade, felizmente, o destino de muitos não ocorreu de ser aqui, já que vocês não parecem se importarem e contribuírem para a média das notas subirem — suspirou — mas essa já é outra história.

— olá, sou han jisung, prazer em conhecê-los. espero que sejamos todos amigos — levantou o garoto novato da carteira, curvando-se para o resto da turma.

— eu não terminei, garoto. mas obrigado por poupar meu tempo — disse o professor impaciente.

algumas risadas abafadas ecoaram pela sala, logo silenciadas para o início da aula. minho riu sarcástico consigo mesmo ao analisar a expressão de orgulho que tomara o rosto de han, deduzira que era o objetivo do novo aluno de se tornar um dos palhaços da turma.

— vamos chamar ele no final da aula — declarou hyunjin.

— com que propósito, senhor?

— seu primeiro e único romance colegial está para acontecer este ano, lee minho. temos que agir rápidos e práticos.

— você é doido. presta atenção na aula.

— acaba de me dar seu consentimento, agora os cupidos entrarão em ação — hyunjin fez contato visual com mais garotos nas carteiras de trás.

minho revirou os olhos e perguntou-se o que fez para ter arranjado hwang hyunjin & companhia como amigos, pois situação mais constrangedora que a que se encontrou com jisung no fim do dia não era possível.

han também não era lerdo ao ponto de não saber que seis garotos saírem de uma mesa de lanchonete para irem ao banheiro juntos era excessivamente estranho. mesmo que deixasse o outro no ápice do desconforto, insistiu no silêncio até minho quebrar o gelo.

— então... por que mudou de escola?

— um helicóptero pegou fogo quando caiu no teto de lá — respondeu jisung.

— espera, sério? — espantou-se — nossa, que azar.

— não pra mim, não gostava de lá mesmo — sorriu desajeitado.

— por que? você parece ser do tipo que faz amigos bem rápido.

— pareço, não é? é legal ter pelo menos uma imagem boa. mas não é bem assim, ainda tô tentando achar alguns amigos na mesma vibe.

minho bufou, sem saber muito o que falar, notando uma animação usada como disfarce desde que mencionou sobre jisung parecer sociável.

— estou longe de estar numa mesma... "vibe", né? — jisung assentiu — com eles. acho que isso não existe, somos bem diferentes.

— acredite, vendo de fora desse círculo, vocês têm algo.

— sério? nunca notei, mas de qualquer forma, pode contar comigo. vou ser seu amigo, não me importo muito se você for estranho ou algo assim.

— obrigado — jisung sorriu, mais tranquilo.

os outros voltaram aos poucos até a mesa estar cheia outra vez e conversaram, tentando ao máximo incluir jisung em todos os assuntos, evitar situações em que o novo não estava presente e o fazer sentir-se parte. quando é sobre amizade, aqueles garotos no fundo levavam a sério.

jisung ficara mais popular que o esperado depois daquele dia, porém, preferia sair com os amigos de minho apesar de conversar com muitas pessoas na escola.

a segunda vez que minho e jisung tiveram a oportunidade de conversarem a sós, uma tensão no grupo improvável de amigos já fora estabelecida pela estranha conexão entre os dois. em muitos dos encontros em grupo, pareciam estar em seu próprio mundo, ignorando o que acontecia em volta e rindo de coisas que sabe se lá o que eram. no começo, os outros achavam fofo, mas nunca andava nada pra frente.

e novamente, segundo hwang hyunjin, era outra tarefa dos cupidos. marcaram de encontrarem-se todos no cinema no fim da tarde de sábado e de última hora, seis imprevistos suspeitosamente bem prováveis surgiram, restando apenas minsung — nome do chat em grupo secundário onde seis cupidos compartilhavam suas mirabolantes ideias, truques e planos — e um filme de comédia romântica exageradamente brega e melodramático.

— isso não é amor, para de chorar, vai procurar um macho que presta — jisung, consagrando-se o maior comentarista de filmes horríveis segundo a revista 'motivos das risadas diárias de lee minho', e seu autor principal.

— ela deveria procurar uma mulher, isso sim, macho nenhum merece ela — complementou minho, jisung bateu palmas quase silenciosas, já que mais uma reclamação e os dois eram expulsos da sala.

— que filme ruim, deus, como tinha gente chorando com o fim? — comentou minho ao saírem do cinema e se depararem com a rua anoitecida, iluminada pelas luzes urbanas — ela se enganou, ele se enganou, depois enganaram todo mundo, foi uma bagunça.

— e é isso que o mundo chama de romance, senhoras e senhores.

— me pergunto o que de fato seria romance — jisung comentou.

um silêncio foi estabelecido, ambos observavam um ao outro enquanto estavam apenas parados e de pé, agasalhados e protegendo-se do rígido inverno.

passaram-se semanas e dentro de uma casinha normal em uma rua comum num bairro tão simples quanto, jisung versus o tempo versus seu sono para enfiar a matéria inteira de física do primeiro bimestre para o teste da manhã seguinte. o celular com pouca bateria vibrou em cima de algum livro na mesa; atendeu imediatamente, era lee minho que ligava.

acabei e descobrir algo e você não vai acreditar — disse o do outro lado da linha.

— por favor, seja a resposta da décima oitava questão — jisung cruzou os dedos e apertou os olhos.

— não é isso, relaxa, você vai se sair bem, descobri algo melhor ainda, dá pra tirar a cabeça da física por um segundo?

— tudo bem, o que é? — jisung soava ansioso.

lembra quando você disse que não tinha amigos porque não tinha gente na mesma vibe que você?

— sim, foi no dia que nos conhecemos. você respondeu que não era da mesma vibe que os caras que acham que não sabemos do grupo minsung.

então... — minho hesitou — a questão é que amigos quase nunca estão na mesma vibe, nunca me senti assim com eles, mas sinto com você.

— o que você quer dizer com isso? — jisung conectou os pontos mais rápido do que antes, sabendo o que minho estava para dizer.

talvez... talvez amizade não seja sobre estar na mesma vibe. talvez amizade seja estar junto, mesmo em vibes diferentes!

— mas nós estamos na mesma vibe — minho não podia ver, mas jisung sorria pela primeira vez naquele domingo estressante, e o lee fazia o mesmo.

é isso que eu acho que deve ser romance.

atenção, boiolas | minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora