Nossa melodia e café quente

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  Os dedos longos do homem abraçaram o cigarro como um velho amigo, e de certa forma, o mesmo era. Pousou aquele pequeno câncer enrolado ao objeto de mármore delicado posto à mesinha de centro daquela sala espaçosa. Deixou um suspiro cansado escapar dos lábios molhados pelo batom escuro que sempre usava, e subiu os olhos ao teto de madeira refinado daquele local. Abbachio estava indisposto naquele instante, e a única coisa que pudera tirar os pensamentos torturosos de seu amor alegando estar vermelho de raiva com o homem, era apenas suas lembranças doces e juvenis ao ápice de seus vinte e seis anos. Sorrira gentilmente uma última vez antes do corpo exausto se levantar ao disco mais próximo, onde ele retirou calmamente aquele single, e o depositou contra o toca-discos, e aos poucos que os passos o retornaram para o estofado macio, fechara seus olhos novamente apenas para apreciar aquela melodia.

--xXx--

Bruno esperou paciente até que o amigo retocasse novamente o batom impecável dos lábios carnudos, inspirou profundo antes da décima quarta reclamação naquela noite.

_Leone, seu batom está incrível, não precisa de retoques, vamos logo... -Implorando daquela forma, com um semblante mais que exausto, aos olhos de Abbachio, Bucciarati mais parecia uma criança chorona, e ele adorava a maneira como o olhar casto daquele homem caía sobre si.- A gente vai perder toda a discoteca...

_Abaixa a bola, Bucciarati, a noite está apenas começando... -Deixara o maço vazio escapar de suas mãos, diretamente para o lixo público do banheiro masculino, ajeitou uma última vez o retoque impecável nos lábios, e verificou a camisa escura que trajava. Perfeito, assim como desejara.- Não vejo o motivo de tanta eufória.

_E eu não vejo motivo de tanto perfeccionismo. Você está sempre ótimo. -O elogio escapara simples, direto e assim como era esperado de Bruno, em extrema sinceridade. Ainda assim, fora o suficiente para o rubror surgir às maçãs pálidas do homem alto, os olhos percorreram o chão, buscando desvio.-

O local estava como esperado de todas as sextas às 20:00 naquela boate popular, notava-se evidente a música alta ao fundo, impossibilitando qualquer cochicho ou conversação básica que não fosse para cantarolar a melodia atual e balançar o corpo ao ritmo da mesma, Abbachio varreu o olhar pelo local, sequer encontrara alguns conhecidos, apenas seu colega de trabalho e a noiva do mesmo, ambos os olhares se encontraram e Abbachio acenou com a cabeça, amigável.

_Fique aqui, vou buscar bebidas para a gente... -Fora a vez do italiano dirigir-se ao platinado, onde o mesmo sentira o arrepio incomodo ao toque gentil da respiração do moreno contra seu lóbulo, que outrora também se arrepiara com aquele contato inesperado.-

Bastou apenas que Abbachio desse mais um cheque pela área, para que Bucciarati retornasse, com dois drinks em mãos, o homem indagou para si mesmo como diabos os mortais viam tanta graça em pequenos guarda-chuva na bebida, teria um mensagem sublimar por detrás daqueles enfeites? Pois não faziam mínimo sentido para o policial. Bruno então depositou uma daquelas finas taças à mão esguia de Leone, onde o mesmo agradecera gentilmente com um sorriso. O cheiro inebriante de álcool puro era o suficiente para acabar com a sanidade de Abbachio, a verdade era que por mais que parecesse durão e um verdadeiro amante de vinhos, ele tinha baixo controle por bebida, era facilmente manipulado por elas, e logo se via caído em algum canto do recinto, se perguntando se massas foram realmente inventadas por italianos, ou foi apenas uma receita roubada de um país vizinho. Os pensamentos foram desviados para o corpo à frente, onde iniciara lentos movimentos, que à visão mais sincera e profunda de Leone, eram extremamente eróticos e desprovidos de inocência, embora a razão o cobria e a verdade sobre Bruno o atingisse como uma pancada ao rosto: "Não somos nada além de melhores amigos".

_Por Dio, eu amo essa música! -Os dedos magros do italiano subiram até o pescoço nu de Leone, e o arrepio incomodo novamente o atormentou. Seus rostos estavam terrivelmente perto, era como se Bucciarati permitisse aquele contato íntimo. Abbacchio engoliu em seco. Ao fundo o local se enchia pela melodia de Dancing Queen, e naturalmente Bucciarati cantarolava aquele ritmo, o corpo magro acompanhando os batuques, e os movimentos tornando-se naturais, os olhos fecharam-se e ele deixou que a bebida escorresse entre os lábios molhados de alguma Vodka qualquer sabor morango, os mesmos abriam-se e fechavam-se ritmadamente, atraindo a atenção de Leone para si. Assim que o refrão se fez presente, Abbachio sentira a pulsão ao ventre, e as borboletas estúpidas criando vida em seu estômago, virou em um único gole aquela batida agitada de limão com tangerina, e puxou o corpo do moreno para si, que sequer o impedira disso. As unhas forçaram contra a nuca anteriormente coberta por fios acinzentados do policial, a diferença de altura apenas tornava a situação cada vez mais excitante, e aquele maldito refrão o obrigava a se aproximar consideravelmente do corpo alheio. Bruno apoiou o rosto ao peito atlético de Leone, e se permitiu rebolar lentamente contra o quadril do mesmo, sentindo o efeito colateral do contato tão próximo, os lábios finos se curvaram em um sorriso safado e vitorioso.

Dancing Queen - (BruAbba - AbbaBru JJBA)Onde histórias criam vida. Descubra agora