Tua calma

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Ficamos sem reação, ouvi os mais pesados soluços de choro,apertei a coberta, torci para não ser aquilo, até que finalmente escutamos:

- É Pedro, por favor, abra a porta,está tudo bem aí?

Era nosso técnico, uma das "tias" levanta e abre, nesse momento em que o vemos, ele disse que tudo tinha acabado,o alívio surge. Uma das meninas que estava muito nervosa começou a vomitar, gente correndo e indo para o banheiro, e eu, apenas paralisada, tonta, escuto Eduarda pedindo ajuda

- Ela tem problema de coração! Está muito acelerado.

E realmente estava,ao medir, 150 b.p.m era o que marcava, não havia levado remédios ou algo assim, fazia muito tempo desde minha última crise.

Algumas pessoas falam para me levar ao hospital mas, com o alívio, sinto que a velocidade está se estabilizando.

Com ajuda de minha prima e de Eduarda, levanto e vou até o banheiro, onde lavo o rosto e me sinto mais calma. O relógio nos mostra que já eram seis horas,passaram-se as horas mais traumatizantes de minha vida, voltamos para o quarto onde nos é explicado o que realmente aconteceu: Assalto à três bancos próximos à escola, o motivo de nos ter mandado abaixar, era não correr o risco de levar bala perdida e, provavelmente as "balas" que escutávamos caindo no chão, eram bombas usadas para explodir os caixas eletrônicos.

Eu estava amedrontada e, ao mesmo tempo que não queria passar mais nenhum minuto naquela cidade, eu só queria aproveitar o maior tempo que conseguisse ao lado de Luiza, se fosse possível, até a eternidade.

Muitas colegas, se dizendo cansadas, o que é justificável,agora estavam a se deitar para novamente dormir, até tentei mas simplesmente não conseguia, por muito tempo rolei de um lado para o outro e acabei decidindo levantar, eu precisava falar com Luiza, saber como ela estava.

Assim que levanto e vou ao refeitório, vejo que já passava no noticiário sobre o assalto, não podia desesperar meus pais, resolvo ligar para acalmá-los e dizer que estava tudo bem.

Após perambular pela escola explicando não tão detalhadamente o que aconteceu, vejo Luiza se aproximando. Foi impossível conter o suspiro de alívio, ver ela ali,bem, depois de tudo que passou por minha mente, não tinha preço.

Ela rapidamente me abraça, sentir seu corpo ali, fez com que além de aliviada, eu me sentisse protegida, fiquei por um tempo descansando no teu abraço até que ela me dá as mãos, olha nos meus olhos, tão profundamente que sinto o mundo parar. Acariciando minhas mãos, ela pergunta se está tudo bem.

Bom... Não estava até ela aparecer, mas sentindo-a ali vendo que ela também estava bem, apenas consegui dizer que sim.

Ela disse que nem mesmo acordou com os sons dos tiros, que dormiu tranquilamente e que somente foi saber do ocorrido ao acordar. Foi bom saber que ela não tinha passado por tudo aquilo, aquela sensação de aflição e de medo por tanto tempo, não é desejável a ninguém.

Ainda estava passando por minha mente um turbilhão de pensamentos mas, ali, naquele momento, eu me sentia segura, mesmo que por pouco tempo.

Antes de me dizer que teria de voltar ao quarto, me abraçou mais uma vez, o conforto dos seus braços me acalmava mais a cada segundo, era como se apenas seu toque fosse capaz de me trazer paz, algo inexplicável, mágico.

Depois de vê-la seguir o caminho para seu quarto, acabo voltando para o meu também. No caminho, ouvi dizer que os jogos que aconteceriam na parte da manhã seriam cancelados, naquele momento ansiei para que os da tarde também fossem. Eu não estava em condições de jogar, acredito que nenhuma do time.

Não queria mais sair, haviam encontrado apenas oito de vinte assaltantes, eles poderiam estar em qualquer esquina, ou mesmo aparecerem na quadra, eu definitivamente queria apenas ficar ali, quieta, protegida.

Foi servido o café da manhã, optei por não tomar, me falta apetite. Acabo decidindo me deitar um pouco, mesmo que não conseguisse dormir, precisava descansar, pois é quase certo de que os jogos marcados para depois do almoço, aconteçam.

Por muito tempo fiquei deitada, as vezes trocando mensagens com Luiza ou rolando a timeline to twitter à procura de distração.

Acabo cochilando por um curto período e acordando com um pesadelo, estava realmente cansada mas meus pensamentos estavam à mil, o que não me possibilitava dormir tranquilamente.

Já estava na hora do almoço, hoje não tínhamos ânimos ou sequer coragem para irmos ao restaurante, optamos por almoçar na escola. Novamente, me faltava apetite, mas por insistência das minhas colegas, acabei resolvendo comer um pouco.

Assim que me sento, após me servir, localizo Luiza e a sigo com os olhos, ela estava simplesmente linda com o uniforme de jogo e os cabelos presos, sua visão é o que traz um serenidade ao meu dia, ela estava lá, distraída, conversando com algumas amigas, algumas vezes era possível vê-la sorrir, aquele sorriso que não saía da minha cabeça.

Após comer, preciso me aprontar para o jogo, mesmo sem querer sair de lá, Me arrumo, dessa vez sem tranças ou qualquer ânimo, e vou, mais uma vez, para o ônibus. Dessa vez, pelo caminho, não se ouvia música ou via alguém dançar, não me recordo de ver o time tão deprimido daquela forma outra vez.

Chegamos à quadra em cima da hora, não tínhamos tempo para correr ao redor dela ou para dançar (se é que teríamos empolgação para isso). Entramos em quadra, cabisbaixas, meus olhos já marejavam, pela primeira vez, eu não queria jogar, não me sentia bem o suficiente para isso.

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