Quando aquele sino tocava às nove da manhã de um sábado ensolarado eu sabia que era ela, talvez porque já tinha se tornado rotina ou talvez porque eu ficava esperando ansiosamente olhando pela vidraça da livraria desde as sete da manhã. Como sempre ela trazia consigo um copo descartável de café, eu gostava de como o cheiro do café se espalhava por toda a livraria deixando o ambiente tão... Inspirador?! Acho que não, essa descrição só vale a mim, era o sábado número 43 ela vestia um conjunto de roupas verde, a brusa era em uma numeração de dois ou quatro dígitos maior do que ela provavelmente vista, a calça era solta e com a barra dobrada uns dois dedos acima do tornozelo, o roxo do cabelo dela já tava começando a desbotar e a franja latel parecia ter sido aparada aquela semana, tava aparentemente menor.
Ela foi pra sessão de poesia, como sempre fico minutos lendo sinopse e no final pegou um Edga Alan poe, eu entendo ela não queria se arriscar, em se tratando a poesia ela raramente pegava altores desconhecidos, até porque ela odiava incertezas; não demoro muito e ela já tava sorrindo em frente a sessão +18, eu sabia que ela iria demorar, ela gostava de ler as sinopse com atenção, e essa era a parte que eu sentia vergonha de mim mesma, me sentia suja e me perguntava se Deus já me classifico como perdida, tirar fotos dela por dê trás daquela pilha de livros que tavam no balcão me tornava mais uma vez uma pessoa sem palavra, até porque eu jurei da última vez que não faria mais, porém ver ela ler atentamente a cada sinopse com os lábios entre os dentes e com sorrisinhos nada discretos me fazia querer registrar aquele momento por toda uma vida, ela era tão linda, tão livre e eu a odiava...
Sim eu a odiava, ou melhor a invejava, a forma como se vestia parecia a deixar tão confortável "vista mais apertado eles tem que ver suas curvas" "assim não, tá muito curto vão achar que você é fácil" "um pouco abaixo do joelho homens gostam de mulher de respeito" " não pensa em sair de casa sem seu irmão né? garotas não podem sair sozinha" "vá agora tira, seu futuro marido teria vergonha se te visse vestida com essa calça rasgada" será que a mãe dela nunca a disse essas coisas?
O jeito que ela demonstra as emoções me inveja, como ela compra livros +18 sem sentir vergonha, como ela ler o que quer, como ela esbanja sensualidade e independência, tudo nela me inveja. Tudo nela-
B: oi, eu gostaria de levar esses dois._ escondi rapidamente a câmera sorrindo amigável, passei os dois- o que? De novo, é sério isso, outro exemplar de lolita billie.
Porque ela gosta tanto desse livro?
Sn: obrigada, tenha um bom dia e volte sempre._ falei ao finalizar a compra, como sempre sorrindo e tentando sòa o mais doce e amigável possível, somente recebendo um "até mais" como resposta.
Eu sempre tentava prolongar a presença dela no caixa, e falhava miserável é claro, eu só... desejava muito sentir o cheiro dela por mais tempo, toda vez eu passava o resto do dia tentando tirar esse desejo de sentir o cheiro dela em mim.
.......Não gostava da volta pra casa, não só porque amo onde trabalho mas também porque eu já tava cansada o dia inteiro daquela máscara, ter que esbanja sorrisos no jantar com essa família era cansativo.
Minha mãe passava o jantar todo exaltando as conquistas do meu irmão, como ele tem um ótimo trabalho, e como as notas da faculdade estão altas, e como a noiva dele é sortuda por o ter, porque casar com um homem daquele era um presente dos céus. Vamos evitar falar que ele chegou com cheiro de maconha, e que ele trapaceou pra entrar no trabalho dos sonhos, e séria mesmo o cúmulo do absurdo lembra que a noiva dele não pode entrar na piscina essa semana porque "caiu da escada" e o solo tinha formato de punho fechado.
M: querida...
Sn: sim mãe._ reposei minha talher sobre o prato a direcionando minha atenção.
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My strange Adction
Short Storybillie and you as vezes ler poemas trazem mais prazer do que parece.