— Então, vamos, diga-me, querido, o que é que você queria me contar?
— Vovó Bucktooth... Como é que eu posso te dizer isso..?
"EU SOU PANSEXUAL!"
Exclamou, Benjamin.
Em sua sala de estar, Joanne Bucktooth — mais conhecida como a "Vovó Bucktooth" por seu neto, Benjamin — punha-se quieta. Com seus olhos já apertados de tão velha, a senhorinha capivara de pequenos dentes delicadamente amarelados não conseguia conter seu espanto, ficando inevitavelmente boquiaberta e com as sobrancelhas arregaladas.
— Pansexual...? — disse a avó, em tom baixo, para dentro de si, enquanto segurando sua pequena xícara de chá: estava incrédula.
Os olhos de Ben, por trás de seus óculos pretos retangulares, quase espremiam-se em ansiedade. Recuando com o corpo, o capivara trazia seus braços gordinhos mais para perto de si mesmo. De punhos vigorosamente cerrados; trêmulo das pernas até a boca, ele esperava o pior.
O silêncio total de Joanne era ensurdecedor. Sua língua finalmente estalou:
— Ora, "ok"! — a vovó sorriu com sua imensa doçura de sempre, dando um novo gole em seu chá, fazendo barulho.
O corpo gordo de Benjamin desabou para a frente em um único imenso suspiro de alívio ríspido. De olhos bem arregalados; com uma mão no peito, respirava.
— Mas... — adicionou, Joanne.
Benjamin mal teve tempo para se acalmar: seu corpo tensionava mais uma vez, ainda mais forte do que antes. Seus olhos fechavam com força; seus dentes rangiam; Benjamin se tremia inteiro e, sem controle das próprias cordas vocais, deixava escapar um gemido agudo de ansiedade:
— AaaAaaaAaAaaAaii!!!
— ... Eu nem sei o que significa "pansexual", Benjamin! — concluiu, a avó.
E Ben ofegava novamente, depois de mais um forte suspiro, caindo para trás no conforto da cadeira acolchoada em que se sentava à frente da mais velha; deixando a cabeça pesar por um último momento depois de tanto sofrer.
Recuperando-se, o capivara sorriu com o canto da boca, sem muito jeito. Por um momento, podia sentir-se perdido entre um alívio tremendo de quem havia tirado quilos e mais quilos de suas costas e um sutilíssimo constrangimento do sequer saber escolher das palavras para falar sobre si mesmo naquele momento.
— É, bom... Tá aí, né... — ele coçava a cabeça, olhando para a avó sentada à sua frente, em toda sua pouca altura.
— Lá na minha época, não tinham esses termos, não! A gente matava porco no soco.
— É, eu sei, vó! "Matava porco no soco"! Escuta... Como que eu posso te explicar... — Interrompia, o neto; tentando chegar a algum lugar. — Seguinte... Ser pan significa que...
Joanne mantinha o foco em Ben, sorrindo docemente, quietinha, esperando.
— Que eu gosto de qualquer pessoa! De todo mundo! É... Bem, significa que eu..
— Que você quer transar com todo mundo!
— Sim! NÃO!! NÃO É ISSO!! — Benjamin jogava-se para frente abruptamente, com os braços à frente do corpo e mãos tensionadas em um verdadeiro desespero envergonhado.
— Ah, que bom! Menos mal! Eu já estava ficando preocupada com a sua saúde, Benjamin! — a capivara idosa balançava o dedo indicador na direção do rosto do neto, franzindo o rosto enrugado em uma expressão desconfiada, repreendendo o rapaz por um momento.
— E-Escuta só, vovó Bucktooth... Ser pansexual significa que eu posso sentir atração por qualquer pessoa! Qualquer uma, mesmo! — prosseguiu, o capivara. — Seja um garoto, ou uma garota... Ou até mesmo um garoto ou uma garota que nasceu no corpo errado! Sabe o que quero dizer com isso?
— Sim, eu estou entendendo..! — Confirmou, Joanne. Ela sorriu mais uma vez, sempre muito leve.
— É sobre... Poder me apaixonar por qualquer um, sentir desejo por alguém.. Não importa como esse alguém seja.. Independente de qualquer coisa. — O neto sorriu, sereno.
Mais calmo, Benjamin tinha em suas bochechas gordas o mais inconfundível rubor. Olhava para os cantos, pondo sua mão pequena encostada na nuca, em um ato de autopacificação.
Joanne, com seus olhos pequenos sempre bem fechadinhos, apoiava sua xícara em seu colo por um instante, antes de deixá-la sobre a mesa e, sem pressa, deixar seu assento:
— Eu tenho outra palavra para isso...
Pego de surpresa, o capivara de óculos arregalou de leve seus olhos, deixando o queixo cair sutilmente, antes que suas sobrancelhas grossas contorcessem em sua face curiosa e de leve preocupação:
— H-Hã?!
Joanne caminhou lentamente até seu neto, com seu usual sorriso tão doce de avó. Olhando nos olhos de Ben, a senhorinha chegou a uma conclusão:
— Você tem muito amor para oferecer a este mundo, querido.
Os olhos de Benjamin inundaram-se de lágrimas; sua boca estremeceu enquanto formava um sorriso enorme e dentuço. O rapaz envolveu sua pequena avó em seus braços, e ela carinhosamente o retribuiu.
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Azure & Charlie Shorts! Bucktooth Edition [ PT - BR ]
HumorColeção de curtas do universo de Azure & Charlie estrelando Benjamin "Ben" Bucktooth, em Português Brasileiro.