Ao chegar em casa Beatriz subiu as escadas atrás de Sofia, marchando de raiva.
⎯ Me entrega esse instrumento! – vociferou, com o rosto completamente vermelho.
⎯ Bia... – interveio Lorenzo segurando o ombro da esposa – Não precisa de tudo isso –
completou
ao ver o sacrifício de Sofia para entregar à mãe.
⎯ Depois da vergonha que ela nos fez passar, isso ainda é pouco! Nem parece uma moça cristã. Que vergonha... Que vergonha meu Deus. – disse, lamentando o ocorrido na casa dos Menezes.
Sofia tremia dos pés a cabeça, sentia as palavras da mãe a destruírem. Chorou ali mesmo, na frente dos dois, já não suportava segurar, não era tão forte como pensava. Tudo o que aconteceu pela manhã parecia ter sumido perto daquela humilhação. Lorenzo queria parar a mulher, mas não conseguia.
Danilo começou a se arrumar para ir ao culto. Estava tão eufórico que não conseguia conter o sorriso. Seria errado ele desejar tanto ver Sofia? Ela lhe despertou uma curiosidade inexplicável.
⎯ Uau! Garanto que Sofia irá gostar. – disse a irmã brincando com ele.
⎯ Eu ficaria mais convencido se ela não corresse o risco de se esborrachar no meu assento móvel todas as vezes que nos encontrarmos. Não que isso seja um problema, é claro – disse dando batidinhas na cadeira.
⎯ Sofia, você precisa se arrumar – disse o pai no vão da porta do quarto da filha.
Ela se levantou de onde estava sem dizer nada. Seu corpo doía tanto, não se sentia bem para encarar o mundo lá fora. Chegar à igreja com aquela cara despertaria a curiosidade das amigas, que a encheriam de perguntas.
Ligou o chuveiro na temperatura quente. A água caiu em suas costas, fazendo com que aquela sensação a levasse para longe.
⎯ Eu deveria ter dito sim – disse para si mesma.
Saiu do banho cambaleando. Suas pernas pareciam não estar sob o seu controle. Apoiou-se nas paredes para não cair. O que menos queria era causar mais problemas.
Beatriz aguardava pela filha na sala, andava de um lado para o outro. Sofia passou por ela em silêncio.
⎯ É para sentar comigo a partir de hoje. Você só volta a cantar com o grupo quando eu permitir – disse curta e grossa.
⎯ Eu tenho que… – iria dizer que teria que fazer o solo, mas já estava cansada demais para discutir. Só queria paz, e apenas Deus poderia dar a ela.
Ela e seus pais sentaram-se ao fundo: a mãe, com cara de poucos amigos, procurou Marta de imediato, mas ela estava no coral. Sofia ficou ao lado do corredor, bem na ponta. Alice, a regente, veio chamá-la para cantar, mas logo percebeu que a situação não estava boa, apertou o ombro da menina e sorriu compreensiva.
Danilo chegou ao culto com os olhos espertos procurando pela bela Sofia. A família e ele entraram pelo fundo; Ali estava os cabelos cacheados que ele queria ver. Cristina se sentou primeiro, parecia ter lido a mente do irmão. As cadeiras de trás estavam desocupadas e ele ficou atrás de Sofia.
Ao terminar o culto, Sofia se levantou rapidamente para ir embora e, para sua infelicidade, tropeçou em alguém. Ficou aliviada por ter conseguido se manter de pé.
⎯ A paz, irmã! – disse, um pouco confuso ao vê-la com o semblante tão abatido, percebeu que ela chorou quase o culto todo.
⎯ Paz... – disse tão baixinho que quase não pode ouvir; saiu com os olhos fixos no chão.
⎯ Cris, você viu aquela mulher ao lado dela? –
perguntou para a irmã, que arregalou os olhos.
⎯ Rapaz, se aquela for sua sogra, você está lascado!
– disse, rindo.
⎯ Vou ter que orar de joelhos! O esforço valerá a pena. – disse rindo.
Fernanda, a mãe dos gêmeos, ouvia a conversa do quarto, não conseguia imaginar uma vida sem a presença bem-humorada dos dois. A felicidade deles era seu maior prazer, principalmente a de Danilo, que viveu em hospitais, durante toda a infância, por conta da paraparesia e dos inúmeros procedimentos realizados na tentativa de curá-lo.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Apenas Sinta - DEGUSTAÇÃO ♡
SpiritualA nossa vida é repleta dos mistérios de Deus, vivemos cada dia um milagre diferente, temos a certeza de que o novo de Deus é constante em nossas vidas. Eu vivi e sobrevivi a grandes desafios durante essa jornada que está registrada nesse livro, fora...