Capitulo único

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As ruas de Joseon estavam cheias.

Pedestres conversavam distraídos, comerciantes vendiam seus produtos nas feiras distantes, curiosos observavam a beleza do Palácio Real que erguia-se no centro da província, imponente e luxuoso. A construção mais antiga e bela de todo continente.

Jeon Jeongguk apoiou as mãos no batente da janela de seu quarto, de onde tinha uma visão privilegiada da cidade e de toda área comercial, dos campos e plantações que ocupavam os limites da cidade, mas não era aquilo que ele observava; os olhos brilhantes e atentos. Havia um lampejo de ansiedade e satisfação em seu rosto quando seus olhos negros encontraram o jovem bonito que trabalhava no jardim real; dois anos mais velho, dois centímetros mais alto. Ele podava uma árvore com mãos ágeis, como um ótimo jardineiro que era. Sua pele, banhada pelos últimos raios do sol, ganhava uma coloração dourada e viçosa, o suor escorria-lhe como mel: doce e macio.

O jardineiro livrou-se dos últimos galhos, terminando seu trabalho com maestria. Observou a figura perfeita que criara na árvore e deixou um sorriso pequeno e satisfeito colorir seus lábios. Seus olhos castanhos subiram pela construção de pedra do Palácio Real, lentamente, como se pensasse se era mesmo isso que queria fazer. Encontrou as orbes escuras com suas íris douradas e Jeon pensou se ele havia visto o choque que percorreu seu corpo, mas ele desviou-se tão rápido, recolheu seus materiais de jardinagem e marchou para fora da propriedade Real.

Jeongguk levou as mãos ao peito, apertou a própria camisa de seda brilhante e fina, acalmando as batidas desenfreadas do coração, antes de correr disparado em direção às escadas. Em direção à Kim Taehyung.

O mesmo Kim caminhava decidido pelas ruas do centro de Joseon até alcançar as irregulares e mal iluminadas Ruas dos Bastardos. O sol se punha no fim da província, a iluminação precária do musseque dificultava a caminhada. Desviou-se dos bêbados inconvenientes jogados no chão, das prostitutas que lutavam para apalpá-lo e conseguir um trocado. Seu caminho foi curto, apenas duas ruas após sair do centro província e já contemplava sua casa, uma construção pequena de madeira e pedras. Mesmo que não houvessem construções luxuosas, comércio de qualidade, e que todos os jardins fossem infestados de pestes naquelas bandas, ainda podia dizer que não morava na pior parte daquele povoado.

Kim Jisoo estava debruçada em uma das janelinhas da frente da casa, sorrindo radiante e cantarolando baixinho, o que fez com que Taehyung soltasse um suspiro pesado.

⸺ O que houve, omma? ⸺ Perguntou, sem rodeios. Seus olhos percorreram a sala, o pequeno corredor e enfim a cozinha, onde encontrou o que mais temia encontrar.

⸺ Eu não posso mais sorrir? ⸺ Rebateu ela, num tom manso que denunciava todo seu nervosismo. Ela aproximou-se, hesitante. ⸺ Não fique bravo, filho, eles só...

⸺ Por que aceitou isso? ⸺ Interviu, mais ríspido do que pretendia. ⸺ Por que pegou essas comidas de novo, omma?

Taehyung ergueu os olhos repletos de confusão e raiva e repulsa, encontrando o semblante neutro de sua progenitora.

⸺ Eles deixaram isso aqui, mas não foi como antes, Taehyung.

⸺ Não foi como antes? É claro que não! ⸺ Espalmou suas mãos na mesa, balançando o pedaço de madeira desgastado que comportava uma variedade incontável de comida, frutas e legumes. Havia coisas que Taehyung jamais havia provado na vida. ⸺ Olhe para isso, omma! Olhe! ⸺ Ele ergueu uma cesta repleta de pães, bolos e doces. ⸺ Eles deixaram o triplo do que havia sido deixado antes! Essas comidas são tão caras, nós não temos onde armazenar, não vamos conseguir comer isso tudo e... nós não podemos aceitar!

⸺ Tae, nós vamos pensar em algo...

⸺ Eu não quero a pena de ninguém, omma ⸺ murmurou, a voz falha pelas lágrimas que surgiam em seus olhos juntamente com o embrulho em seu estômago. ⸺ Não quero a merda da pena dele!

Just One Night | Kth + JjkOnde histórias criam vida. Descubra agora