• • •
Anos depois, quando eu tentasse recordar aquele momento, tudo que veria eram cenas nebulosas do meu corpo perdendo a força e o meu celular escorregando das minhas mãos. Como se houvesse perdido meu chão, com mais nada para me sustentar, eu desabei. Estava congelado, estático. Minha visão estava turva por causa das lágrimas e minha pressão provavelmente havia caído. Porém, nenhum desconforto físico se comparou com o buraco que eu senti dentro do meu ser, como se uma parte de mim tivesse sido bruscamente arrancada sem que eu tivesse ao menos a chance de me despedir. Eu não conseguia me mover, não conseguia pensar, ou respirar.
Minha mãe estava morta. Minha mãe está morta. E eu estava em Nova York, procurando por um filho que me odiava e não queria ser encontrado.
Eu vi Ariana correr para me abraçar e pegar o telefone que havia caído. Me deixei desabar em seus braços. Depois de terminar a ligação com o funcionário do hospital, ela tentou falar comigo mas eu estava tão absorto na minha própria cabeça que o som da voz dela não passava de um barulho distante.
— Jason... Jason, eu sinto muito... — eu ouvia ela dizer ao longe.
— Eu... — ofeguei. — Eu preciso voltar. — murmurei, tentando me por de pé, contudo zonzo demais e acabei me desequilibrando. Ariana não me soltou por nenhum instante. — Continue procurando por Tommy, eu pego um avião.
— Jason, se calma... — sussurrou.
— Eu preciso voltar. — protestei, olhando de um lado para o outro em busca de um táxi.
— Por favor, Jason, você não está em condições...
— Não, Ariana! — a cortei, me desvincilhando de vez dela. — Eu não estava lá! Eu não estava... — choraminguei. — Ela esteve presente durante a minha vida toda. Mas quando ela mais precisou, eu não estava lá. Eu preciso voltar!
— Está bem. — disse Ariana, preocupada. — Eu vou mandar uma mensagem para Tommy sobre isso, se ele ver a mensagem provavelmente vai voltar. Se cuida.
Assenti e entrei no táxi.
•
Eu mal conseguia me ver no espelho enquanto colocava aquele terno preto. Estava acabado. Olheiras pesadas sobre meus olhos cansados, cabelo bagunçado e olhar vazio. Aquele era eu. Não conseguia comer e, a cada passo que eu dava, a cada respiração, eu sentia como se levasse mais uma facada na minha alma. Me arrastei pelos corredores e saí daquela casa uma última vez. Eu não podia mais morar ali. Estava assobrada pelos fantasmas das pessoas que eu amava e as lembranças terríveis da minha infância com o meu pai. Estava decidido, eu venderia aquela casa.
Apesar de ser muito querida, minha mãe não tinha muitos amigos, além disso, eu e Tommy éramos seus únicos parentes de sangue, por isso, o enterro foi pequeno, simples e íntimo. Não fui capaz de fazer um discurso e muito menos conversar com os convidados. Todas aquelas pessoas dizendo que sentiam muito por algum motivo me dava náuseas. Eu não precisava da pena deles; não traria minha mãe de volta.
— Pai... — Tommy colocou a mão no meu ombro. O cemitério estava esvaziando, a maioria estava se dirigindo à recepção do funeral. Eu estava em pé, encarando fixamente a lápide que dizia "Aqui jaz Jane Amelia Martell. Amada mãe e amiga. Descanse em paz.".
— Eu não quero falar com você agora. — rezinguei. Eu ainda estava muito bravo com ele por causa dos eventos dos dias anteriores. Felizmente, ele havia voltado para casa são e salvo depois de ter recebido a mensagem de Ariana alertando sobre a avó.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A MÃE DO MEU FILHO
RomanceQuinze anos depois que Ariana Baker apagara aquela mensagem que o pai do seu filho deixara na caixa postal, a vida de Jason Martell nunca mais foi a mesma. Agora, ele vivia em New Heaven com o meio-irmão, tendo que administrar seu tempo entre o trab...