Meu medo

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     É até difícil descrever como me sinto ao lado dela, logo eu que sempre bati o pé não crendo em amor à primeira vista... A química que existe entre nós, jamais senti com outro alguém. Ela é única, é perfeita e espero algum dia ser minha.

     Sou tirada dos meus pensamentos quando ela me diz ter que voltar ao seu quarto, decido ir ao meu também. Durante todo o caminho, vamos conversando, é impossível não reparar naquele sorriso, no brilho daqueles olhos, enquanto eu, apenas sorria boba, lembrando do nosso beijo.

     Luiza me acompanha até meu quarto, onde nos despedimos com um "até logo" e eu entro correndo para contar à Eduarda, minha prima que também faz parte do time, acabou ouvindo também.

     - Ela me beijou!

     - Como assim?

     - Nós nos encontramos quando eu estava saindo do banheiro, daí ela veio comigo até aqui trazer as coisas, resolvemos voltar pra quadra e ela só me levou para trás do ônibus é me beijou.

     - "Braaaaba"

     - Queria ter metade da atitude dessa menina – disse minha prima ao sair do quarto.

      A conversa rolou por mais um tempo, Eduarda queria estar por dentro de todos os detalhes, acabei enviando mensagens para alguns de meus amigos contando o que aconteceu, eles riram e me chamaram de emocionada, mas não me ofendo, aliás acho bem real. Luiza me emocionava em todos os sentidos.

      Vi que estava a anoitecer, optamos por pedir sanduíche e, ao ir buscar, ansiava por ver ela mais uma vez, infelizmente não foi o que aconteceu, mas voltei ao quarto com as meninas onde comemos e conversamos por um bom tempo.

        Acabamos pensando em brincar de "pisca", brincadeira que era tradicional nessas viagens, pelo menos por minha equipe. Decidi mandar mensagem para Luiza a chamando também, queria vê-la novamente.

      Estávamos animadas colocando cadeiras em frente ao nosso quarto e chamando mais gente para participar, mas não nos demos conta do horário, foi dado o toque de recolher e a brincadeira não aconteceu. Infelizmente não passei tanto tempo com ela como eu queria, mas compreendia a importância de dormir cedo, amanhã teremos o jogo que nos classificará ou eliminará de vez da competição.

     Sinto um mal pressentimento, todas já haviam dormido mas eu estava perambulando pelas profundezas do twitter. Tento ver alguns episódios de série que havia baixado mas não sou capaz de me concentrar. Depois de muito tempo finalmente adormeço.

     Acordo assustada, ainda no meio da madrugada com alguém batendo em nossa porta e dizendo

     - Todas no chão, não façam barulho nem acendam a luz, é tiro.

     Meu coração rapidamente se acelera, lembro de olhar a tela do celular, o relógio marcava três horas da manhã. Eduarda acorda com uma das "tias" deitando no chão e, consequentemente em nosso colchão. No desespero, acabo acordando minha prima, e todas dão as mãos.

       A cada respiro, ouvia o barulho de uma sequência de tiros ou de uma bala caindo no chão. Pela fala da pessoa que falou na porta, deu-se a entender que estavam batendo de porta em porta e assaltando cada equipe.

       A cada segundo, o desespero aumentava, ouvia portas serem abertas, barulhos de tiro, luzes sendo acesas e apagadas, passos pelo chão.

      Gente perguntando se já haviam chamado a polícia, minhas mãos estavam trêmulas, estava suando frio, e se tivessem batido na porta dela? E se um daqueles tiros tivesse a acertado? Era tudo o que eu pensava.

     Olhando fixamente para uma luz vermelha no teto, percebi que a câmera que havia sido desligada no dia que chegamos, estava funcionando. Era apenas nela que me concentrava, rezava, suspirava.

      A cada tiro, ouvia uma das tias dizer "o que é isso, senhor?" e eu, nervosa, apenas supliquei de forma nada educada para que se silenciassem.

      Aquele pesadelo parecia nunca acabar, já havia perdido noção do tempo, das vezes em que apertei fortemente as mãos das meninas ao meu lado, das vezes que tremi ao pensar como estaria Luiza, estava com medo, com um medo nunca antes sentido. Eu só queria saber se ela estava bem, se nós ficaríamos bem, ou no mínimo, vivas.

      Penso em nadar mensagem para meus pais, para dizer o quanto os amo, mas o medo de desesperá-los, ou de a porta abrir e acontecer algo com o time por minha culpa, era maior.

      Meu coração se acelerava, o ar, eu já não mia sabia como puxar, sentia as meninas ao meu lado tentar olhar meus batimentos,estava tonta, com medo e preocupada.

     Suplico mais uma vez para as treinadoras "se pedirem para abrir a porta, vocês abrem" elas falam que não fariam isso e que iam nos proteger, rezam, escuto-as pedindo à todos os santos existentes para nos salvar.

      Como ela estava era minha maior preocupação. Os sons dos disparos pareciam vir de longe e irem se aproximando cada vez mais, já teriam eles passado no quarto dela? Como estaria aquela que fez aquele dia ser o mais perfeito possível? Provavelmente ela era um anjo e aquele havia sido meu último dia. Sentia minha cabeça girar mesmo estando parada e novamente ouvia um barulho de tiro, passos, gente correndo. Talvez essa era minha hora, meu coração estava acelerado como nunca, via todas à minha volta a chorar, ao tentar falar com os pais, ou ao ligar mais uma vez para a polícia e eu estava apenas paralisada.

     Não sabia mais o que pensar, perdi a noção de quantas orações eu fiz, minha vida toda passou como um filme em minha mente, eu não saberia como isso ia acabar.

     Sinto a luz do refeitório de ascender, e passos em direção à nossa porta, meu coração parece parar por um segundo, "abre a porta" é o que eu escuto.

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