O dono do meu coração

Hard Times

Harry ficou contemplando a lanchonete, enquanto esperava o Cedrico trazer os dois café e os dois sanduíches de ricota e peito de peru. A lanchonete estava cheia. Havia muita gente comendo e conversando e, se ele estivesse menos preocupado com a aula, teria reparado que Tom Riddle havia passado para pegar um café e que cumprimentou o Cedrico.

-Obrigado, Cedrico – agradeceu Harry, dando um sorriso contido.

-Não há de quê.

Os minutos que se passaram bebendo o café e comendo o sanduiche foram os piores que Harry passara em toda a sua vida. Ele não conseguia parar de olhar para o Cedrico. Ele era excepcionalmente bonito, nariz reto, cabelos loiros e olhos castanhos como chocolate. O rosto quadrado que parecia esculpido em mármore e os lábios carnudos vistosos, que pareciam chamar os do Harry para serem beijados.

Harry precisou tomar um grande gole de café diante do estranho pensamento de beijar Cedrico. Por que ele estava querendo tanto beijar Cedrico?

Ele nunca havia pensado em beijar um garoto. Nunca.

- O café está forte demais, Harry?

-Não, está bom.

Cedrico enfiou a mão no bolso e retirou um chiclete de menta para mascar.

-Hum... é melhor eu ir subindo. – disse Harry, suando frio e se levantou da cadeira com Cedrico em seu encalço.

- Está tudo bem, Harry? Quer passar na enfermaria antes de entrar na aula?

- Quê? Não.

-Por quê tem tanto medo de mim? – perguntou Cedrico, baixando a voz como se estivesse partilhando um segredo. – Porque não me importo com o que as pessoas daqui pensam a meu respeito. Você não sabe o quanto estou querendo ficar perto de você, como amigo.

-Não. – disse Harry, tão depressa que percebeu imediatamente que fora grosseiro. – Não... eu ...eu já decidi que preciso proteger você. E não posso ser seu amigo!

-Eu não preciso de proteção nenhuma. Quem precisa ser protegido aqui é você!

Harry soltou um rosnado rouco. Por que as pessoas gostavam de julgá-lo como um rapaz fraco?

E o que o Cedrico queria dizer com isso?

Harry não queria admitir para si mesmo, mas seus dedos estavam formigando e seu coração batia acelerado diante das palavras de Cedrico. E suas pernas pareciam feitas de marshmallow conforme ia subindo as escadas até chegar na sala de aula.

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-Potter! Quer ser reprovado?

A tom irritado de Tom Riddle estalou como um tapa em toda a sala, e muitos alunos levaram um susto e em seguida abaixaram suas cabeças para resolver os problemas dos livros.

Quando o sinal tocou, muitos soltaram suspiros de alivio enquanto guardavam os seus matérias e saíram correndo da sala e do autoritário professor.

O professor chamou, sobrepondo ao barulho dos alunos conversando e saindo:

-Potter, quero dar uma palavrinha, por favor.

Supondo que fosse relacionado aos seus costumeiros cochilos durante a explicação da matéria, Harry dirigiu – se desanimado para a mesa do professor.

Tom Riddle esperou até o restante da classe sair e disse:

-Potter, suas notas estão péssimas nesse semestre. Precisa dar um jeito nisso urgente, rapaz.

- Um jeito? Como?

O professor olhou desconfiado para o rapaz, como se ele quisesse fazer drama da situação.

- Precisa estudar com mais afinco. – explicou ele com frieza. – Deveria estudar com o senhor Diggory. Ele tem prestado muita atenção nas aulas e tirado excelentes notas.

O coração do Harry pareceu errar uma batida. Ele sentiu que estava corando outra vez.

- Estudar com o Cedrico?

-Isso mesmo que você ouviu. Ou será reprovado da matéria.

- Eu não posso.

-Ah, pode sim, senhor. – disse irritado o professor. – Sei que existem pessoas que trabalham para pagar a faculdade. Você não é o caso. Seus pais pagam a mensalidade por você. Portanto providencie de estudar para o próximo teste , Potter.

-Mas eu ... não...

-Pare de ser um fraco e lute, Potter. – disse ele, em tom de que a conversa havia sido encerrada.

Harry fechou a porta da sala, sem a intenção de bater e liberar a sua raiva pelo professor. Contudo... Contudo ... Harry sabia em seu íntimo que tinha um pendor para atrair perigo. E esse perigo seria machucar os sentimentos de Cedrico. Ou o pior. Saiu correndo do corredor até chegar ao jardim completamente esbaforido. Pelo menos se sentia melhor ali. Sem a sua voz interior lhe consumindo suas forças, pressionando para ser melhor do que já era.

Tirou os óculos de seu rosto , sentindo as lágrimas molhando as suas bochechas. Abriu e fechou os olhos com força para que as lágrimas parassem de cair. Encaixou os óculos de novo em seu rosto e foi andando até chegar no carvalho onde apoiou seu corpo, como se quisesse o abraço da árvore.

Então o garoto olhou para a lua dourada no céu noturno, roubando o brilho das estrelas. O vento soprava suave e não havia nenhum sinal de chuva. Era uma noite linda.

Harry parou de pensar um pouco em seu compadecimento e escutou com atenção o jardim ao seu redor. Estaria ouvindo os grilos e corujas conversando entre si , os passos de pessoas desconhecidas? Então teve um sobressalto quando viu Cedrico empoleirado num galho enorme da árvore, olhando fixamente para ele.

O choque foi de tamanha magnitude que Harry acabou caindo na grama. Cedrico acabou abrindo a boca e soltou uma gargalhada gostosa. Não queria admitir que tinha adorado em pregar um susto no Harry.

Com habilidade de um atleta , Cedrico desceu da árvore exibindo o seu magnifico sorriso e estendeu a sua mão para o Harry se levantar.

Dando um sorriso sem graça, Harry aceitou de bom grado a mão estendida de Cedrico e se levantou.

-Desculpa, mas devia ter visto a sua cara de susto. Foi impagável de ver.

-Eu acredito em você. Deve ter sido difícil não conseguir se conter e me assustar desse jeito?

-Sinto muito, Harry.

Harry franziu a testa. Havia prometido a si mesmo que não iria se envolver com o Cedrico . Mas, o seu futuro em se formar na faculdade estava em risco. No fim , estava agindo como todas as pessoas normais agem – egoístas e pensam apenas em si.

-Então ... eu não sei como pedir um favor muito bem, mas estou precisando de algumas aulas de reforço com a matéria de cálculo avançado , sabe?

- Entendo. Está bem, então. A primeira aula será de manhã cedo. Pode ser as oito horas, Harry?

-Sério, vai mesmo me ajudar? Pode ser as oito horas, sim.

- Então ok. Até amanhã, Harry.