morar no litoral era o meu momento eterno de calmaria. mudar-me dali era fantasia. gosto do cheiro do mar azul, acordar cedo e ser recebido de braços abertos pelo astro caloroso e aconchegante. o significado de lar é verdadeiro.
olho pela fresta da pequena janela e meus lumes se chocam com a pintura natural de uma paleta inteira. rosa-azul-laranja-roxo. caminhei pela areia, meus pés livres de calçados, forrados pelo tapete quentinho e deslizante. sentei na areia e observei o horizonte durante bom tempo. não sei dizer quanto passou-se, vidrado demais no que estava diante de mim. pensei no quanto era sortudo.
guardei na memória um outro dia em que fui surpreendido por uma silhueta. te vi na tela em meio ao caos das cores. você estava de costas, tragava a nicotina tão forte e soltava lentamente. na hora, entendi. buscavas aninho, a mesma calmaria que precisei quando mudei e fixei-me nessas encostas. éramos reflexo um do outro. mesmo desconhecidos. me senti vivo.
você voltou semanas seguintes e na outra; e outra; e outra. foi assim quase dois meses. você se afundando no seu quadro melancólico e eu apreciador de sua arte incompreendida. você ficou mais tempo aquela tarde. decidi deixar de ser observador e pintei-me ao lado de sua obra.
foi estranho, óbvio que sim. pra nós dois.
— você gosta das ondas? — soltei, com um formigamento ansioso por resultados. podia dar errado de tantas formas. em minha cabeça imaginei que me chamaria de louco e sairia andando e xingaria-me tan-.....
— não. na verdade, tenho medo do azul. parece aterrorizante estar lá no meio, esperando o próximo baque em suas costas e morrer de medo de ser puxado. — ... tu me respondeu, cortando meus pensamentos e eu agradeci.
— tenha medo e siga em frente, ouvi alguém dizer uma vez. azul é alma. se a minha morresse lá no fundo do oceano, morreria feliz e, com certeza, purificado pela salinidade. — coloquei toda minha sinceridade nessas palavras, sem vacilar. era sempre mais fácil falar do que lhe aflige com desconhecidos, diferente de alguém que está com você. depositamos isso um no outro.
você me deu um sorriso tão aberto que fui capaz de ver suas gengivas. fotografei tudo em você naquele comecinho de noite. seu contorno, seus olhos brilhando, sua voz e palavras e seu nome. yoongi.
— obrigado. — agradeceu-me e voltou pelo caminho contrário, deixando no meu peito a ânsia de te ver de novo.
estando sozinho surrurrei pra lua que iluminava e fazia reflexo em mim e no azul-marinho para que você voltasse.
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não esperei por você, pois me afundaria em anseios e não precisava disso. me peguei preso em mentira. depois de cinco dias (contados, admito), lá estava você. sentado na escadaria da minha varanda. camiseta folgada, calças leves e chinelo nos pés. pensei estar faltando algo, mas logo tu me sanaste a dúvida e tirou o maço. me surpreendi mesmo por colocá-lo ao seu lado e não prensado em teus lábios carmesim. sentei ao seu lado. silêncio.
— odeio exercícios, mas meus pés trouxeram-me até aqui. não reclamo pois percebo agora que não sei seu nome. — não esperei que me dissesse alguma coisa, mas fui pego de surpresa. de novo. você fazia com facilidade.
— uh eu também odeio. faço o tipo observador, uma xícara de chá e alguns milhares de pensamentos avoados. poesias fajutas acabam escoando. jeongguk, meu nome é jeongguk.
— com certeza avoado, jeon. hm, você gosta de chá. — disse com nojo. ouvi sua gargalhada e não pude conter, acompanhei-te. conversamos tanto aquela noite, mas parecia não ser o suficiente. ali, soube que precisávamos do outro.
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você vinha até a praia sempre que podia. chegava como quem não queria nada e dava a desculpa de que caminhadas pela manhã foram recomendadas pelo seu médico. eu não dizia nada, como poderia? não queria sentir que era por mim e estar errado no fim. mas sentia muitas coisas quando suas aparições deixaram de ser pela manhã e passaram a aleatoriedade. fazíamos momentos eternos em tão poucos minutos, eu amava. amava estar com você.
juntos éramos fogos de artifício. depois de acesos, precisa solta-los. prendemos-nos e explodimos atrelados. você me surpreendia de tantas maneiras, yoon. esperava qualquer tipo de brecha para suas surpresas. contudo, acho que nunca estaria preparado pra essa. sua boca grudada a minha e quando menos esperei; cê fez. grudados como mel, não queria soltar e fiz porque ansiava mais. abri meus lábios para receber melhor aconchego dos teus. sentia gosto de sereno, seu cigarro e azul. separados e encarando nossos olhares molhados, você me confessou:
— as ondas me encontraram, gguk. pouco a pouco e agora faço parte delas, sou marinheiro que buscava pelo seu índigo. tenha medo e siga em frente, ouvi de alguém. hoje sou medroso-feliz.
transbordando em excesso de amor, deixamos cair cada gota.
— seremos medrosos e felizes estando completos. — finalizei, o peito ardendo.
estava realmente em casa. eu vivia.
oi aqui não tem notas finais pelo visto k. eu ainda to nervosa sobre postar e principalmente pela minha escrita, mas temos que mudar alguns hábitos. não sei se alguém vai ler, mas vale a pena.
sim, minha cor favorita é azul como perceberam? e sim, azul é definitivamente a cor do amor.por favor, amem e o deixem vivo/sintam-se vivos.
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OCEANOS AFOGAM DE AMOR
Fanfictionyoongi odiava praia. tinha medo das ondas e o que elas traziam e levavam. para jungkook, praia era paz, abraço e calor. completamente estranhos e involuntários necessitados.