Capítulo 04

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Algumas coisas na vida surpreendem assustadoramente. Para o bem ou não. E Sophia estava completamente surpreendida com a lista na sua frente. Ela leu e releu cada tópico com cautela e se perguntou se estava louca. Nada daquilo poderia ser real.

O que o Sr. Parker tinha na cabeça?

A lista de coisas que ela deveria ensinar ao Noah era deplorável e, na verdade, nem fazia sentido. Não condizia com a realidade.

─ Ah, que droga! ─ esbravejou.

Apoiou os cotovelos na bancada da cozinha e escondeu o rosto nas mãos. Era demais para suportar.

─ Querida? Tudo bem?

A voz suave da Lucy, cozinheira, ecoou pela cozinha enorme da mansão.

Era terça-feira e Sophia ainda não tinha digerido a lista que o Sr. Parker lhe enviou no sábado de noite.

─ Está de pé logo cedo. Mais cedo do que deveria. Se sente bem?

─ Sim, Lucy. Tudo bem.

─ Não parece. ─ A senhora sentou-se frente a Sophia. ─ O que te aflige?

─ Sr. Parker ─ respondeu espontâneamente.

─ Oh, o que meu menino fez?

─ Seu menino?

─ Ah, eu trabalhei na casa dos pais do Miguel. Conheço o pequeno desde muito novinho.

Sophia também conhecia. Ou melhor, ela conheceu Miguel criança, mas desconhece aquele homem estranho.

─ O que o Miguel aprontou desta vez?

─ Ele me passou uma lista do que devo ensinar ao Noah. E até aí tudo bem. Mas, Lucy, a senhora não tem noção dos absurdos que ele escreveu aqui!

─ Me conte um ─ Lucy pediu com um riso de lado.

─ Ok. ─ Correu os olhos pelos tópicos tentando escolher o mais sem noção, mas era impossível, todos eram péssimos. ─ Tá, olhe esse: "ensine sobre as leis de Newton. De forma teórica e o faça decorar". ─ Depois que leu, ela jogou um olhar para a Lucy, que nem mudou de expressão, então continuou: ─ Ou então, "ensine Baskara", "conte sobre a primeira e segunda guerra mundial", "fale sobre Sócrates e os pré-socráticos". Fala sério!

─ Nossa, isso é... Nossa.

─ O Sr. Parker deve ter batido com a cabeça! Só pode ser isso. Como posso falar sobre cada um desses tópicos com uma criança mal alfabetizada? Ou melhor, uma criança de seis anos de idade! É fora da realidade. Tudo isso é conteúdo de colegial. Além de ter batido com a cabeça, ele deve ter se confudido em relação a minha profissão. Sou pedagoga e psicopedagoga, e não mestre do ensino médio e universidade. Isso é loucura!

Soltou o ar com raiva. Porque estava com raiva do homem! Ah, estava. Se o encontrasse agora iria esganá-lo!

─ Querida, Miguel não é ruim. E ele não entende nada do que se ensinar a uma criança.

─ Eu percebi. E outra, ele exige que eu faça tudo de modo teórico e que utilize o método de decoração. Isso foge completamente da minha didática e... ─ bufou ainda irritada. ─ Isso é insuportável!

─ A lista ou o Miguel?

─ Os dois e... ─ ela arregalou os olhos. ─ Não relate isso ao Sr. Parker, por favor!

─ Jamais faria isso. Não se preocupe. Tudo o que vou fazer agora é o café. ─ Lucy levantou-se e foi em direção ao fogão. ─ Em uma hora as crianças irão acordar.

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