Your eyes

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Quarto dia.

Briguei com a enfermeira de Laura. A mulher trabalhava tão mal, que se ela continuasse furando, quando Laura acordasse, porque eu sabia que acordaria, ela não teria mais mãos. Agora sempre que ela perdia uma veia, quem procurava era eu.

Laura não acordou!

Quinto dia.

Ninguém me mandou para casa hoje, acho que todos já desistiram.

Laura não acordou!

Sexto dia.

Dra. Lauren a levou para outro ultrassom e eu ouvi o coração da bebê novamente. Vi suas mãozinhas, seus pezinhos e a vi colocar o dedo na boca. Eu tinha acabado de me apaixonar por uma outra mulher, mas acho que dessa Laura não teria ciúmes.

Laura não acordou!

Sétimo dia.

Meu pai apareceu para tentar me arrastar até em casa, mas mandei que ele fosse embora. Ele foi.

Me arrependi de não ter defendido Laura como eu gostaria naquele jantar de merda na casa dele.

Laura não acordou!

Oitavo dia.

Eu já tinha feito promessa e até barganha com Deus àquela altura. Ajoelhei-me no chão, rezei, chorei, gritei e xinguei. Ele não me escutou.

Me arrependi de nunca agradecer a ele tudo que conquistei, talvez se o tivesse feito, ele me concederia um milagre.

Laura não acordou!

Nono dia.

Mais uma noite chegou sem que ela abrisse os olhos. Eu tinha que ser realista, ela poderia nunca mais abri-los, mas era difícil demais dizer adeus; eu não tinha força o suficiente para isso.

Me arrependi de não ter contado meu segredo antes de que tudo isso tivesse acontecido.

Novamente, Laura não acordou!

Décimo dia.

O hospital já estava em silêncio, passava um pouco das 9h da noite e os pais de Laura tinham acabado de deixar o quarto. Sentei-me ao lado dela, peguei suas mãos e tentei mais uma vez convencê-la a ficar.

- Amor, você tem que acordar - minha voz tremeu. - Você está me matando, está matando todas as pessoas que a amam, uma por uma.

Me arrependi de não ter dito as palavras "eu te amo" antes quando tive chance. Eu estava me arrependendo de muitas coisas nesses últimos dias.

- Se não for por mim, acorda pela nossa filha, ela vai precisar de você, ela vai querer conhecer a mãe.

Abaixei minha cabeça e a encostei na cama. Algo fez uma pressão leve nos meus dedos e minhas lágrimas começaram a descer. Fiquei com medo de olhar e ser apenas um espasmo muscular, mas acabei levantando a cabeça. Ainda existia esperança em mim.

Olhei para o rosto de Laura.

Os olhos dela estavam abertos.

The Girl With Red HairOnde histórias criam vida. Descubra agora