Feito Cinderela

PRÓLOGO

NARRADO EM
TERCEIRA PESSOA

CÍNTIA DAVIS tinha três anos quando Laís Davis, sua mãe, morreu depois de um grave acidente de carro. Acidente do qual Cíntia sobreviveu por muito pouco.

O carro rolou e rodopiou de um penhasco. Os bombeiros encontraram Cíntia embalada envolta dos braços da mãe. A criança chorava. Laís ja estava morta quando o soccoro chegou.

A história teve grande impacto em Sunche, uma pequena cidade pacata, onde coisas ruins raramente aconteciam.

Joseph Willians ficou encarregado de cuidar da filha sozinho depois da morte trágica de sua mulher.

Cíntia cresceu com todo amor que seu pai fora capaz de oferecer. E quando a menina completou sete anos de idade, Joseph decidiu que prencheria aquele vazio deixado por Laís na vida dele e da filha.

Margot Torres apareceu como uma bela rosa no deserto vazio que habitava o coração de Joseph. A cerimônia não demorou a acontecer, e logo Joseph e Margot estavam casados.

A família tinha uma ótima fama pela cidade, visto que Joseph era um empresário famoso e muito bem sucedido.

Mayla e Pietra de nove anos, filhas de Margot, frutos de seu último casamento do qual teve um fim trágico com a morte de seu ex marido.

Para Joseph, tudo estava em seu devido lugar. Acreditando ter deixado a filha em boas mãos, ele decidiu expandir seu negócio, começando viagens infinitas para fora da cidade.

No início, tudo era lindo entre Cíntia, Margot e, suas irmãs postiças, mas as coisas começaram a mudar quando ela completou onze anos.

— Cíntia, querida — Margot se inclinou um pouco na direção da garota de fios loiros que brincava com as bonecas no tapete cor de rosa em seu quarto. — O que acha de fazermos uma brincadeira?

Cíntia levantou os olhos azuis brilhantes em direção à madrasta.

— Brincadeira? Mas eu já estou brincando — ela ergueu uma das bonecas.

— Ah, mas brincar sozinha é muito chato, não é? — Margot insistiu.

— A Mayla e a Pietra não querem mais brincar comigo. Elas disseram que não são mais crianças — a ingenuidade nos olhos claros da menina deixava Margot com vontade de revirar os olhos.

— E quem disse que é delas que estou falando? — Margot se forçou a manter a voz doce. — Estou falando de nós duas — ela apontou para ela mesma, e depois para Cíntia, mantendo o sorriso. — Você quer brincar comigo, Cind? — a garota reprimiu os lábios quando escutou o apelido que apenas seus amigos usavam.

Ela pensou por um momento. Cíntia encarou as bonecas em dúvida. Encarou Margot mais uma vez antes de largar as bonecas e sorrir com entusiasmo.

— Eu quero.

Margot estendeu a mão para ela, a ajudando a se levantar do tapete rosa felpudo.

As duas seguiram pelo corredor um pouco mal iluminado. Margot odiava que a luz do sol entrasse pelos cantos da casa, segundo ela, a luz lhe dava rugas.

Juntas, elas desceram as escadas em espiral.

— A brincadeira é como um desafio — Margot parou em frente às portas do salão de jantar. — Você gosta de desafios, Cíntia? — a garota assentiu, animada. — Olha, você precisa deixar o chão limpinho para ganhar — ela apontou para o chão branco, um pouco sujo do salão.