Primeiro

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Era dia 22 de dezembro. O penúltimo domingo do ano. Eu estava preparando o jantar para mim e Gregory. Ele é meu namorado, na verdade, era até aquela noite. Sou de Cambridge, mas vim morar com ele em Manchester porque ele implorou e eu realmente não tinha nada muito melhor em mente. Não demorei pra perceber que era uma idéia ruim, mas já estava aqui então era tarde demais. Nossa relação parecia ir bem quando viemos pra cá.

Meu nome é Mia Mortzmann. Minha mãe disse uma vez que sempre quis uma filha que se parecesse com ela e, bem, o sonho dela se realizou, em dose dupla. Eu e minha irmã somos gêmeas idênticas. Éramos três branquelas, de cabelos loiros e olhos acizentados. Éramos porque minha mãe faleceu num acidente de carro por volta de dois anos atrás. Episódio que virou minha vida de cabeça pra baixo porque a minha mãe era a minha melhor amiga, a única pessoa que me entendia. Quando vim pra Manchester foi a primeira vez em muito tempo que eu estava me sentindo bem comigo e com a minha vida.

Eu achava que a crise no meu relacionamento com Gregory era apenas algo temporário, por causa de um episódio específico, mas eu estava completamente errada. Nesse dia, ele chegou do trabalho sem falar muito, apenas me cumprimentou, sem beijos, e quando estávamos na mesa ele quebrou o silêncio com as seguintes palavras:

– Quero terminar.

– O que? – perguntei. Eu não estava preparada para ouvir isso.

– Eu estou terminando com você. – ele repete com a mesma naturalidade que falou a primeira vez. – Você sabe tão bem quanto eu que isso não está mais dando certo. Já comprei sua passagem de trem para Cambridge. Você embarca amanha às 16:00. – ele diz sorrindo como se me fizesse uma vontade.

Não conseguia acreditar que depois de abandonar minha família em Cambridge e vir para Manchester só para continuar com ele, ele estava terminando comigo dessa maneira. Apesar das atitudes estranhas e das coisas que ele me fez passar, não imaginei que seria dessa forma. Ele já chegou com a passagem, me deixando sem escolha e eu não tinha como levar tudo de uma vez, ele teria de me mandar o resto quando eu chegasse. Além disso, não sei se você percebeu, mas faltavam apenas dois dias para o Natal. Nessa mesma noite nós discutimos, mas em momento algum ele se ofereceu para me levar e nem aceitou quando eu dei essa sugestão. Ele não tinha planos para o Natal, mas não fazia questão nenhuma de melhorar a minha situação.

Eu embarquei com 30 libras, dadas por ele. A Inglaterra estava com alerta de nevasca pela primeira vez em muito tempo, foram poucas as vezes que vi neve na minha vida mas justamente as véspera do Natal, que eu agora tinha a chance de passar com o meu pai e com a minha irmã, surgia esse empecilho.

Não vou dizer que sofri com esse termino, mas achei que ele foi muito indelicado. Me sentia um pouco aliviada por estar voltando pra casa. Mas comecei a ficar triste quando estava no trem. Via todos conversando com alguém ou sorrindo para um telefone, enquanto eu estava ali, sem ninguém para conversar, nem mesmo pelo celular. O que fazer, sozinha, dentro de um trem? Dormir parecia boa idéia, mas às 16:47? O que seria da minha noite?

Fiquei acordada, olhando para a janela por algum tempo, depois tentei dormir e até peguei no sono mas acordei depois de uma hora com um susto porque o trem balançou. Ao acordar, resolvo comer alguma coisa. Vejo que o garoto com o carrinho está parado no fim do vagão. Me levanto e vou até lá. Eu compro duas barras de cereal para deixar na mochila e um Muffin. Eu entrego o dinheiro para ele e na hora que ele ia me entregar o Muffin, somos todos jogados para frente. Eu bato com o ombro no encosto de duas poltronas seguidas e depois caio no chão. A velocidade do trem diminuiu muito e bruscamente. "Acordo" do susto quando o garoto da comida e mais um senhor se aproximam para me ajuda a levantar. Agora, além de tédio, também tinha dor no ombro.

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