- Alô, soldado, sou eu. - Era a voz de Vasconcelos.
- Vasconcelos, é você mesmo? Câmbio. - Respondeu o atendente, que começou a imaginar que tudo não passara de uma brincadeira.
No outro lado da linha, no entanto, Vasconcelos já era um corpo sem vida, dentro do carro. Um corpo sem vida e também sem língua. Quem se comunicava com a o atendente naquele momento era a criatura por trás do sumiço de Júlia, que ao se apossar da língua do soldado, conseguia imitar sua voz com perfeição.
- Sou eu mesmo, tudo não passou de uma brincadeira. Espero que não tenha ficado muito nervoso. O delegado está aqui do meu lado. Ele ajudou na mesma, apesar de não ser de seu feitio. - Respondeu aquele ser.
Aquilo de fato não era o tipo de coisa que seu comandante faria, e por um momento, pensou que Vasconcelos pudesse ter matado seu superior.
Mas antes que pudesse levar esse pensamento adiante, é surpreendido pela voz do mesmo.
- Foi isso que aconteceu, soldado - respondeu seu comandante. - Decidimos pregar uma peça em você. Agora se me dá licença, tenho um assunto pedente para resolver. Câmbio.
E desligou a chamada.
O atendente estava realmente confuso quanto a tudo aquilo. Era muito estranho. De todo modo, aceitou que de fato fora uma brincadeira pregada para cima dele. Uma brincadeira de péssimo gosto.
- Você quase botou tudo a perder, garoto ingrato. Criei você como meu filho após a a morte da sua mãe e o suicídio de seu pai. Saiba que nem todos da minha espécie são amigáveis como eu. - Falou a criatura.
- Sim, eu sei. Desculpe-me, não se repetirá. - Responde o delegado.
- Ainda bem que nossa parceria é promissora. Vou esquecer tudo que ocorreu hoje. Agora dê um jeito nos corpos e em toda a situação. Seu subordinado outro acredita que este homem está vivo, o que fará a respeito?
- Não precisa se preocupar, já sei como vou resolver a situação.
- Tudo bem, vou me retirar.
- Certo.
O delegado então pega um isqueiro e acende-o, colocando fogo no carro. A morte de Vasconcelos não passaria de um acidente causado pela perda da direção do carro.
Agora só restara o outro corpo, ainda estirado próximo ao porto. Esse havia encontrado seu fim após uma troca de tiros com o suspeito.
Seriam essas as versões oficiais dadas pelo comandante geral daquela pequena cidade. No entanto, ainda restava o atendente, o que fazer com ele era o que se passava na cabeça do delegado. Três policiais mortos no mesmo dia, poderia levar à suspeitas, afinal.
Ele chamou por reforços para tomarem conta dos dois incidentes, enquanto pensava no que fazer com o terceiro.
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Não Diga Um A
Misterio / SuspensoQuando um estranho bate à porta, certamente você fica um pouco receoso em atendê-lo, e com razão, afinal, não se deve confiar em pessoas nunca vistas. E se esse, além de desconhecido, for mudo e comunicar-se através de sinais irreconhecíveis? CUIDAD...