Capítulo 17

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A estratégia deplorável para ganhar tempo já demorava demais, Anastasia pensou durante o trajeto até Helmhurst, na carruagem enviada por Christian.

Mesmo sabendo que o veículo estava disponível, sentia-se culpada por aceitar os gestos de solicitude, pois não estava grávida e talvez nunca ficasse.

Ela devia a verdade para Christian. E pagar essa dívida, depois da leitura do testamento do falecido conde, seria uma boa ocasião, assim como qualquer outra.

Ou péssima.

Desde o dia do funeral, quando fizera a insinuação de uma possível gestação, Christian se mostrava mais atencioso, embora de maneira distante. Deixara o cabriolé à sua disposição para a ronda usual de visitas aos amigos. A noite, aparecia com freqüência em Netherstowe para resgatá-la da companhia dos Bulwick.

Mas durante esse tempo todo, não dissera palavras carinhosas, não fizera nenhuma tentativa de beijá-la ou sequer de encostar nela. Se ele a amasse e se a noite de amor houvesse sido mais do que um momento de fraqueza, certamente Christian já teria se manifestado.

Seria possível que a atitude vergonhosa de tia Hester

no dia do funeral o tivesse feito desconfiar de que a noiva também só se interessava por fortuna e título? E ela preferia desistir, mesmo que sofresse por isso, a permitir que Christian acreditasse em um absurdo daqueles.

O cavalo diminuiu o passo ao chegar à alameda larga que conduzia a Helmhurst, e Anastasia enxergou a casa onde passara alguns dos momentos mais felizes de sua vida. E mais tristes também. Mas só queria pensar nos primeiros, pois já não freqüentava mais a mansão que se tornara um lar para ela.

As nuvens negras no céu espelhavam a tristeza de Anastasia, e a chuva poderia desabar a qualquer momento.

Por que Christian a esperava na porta da residência?

— Eu estava preocupado pela demora — ele explicou ao abrir a portinhola do coche. — Tive medo de que algo houvesse sucedido.

Ele parecia ansioso, apesar da preocupação usual em esconder os sentimentos. Anastasia gostaria de arrancar a máscara de indiferença que Christian protegia com determinação idêntica à que empregava para manter a de couro negro que lhe ocultava a deformidade.

Algumas vezes, Anastasia conseguia vislumbrar-lhe emoções mais profundas, sempre tão dolorosas como as cicatrizes. E outras tão belas e irresistíveis como a parte perfeita de seu rosto. E as duas a atraíam.

Anastasia queria ter a habilidade de conquistá-lo sem tropeçar na própria incerteza, arriscando-se a fazer com que Christian recuasse ainda mais.

— Sinto por deixar milorde apreensivo. Minha tia resolveu falar comigo, quando eu já estava de saída. Espero que não tenha feito todos esperarem por mim.

— A senhorita chegou sã e salva. E é isso o que importa. A preocupação seria com "ela" ou com a criança que

ele pensava que estivesse a caminho? As atenções excessivas de Christian nos últimos dias deixavam evidente que ele desejava o filho, independente de seus sentimentos pela mãe.

Porém não havia criança nenhuma.

Embora lamentasse o fato, Anastasia também se encontrava aliviada. Pelo menos ela não passaria o resto da vida culpando a si mesma por ter feito Christian cair em uma armadilha ou pensando que ele se casara somente por causa da criança.

— O advogado de meu avô já está aqui. — Christian conduziu-a para dentro e aproveitou para murmurar algumas palavras ao criado que estava parado junto à porta, antes de tornar a falar com Anastasia. — Todos estão reunidos na biblioteca para a leitura do testamento.

Lord Christian GreyOnde histórias criam vida. Descubra agora