A médica de Laura não autorizou a permanência de nenhum acompanhante durante a noite. Pouco me importei, eu não iria embora. A família Buitrago se hospedou no meu apartamento. Minhas chaves já estavam com Alondra e eu a autorizei a ir embora com meu carro para descansar. O pai de Laura insistiu que eu fosse com eles, mas eu não cedi; disse que dormiria na sala de descanso dos médicos, mas não foi o que fiz. Depois que todos se foram, subi novamente até a UTI e subornei o enfermeiro da noite para que eu pudesse ficar ao lado de Laura, arrastei uma cadeira até a cama dela e me sentei.
Não preguei o olho um minuto sequer. Eu acreditava que Laura acordaria e, quando o fizesse, eu queria ser a primeira pessoa que ela veria.
Ela não acordou.
* * *
Na manhã seguinte, a família Buitrago voltou ao hospital no momento em que Laura era transferida para um quarto, para ter mais privacidade e uma comodidade melhor. O quarto era mais espaçoso e possuía dois sofás e uma pequena varanda. Fiquei mais tranquila, porque com tanto espaço, eu não precisaria abandoná-la para que outras pessoas a vissem, eu não sairia do lado dela.
- Querida, eu trouxe algumas roupas - disse Soraída me entregando uma sacola de papel. - Pedi para Wendii pegá-las em seu guarda-roupa, espero que você não se importe. - Sorriu, um sorriso fraco e cansado, sorriso de quem não tinha conseguido pregar os olhos durante a noite.
- Claro que não. - Fiz um esforço para sorrir, mais assim como ela, encontrei dificuldade. - Eu agradeço.
- Você não saiu do lado dela, não foi? - perguntou Alondra ao se sentar.
- Não - admiti.
- Quanto custou? - perguntou, sorrindo. Ela já sabia que os enfermeiros da noite só não vendiam as mães porque era difícil achar comprador.
- Bem menos do que ela vale. - Ficar ao lado de Laura não tinha preço, era tudo o que eu mais queria.
- Querida, você tem que ir para casa descansar - aconselhou Soraída.
- Deixa a garota em paz - disse o marido. - Se ela quer ficar, deixa ela ficar.
- Eu não vou embora, dona Soraída - afirmei, sentando-me ao lado de Alondra. - Não até ela acordar.
- Isso pode levar dias - disse Alondra, franzindo os olhos. Como se eu não soubesse.
- Não me importo - respondi, dando de ombros.
* * *
Mais uma noite chegou e Laura ainda não acordou. Todos foram embora. Como eu deixei bem claro que não sairia do lado dela, a família Buitrago achou melhor voltar para o apartamento para descansar. Arrastei uma poltrona para perto de cama e peguei novamente a mão dela. Encostei a cabeça em sua barriga e adormeci.
Fui acordada por alguns cutucões.
- Acorda, Sofia - disse Alondra, de pé ao meu lado. - Você precisa comer alguma coisa.
Pela luz do sol que entrava através das persianas fechadas, deduzi que já era de manhã. Minhas costas doíam e meu coração também. Olhei para o rosto de Laura. Os olhos ainda estavam fechados, ela não esboçava nenhuma reação. Minha Bela Adormecida. Eu me perdi em pensamentos olhando para a boca dela. Eu queria beijá-la outra vez. Será que ela acordaria como a princesa do conto de fadas?
- Não vou sair daqui - respondi. Eu teria que desenhar?
- Toma, eu trouxe comida, achei mesmo que você fosse responder isso - disse ela, me entregando uma sacola. - Levantei da poltrona e fui me sentar no sofá para tentar comer. Não consegui engolir nem metade do sanduíche. Alondra se sentou perto de Laura, mas virou a poltrona de lado para poder me olhar.
- Você realmente a ama não é? - disse, sorrindo, um sorriso verdadeiro.
- Sim - afirmei, abandonando o sanduíche.
- E a criança? - perguntou.
- O que tem ela? - A falta de confiança das pessoas em mim já começava a me tirar profundamente do sério.
- Não é todo mundo que cria o filho de outra pessoa, você sabe bem disso. Você está preparada para tudo o que vem por aí? Trocar fralda, comprar leite, essas coisas? - perguntou confusa.
- Estou.
Eu estava morrendo de medo. Nunca me passou pela cabeça ter um filho, mas também nunca me passou pela cabeça que eu fosse fazer de tudo por uma mulher até conhecer a Laura. Eu estaria mentindo se dissesse que não tomei um choque quando liguei os pontos e deduzi que ela estava grávida, quando continuou a passar mal. Mas no momento em que eu vi os testes darem positivo e Laura cair escorada em uma parede, eu soube. Soube que também faria de tudo pela bebê.
- Serão noites sem dormir, uma mulher gorda e irritada, e uma criança que precisa de roupas, sapatos, escola. Tudo isso é responsabilidade dela, mas se vocês ficarem juntas, uma hora ou outra vai cair no seu colo. Você tem certeza de que está preparada? - insistiu.
- Você acha que eu já não pensei em tudo isso? - respondi de mau humor. - Minha resposta não vai mudar, eu amo a sua irmã e eu quero essa criança.
- Você é incrível - disse admirando -, eu não faria isso por ninguém.
- Você diz isso porque nunca se apaixonou.
- Como você sabe que não é passageiro? - Ela ainda parecia ter dúvidas.
- Porque eu nunca senti por ninguém o que eu sinto por ela. Porque ela é única, é linda, é meiga e extremamente chata como só ela conseguiria ser, porque ela é meu primeiro e último pensamento do dia, porque seu cheiro me deixa louca e seu sorriso me desarma. Eu faria tudo por ela - olhei para cama. - Eu trocaria de lugar com ela se pudesse.
- Ela nunca vai acreditar em você - disse Alondra, parecendo triste. - Ela levou uma porrada boa da vida.
- Eu vou provar pra ela - respondi determinada.
- Como?
- Ainda não sei.
Mas eu pensaria em alguma coisa. Disso eu tinha certeza.
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The Girl With Red Hair
RomanceLaura Buitrago é uma linda advogada bem-sucedida. Desde que assistiu a uma cerimônia de casamento pela primeira vez, ainda criança, seu sonho é apenas um: percorrer o tapete vermelho da igreja, vestida de noiva. Porém, contrariando todas as suas exp...