Primeiro olhar, primeiro toque

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     Acordo com o som dos despertadores, tinha de me aprontar para o treino que aconteceria em questão de minutos. Rapidamente, troquei de roupa e amarrei o cabelo, calcei o tênis e peguei uma maçã no refeitório antes de me direcionar à quadra.
     O treino foi tranquilo, não podíamos nos esforçar tanto para estarmos descansadas para o jogo, então foi como um aquecimento, apenas para relembrarmos as estratégias e posições.
     Apesar de calmo, o treino nos tomou toda a manhã e, assim que terminou fomos tomar banho e nos aprontar para o almoço e, posteriormente, o jogo.
     Acabamos decidindo almoçar em um restaurante não tão longe da escola onde estávamos, era pouco mais de um quilômetro e o time todo topou ir.
     Guiadas pelo google maps e mesmo assim nos perdendo um pouco, conseguimos chegar ao local, era aconchegante, assim que começo a me servir, uma mulher que lá trabalhava, perguntou como funcionavam os jogos, pois estávamos todas com crachás de identificação e acabei conversando um pouco com ela enquanto pesava a comida.
     Deu a hora de voltarmos e, a coisa parecia um pouco mais complicada, a cidade tinha muitas ladeiras e essa era a hora de subí-las, ainda por cima, após comer, mas chegamos na escola a tempo.
     Quando chegamos, o ônibus já nos esperava no portão, apenas pegamos alguns pertences e nele entramos. O caminho para a quadra foi animado, som alto e gente dançando no meio corredor já era costume, dessa vez, acabei entrando no clima e cantando também.
     Ao chegar à ao local onde aconteciam os jogos, meu coração acelerava cada vez mais, por termos chegado com antecedência, tivemos tempo para nos alongar e correr tranquilamente, enquanto outro jogo acontecia, claro, com muita música.
     Algumas coreografias depois, entramos em quadra e logo o jogo começou, disputado como é, corremos e vencemos com um bom placar, de 19x7.
     Animadas, ficamos mais um tempo no local, torcendo para o time de basquete masculino de minha cidade, após andar entre as quadras com Eduarda, acabamos encontrando um menino que logo puxou assunto
     - Oii, meu nome é Gustavo, se importam de eu me sentar com vocês?
      Em coro, respondemos que não e também nos apresentarmos, falamos sobre o clima, a cidade e os jogos. Acabei saindo para tomar água e deixei-o conversando com Eduarda, quando voltei, ela havia passado meu número para o menino, que parecia ser legal.
     Acabamos conversando mais um tempo com ele, sem nem prestar atenção no jogo que ocorria até que fossemos chamas a voltar para a escola.
     No caminho, voltamos comemorando, era nosso primeiro jogo e também, primeira vitória, ao chegarmos na escola, resolvemos que iríamos tomar banho e depois sair para comem.
     Para o banho, tínhamos de lidar com uma longa fila, mas nada nos tirava a vontade de sair, nos aprontamos, maquiamos e resolvemos procurar um lugar para onde ir.
     Apesar do frio, todas concordaram em tomarmos açaí numa sorveteria que ficava perto da escola, na mesma rua, apenas alguns metros à frente.
     Alguns dos meninos também resolveram nos fazer companhia, ficamos lá por um bom tempo, a conversa rendia e a animação permanecia mas tínhamos de voltar à escola.
   Assim que chegamos, vimos um grupo de pessoas reunidas, como se estivessem ensaiando para festa junina,vendo nossa curiosidade, uma das meninas resolveu nos chamar para brincar. Nós não sabíamos o que era, logo perguntamos e ela fez questão de explicar.
     - É o seguinte, você entra no túnel e  pega a mão de quem quiser, assim ficando de mão dada com essa pessoa até que outra o pegue.
     Parecia interessante, resolvemos ficar, quando entrei, peguei na mão de minha amiga, estava acanhada mas logo me envolvi na brincadeira.
     Sem piscar, eu olhava para minha amiga que estava de mão dada com um menino, muito bonito aliás, foi impossível segurar o "ela namora, tá?" pois, além de ser minha melhor amiga, Eduarda namorava com o também meu melhor amigo, Vinícius.
     Estava eu, de mãos dadas com um menino que havia me pegado, quando sinto alguém me puxando, era uma menina, realmente linda, que provavelmente havia me pegado apenas para sair de alguém.
     Algum tempo depois, vi que essa menina continuava a me pegar, ao olhar para ela, foi impossível não notar o brilho e a cor dos seus olhos e, quando viu que estava a olhar, apenas sorriu, um sorriso misterioso e cheio de doçura nunca antes visto por mim.
     No desenrolar da brincadeira, vi que sua expressão mudava quando alguém acabava me pegando, era impossível não demonstrar também, o ciúmes quando alguém a pegava, ela passou a fazer carinho em minha mão, conforme ia sorrindo ao me olhar, naquele momento, meu coração rapidamente palpitava, não sabia sequer o nome daquela menina, mas já me sentia envolvida à ela, não só pela sua mão, seu olhar ou seu sorriso, mas por toda aquela atmosfera criada entre nós.
     Algumas vezes, quando alguém fazia como de fosse me pegar, ela dizia "é minha", eu estava louca para a brincadeira acabar e eu poder conversar com aquela menina que tanto me encantava.
     Infelizmente, não foi assim, estava na hora de dormir, os treinadores vieram chamar, eu queria falar com ela, mas não tinha coragem, por mais que meu coração clamasse por mais um toque dela, e da vontade que eu estava de beijá-la lá mesmo, atitude e coragem me faltaram.
     Mas Eduarda, que sabia de minha sexualidade, havia pensado numa forma de solucionar meu problema, ela reparou o quão próximas estávamos eu e aquela menina, e acabou me perguntando:
     - Você quer que eu fale com ela? Tipo, se ela fica com meninas?
     Acredito que meu sorriso foi o "sim" que ela escutou e saiu correndo pois tínhamos de entrar para os quartos.
     Ansiosa pela resposta, eu caminhava e direção ao meu quarto e parei para beber água, quando mais uma vez, aqueles olhos se cruzaram com os meus.
    Via Eduarda logo atrás da menina, vindo desesperadamente falar comigo
     - Ela disse que não.
     Aquilo foi um balde de água fria, mas não quebrou totalmente minhas expectativas, eu não conseguia compreender!  O carinho na mão, o olhar, o sorriso, não poderiam ter acontecido sem algum significado.
     E então, me deitei para dormir, na cama, Eduarda ouvia sobre minha indignação e decepção, não tinha como! Isso tem de significar algo!
     E pensando naqueles olhos que foram capazes de me confundir por inteira, fui dormir...

    

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