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Quando dou o primeiro passo em direção a onde o Cole foi sou impedida por Van, que lembra que tenho responsabilidades a cumprir.

Enquanto faço mais um discurso para um monte de alunos, meus olhos percorrem o auditório a procura dele. O encontro perto da porta e é pra ele que olho durante o resto do tempo que passo lá em cima. Hart percebe e sei que minha conversa com ele está reservada para mais tarde. Com Cole aqui, não existe a menor chance de continuarmos "juntos".

Ao final de nossas obrigações saio a procura do Cole mas não o encontro. Ser aluno de honra nos dá alguns privilégios e uso um pouco disso para descobrir onde ele vai morar e se ele está matriculado aqui.

Descubro que Cole é parte do grupo de direito e está morando em um apartamento próximo ao campus.

Não é hora de bater em sua porta, até porque não sei o que falar ou se devo falar algo. Sei que ele não me deve explicações. E preciso digerir tudo isso.

No dia seguinte, Cole não se aproxima e nem fala nada durante a aula. Tento fazer uma dinâmica de grupo para conseguir ouvir sua voz. Mas ele está muito monossilábico.

— Cole, quer falar um pouco sobre você, como chegou aqui ou quais são suas motivações e objetivos?

— Eu passo. Acredito que você já sabe, certo, Lili?! - Ele levanta uma sobrancelha em desafio.

— Não tanto, Cole. Mas fica para próxima. Não vamos forçar nada. - Falo em duplo sentido, enquanto sorrio profissionalmente.

Começa a minha festa. Tudo preparado como aquelas festas típicas de faculdade. Me vesti com uma mini saia preta folgadinha, que deixava apenas um pouco de pela exposta graças às botas pretas que iam até o meio da coxa. Cropped rendado branco e alguns acessórios. Cabelos soltos e maquiagem básica.

A música está alta. Estou dançando e me divertindo, um copo com um pouco de bebida alcoólica em minhas mãos. Na verdade já é o meu segundo drink. Estou ansiosa porque sei que ele vem.

Vejo quando Cole entra e viro todo o líquido do meu copo de uma vez.

Sei que ele está me olhando e é por isso que estou dançando cada vez mais provocante com minhas amigas. O álcool subindo a minha cabeça cada vez mais.

Col não disfarça e eu também não.

Ele sente a provocação e vem em minha direção, com seu sorriso sedutor que é facilmente retribuído com um olhar meu. Ele me abraça e dançamos colados, ele encosta sua testa na minha, fecho meus olhos e deixo seu perfume familiar me levar.

Tudo está rodando e é como se eu estivesse fantasiando tudo aquilo.

Então os fatos acontecem tão rápido que não sou capaz de impedir. Hartvme vira e me beija, em uma demonstração clara de posse. De repente ele é arrancado de perto de mim e é o Cole que dispara um soco nele e o derruba no chão. Hart tenta levantar e revidar o soco, mas meu ex melhor amigo é mais rápido e dispara outro.

Fico lá parada, com ambas as mãos cobrindo minha boca, não assimilando direito a cena que se desenvolve a minha frente. Gostaria de ter bebido menos para poder fazer algo.

Cole olha para mim com cara de preocupação e eu estou completamente assustada, nunca o tinha visto daquela forma, tão descontrolado. Ele tenta me tocar, mas, no susto, eu me afasto.

Com sua cara de desapontamento, que passei a conhecer bem, ele sai. E a festa continua para os demais, mas não pra mim. Corro atrás dele, deixando Ítalo bem amparado por seus colegas.

— O que foi aquilo, Cole? - Falo, meio ofegante e muito tonta, depois de ter o alcançado.

— E você se preocupa? - Ele fala, ainda caminhando muito rápido.

— Claro. Ei, espera. Tô de salto, caramba. E meio tonta. - Ele para e me olha.

— O que você quer, Reinhart? - Meu segundo nome sai como um xingamento, logo depois que ele revira os olhos.

— Reinhart? Jura? - Respiro fundo. — Por quê está aqui?

— Na sua festa ou em Yale?

— Yale! Festa. Sei lá. O que faz aqui?

— Fui selecionado para um grupo de honra, não lembra? - Ele fala com seu sarcasmo evidente. As peças se encaixam. O aluno que rejeitou meu grupo e que seria meu parceiro é ele.

Não disfarço minha cara de surpresa, mas ele sabia. Sabia de tudo!

— Por que não me contou?

— Por que você não me contou?

— Nunca surgiu o assunto. - Tento me defender, sem muito sucesso. As ideias estão bagunçadas na minha mente.

— Então está explicado.

— Você sabia que eu estava em Yale. Por que veio pra cá?

— Você acha que eu desistiria dos meus sonhos por você? Eu já fiz esta burrada uma vez, mas não espere isto de mim novamente.

— Eu nunca te pedi isto. - Ele sorri, mas não parece algo bom. Respiro fundo. — Col, nós precisamos conversar.

— Não precisamos. Você pode voltar para o seu namorado. Entre nós tudo acabou no dia que você me deixou. - Ele tenta sair, mas seguro seu braço e o faço olhar em meus olhos, que estão inundados por lágrimas.

— Olha para mim. Não acabou, ok? Não tem nenhum namorado, eu ainda te amo, você não consegue ver?

— Eu não sei quem é você. Eu achei que sabia. Mas, minha Lírio não existe mais.

— Você está de cabeça quente, Cole! Chega de briga, por favor!

— Eu estou de cabeça quente, lógico que eu estou. Eu sabia que ia te encontrar aqui. Pensei que, ainda com nossos atritos, conseguiríamos retomar de onde paramos meses atrás. - Meus olhos estão embaçados pela quantidade de lágrimas. — Mas eu não reconheci você. Ressaca, Lili?! Bebidas e festa em dia de aula? Beijar o cara na minha frente como se eu não fosse nada? Quem é você? - É ele quem chora agora, após cuspir cada palavra.

— Eu sou a garota que acreditou, até o último segundo, que o melhor amigo amava outra. E só foi embora porque não aguentava mais esconder os sentimentos. Eu achava que se falasse para você acabaria com nossa amizade porque sua vida era com a Sarah. Você sempre disse isso. E, para não piorar tudo, eu vim. Você sabia disso porque eu te expliquei, e mesmo assim não teve a menor compaixão ao estragar o que eu achei que seria minha última noite com você. - Enxugo minhas lágrimas. — Quem é você? O meu Cole não me deixaria assim, não me machucaria como você fez. Eu não te reconheço mais. Você quer mesmo me culpar por eu não saber o que você sentia?

— Não somos mais os mesmos, Lili.

— Me despedi de você uma vez e você fez na segunda. Ainda que tenhamos que nos ver diariamente, vou me despedir de você pela última vez. E te juro que vai ser a última. Você não vai se aproximar mais de mim depois disso. - Minha voz já está embargada pelo choro. — Mas, se houver uma chance de consertarmos tudo, se você ainda me quer de algum jeito, se minha amizade ainda é importante para você,  me fala agora e vamos tentar.

Tento toca-lo, mas ele se afasta.

— Eu vou te ver todos os dias pelos próximos anos, eu vou ter que sentir seu perfume e escutar sua voz. Mas nada disso terá efeito sobre mim. Acabou Lili!

— Se é assim que você quer-

Ele sai e eu perco as forças e choro ali mesmo. Um choro doído e sentido, de quem sofre a morte de alguém amado.

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ᴠᴇʀᴅᴀᴅᴇ ᴏᴜ ᴅᴇsᴀғɪᴏ?彡 ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗ (Concluída) Onde histórias criam vida. Descubra agora