Único

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Observando a torrencial pela janela aberta da torre do Hokage, o Nidaime estava cansado após mais um dia tediosamente exaustivo de trabalho. Não lembrava com exatidão quando foi sua última noite de sono regular e mesmo que não estivesse fisicamente abatido, continuar naquela jornada de raciocínio deixava seu corpo tenso e ansioso.

Sua atenção foi recobrada apenas quando ouviu as batidas na porta, voltou para o seu assento e procurou se recompor quando reconheceu os três anbu trazendo o relatório da missão.

Tobirama assentia mal ouvindo as coisas que o capitão dizia, e de repente, eles já estavam saindo pela porta sem que o Hokage tivesse certeza do que foi acordado ali. Era como estar preso em um sonho consciente.

A porta fechou e ele percebeu que um deles permaneceu. Não precisou sequer perguntar ou olhar melhor para saber quem era. Só uma pessoa transmitia aquela aura tão... Uchiha.

— Eu passo dois meses longe e você não dorme mais.

O anbu começou a se aproximar, parando na frente dele, escorado da mesa, olhando fixamente para o Hokage por trás da máscara enquanto Tobirama apenas sustentava a provocação com olhar repreensivo. Não era hora e nem lugar para isso.

— Você não pode continuar desrespeitando a liderança dessa forma, Izuna. Não importa quão forte você seja, respeite a hierarquia.

O Uchiha não disse nada, nem se mexeu. Sua posição ao mesmo tempo que era uma defesa para as repreensões também era um ataque, já que obviamente havia um olhar provocador e arrogante escondido em seu Sharingan esperando a hora que o Hokage baixasse a guarda.

— Eu sei. Só foi difícil aceitar na hora. Eu não gosto que mandem em mim. — Tirou a máscara deixando sobre a mesa e enfiou as mãos nos bolsos da calça, ainda apoiado na mesa, de forma íntima demais para um anbu recebendo uma bronca.

— Não estou perguntando se você gosta disso ou não. Estou dizendo como Hokage para ficar no seu lugar e...

Sua voz desapareceu na garganta quando Izuna se aproximou apoiando-se nos braços da cadeira e esmagou as bolas dele com a mão, deixando o rosto tão perto que o Hokage mal conseguia respirar sem ficar tonto pelo cheiro dele.

Dois meses, mas seu corpo sentiu como se fossem malditos dois anos.

— Izuna, pare com isso. — Tentou afastar aquela mão inutilmente, mas só sentia o sangue energizar.

Até o simples ato de respirar parecia perigoso, porque sabia muito bem do que seria capaz se tivesse o mínimo de encorajamento, e Izuna segurando seu pau sobre o tecido das roupas extravasava o mínimo de todas as formas possíveis.

— Estou ouvindo. — O anbu comentou antes de beijar o pescoço dele, ou pelo menos tentar, já que Tobirama o segurou com olhar furioso. —... não desrespeitar a hierarquia. O que mais?

— Não é hora pra isso, e nem lugar.  

Izuna sorriu maldoso movendo a mão sobre ele, um Uchiha já era difícil de lidar, mas um Uchiha que tinha acessos que outras pessoas nunca tiveram e jamais teriam tornava-se mais difícil ainda.

— Acha que as nossas atividades ainda são um mistério para os outros? Todo mundo sabe sobre nós, Tobirama. — dizia até meio aborrecido com as negociações quando era óbvio o desejo do outro de virá-lo na mesa abaixar suas roupas e...

Izuna era naturalmente sem vergonha e exibido, mas no seu posto de líder da vila, o Senju preferia manter sua vida pessoal fora dos holofotes. Não gostava de chamar atenção para si mesmo.

— Eu não me importo com todo mundo, mas aqui eu sou Hokage e você precisa começar a respeitar as leis, assim como as pessoas, Izuna.

— Depois faço isso, eu esperei muito. Sabe o que é esperar dois meses? E olha só pra você, parece que não dorme há anos...

Se o Sharingan estivesse ativado, poderia por a culpa nele e começar uma briga mais tarde, mas não era o caso. Já estava tão duro que sua respiração oscilava entre fazer uma besteira e fazer algo escandaloso. Já devia saber que no instante que passava por aquela porta, Izuna tinha total controle sobre a situação. Principalmente depois de dois meses sem ele.

Tentando se curvar outra vez para beijá-lo, mas ganhando outra negação, Izuna bufou deixando seu membro em paz, encostando sua testa na dele, tão perdido, que mal sabia como dizer o que nunca teve a pretensão de dizer. 

— É que eu... — As palavras sumiram, da mesma forma que sempre acontecia com o Nidaime quando queria dizer essas coisas. Izuna tinha um par de olhos grandes e desesperados em cima dele, mas o orgulho parecia tão forte quanto a tempestade rasgando os céus lá fora.

Tobirama sabia o que ele queria dizer, sentiu a mesma coisa durante dois malditos meses dormindo sozinho naquela cama gelada pra caralho. Amaldiçoou o Uchiha em pensamento e esqueceu por um segundo seu título, seu nome, seu passado, futuro e antes que o rapaz cansado de se humilhar por atenção desistisse emburrado e fosse embora planejando destruir o mundo, Tobirama o beijou.

O Hokage o empurrou para a mesa até tê-lo onde achava melhor, trocando carícias que há anos poderiam ser consideradas estúpidas por um homem tão racionalmente frio e lógico que não via sentido nessas coisas. Nunca havia sentido de verdade, nunca havia provado de verdade, o desespero de ter o coração tornado em brasas por simplesmente ter aquela pessoa em seus braços. Dois meses que pareceram dois mil anos para que tivesse certeza sobre as coisas que não poderia perder e nem abrir mão. Nunca.

Quando começaram a derrubar as coisas pelo chão, Izuna o empurrou achando graça e ficou apenas sentado na mesa, tentando respirar sem parecer tão fora de si.

— É melhor... deixar pra depois mesmo... Nós estamos na torre do Hokage...

Aquele grande idiota, era justamente isso que o Nidaime estava tentando evitar; mas agora Izuna que sofresse as consequências. Não deu ouvidos e voltou a beijá-lo, não era como se não pudesse sentir o chakra de qualquer pessoa há um raio de distância dali.

— Por que você parece sempre tão bravo?

— Você não cala a boca um minuto.

— Pare de franzir as sobrancelhas, talvez pareça uma pessoa normal.

— Cala essa boca.

Izuna deu outra gargalhada, já prestes a dizer outra coisa para irritá-lo, quando Tobirama se afastou resmungando e indo para a janela pegar vento. Tinha alguém se aproximando.

— Acho que é a minha deixa. — Izuna saiu da mesa se recompondo quando ouviram bater na porta.

Parecia que o Hokage iria matar alguém. O Uchiha foi embora, Tobirama acompanhando seus passos com olhar controlado até a porta, e antes que pudesse sair, foi tomado por outra crise de loucura.

— Izuna?

O rapaz olhou para trás.

Tobirama queria dizer que sim, sentiu falta dele também, mas sua garganta estava queimando.

— Vou deixar a porta aberta.

Izuna sorriu.

— É claro que vai. Até mais, Hokage-sama.

At Home (TobiIzu)Onde histórias criam vida. Descubra agora