AS APARÊNCIAS ENGANAM

Capítulo 3 - RENÉ

RENÉ -E então Severino como estão as coisas por aqui?

SEVERINO -Está tudo sob controle seu René. O pessoal na cozinha à todo o vapor e todas as reservas lotadas para a hora do almoço.

RENE -Ótimo meu amigo, assim que eu gosto. Casa lotada, clientes satisfeitos e de pança cheia e claro, meu bolso cheio também!

O Chef se dirigiu para cozinha supervisionar sua equipe, deixando o Maître intrigado, afinal era a primeira vez que ouvia René falar daquela forma gananciosa. Preferiu entender que era apenas uma brincadeira, afinal seu chef nunca demonstrara o contrário. Mesmo porque todos sabiam que a verdadeira dona do Le Velmont era Tereza Cristina e ele nunca se incomodou com isso, dizia com orgulho a quem lhe perguntasse que o restaurante era de sua mulher e que ele era apenas o Chef, seu Chef.

Naquele dia eles receberiam no estabelecimento um grupo de empresários libaneses e toda a equipe se esmerava para impressionar clientes tão especiais.

René confiava em sua equipe, tanto que ganhara um dos prêmios de grande notoriedade na gastronomia, o GUIA MICHELIN, o que só encheu sua esposa de orgulho e lhe fez ter a certeza de que investir em seu marido foi uma escolha acertada e se tinha algo que Tereza Cristina mais gostava era ganhar as capas das revistas e ter seu lindo rostinho estampado em todas as redes sociais, ganhando destaque como uma grande socialite mais requisitadas do Rio de Janeiro.

Ela era uma mulher bastante sagaz e extremamente controladora e sabia que aquele restaurante também era a garantia para manter seu marido fiel e a sua disposição.

O casal se conheceu quando Tereza foi estudar em Paris. Ele tinha acabado de se formar em gastronomia e trabalhava em um bistrô na Rue Cler,e ao sair da universidade, na companhia de duas amigas fora para lá almoçar.

Foi paixão à primeira vista quando os olhos dela se perderam naqueles olhos verdes enigmáticos e sedutores. Aquele homem de 1,92 aparentemente tímido mexera com todos os seus sentidos e a partir daquele momento teve a certeza do quanto o queria por toda a vida.

Diferente das dezenas de homens que lhe caía a seus pés, René era desafiador. Sempre respeitador, educado, com as palavras certas e as vezes parecia adivinhar seus pensamentos quando estabeleceram amizade.

O primeiro beijo só aconteceu depois de três semanas flertando com aquele rapaz quando um dia se encontraram ao acaso no parque Buttes Chaumont.

Foi num final de outono e Tereza Cristina perambulava sozinha pelo parque, desejando encontrar o cavalheiro que arrebatara seu coração. Gostava tanto de sua companhia e sentia-se frustrada a cada vez que se despediam e o beijo não acontecia. Por ser tímido ela entendeu que teria que tomar a iniciativa e enquanto caminhava arquitetava uma abordagem certeira para o próximo encontro.

Distraída em seus pensamentos, não viu o rapaz que pedalava em sentido contrário e num átimo de segundo colidiu com o ciclista torcendo o pé.

O pobre rapaz, sentindo-se culpado tentou ajudar, mas fora banido para longe aos gritos e então foi surpreendida pelo cavalheiro que se abaixou diante de seus olhos para prestar os devidos socorros a nobre donzela.

TEREZA CRISTINA -Que bom que é você!

RENÉ -Deveria ter mais cuidado por onde anda mon chair,. Me deixa ver o seu pé. Pelo jeito que caiu sentada percebi que torceu o seu tornozelo.

TEREZA CRISTINA -E o nobre cavalheiro vai cuidar de mim?

RENÉ -Não tenha dúvida.

Ele tirou a bota dela com cuidado. Temia causar uma lesão ainda maior no tornozelo que estava bastante inchado. Provavelmente não tinha fratura, mas não hesitou em levá-la para o hospital a fim de terem certeza que não foi nada grave e de fato não foi.

O médico imobilizou seu pé por precaução, para evitar danos futuros pois percebeu que Tereza Cristina era extremamente agitada e sua inquietação poderia lhe trazer prejuízos.

Ao deixá-la em casa, Renè e Tereza Cristina, mutuamente foram tomados por um desejo imenso de se beijar e aqueles lábios se fundaram para não mais se separar.

Em princípio o pai de Tereza Cristina, o grande magnata Álvaro de Siqueira Buarque, era contra o casamento pois diferente dela a família Velmont estava falida. Sem saber lidar com a decadência o pai de René cometeu suicídio e não demorou para que sua mãe sucumbisse de tanta tristeza e aquele rapaz quando se viu sozinho no mundo, vendeu os bens que ainda tinha e se mudara para Paris afim de investir em seu grande sonho.

Álvaro amava sua "pequena loba", (devido ao gênio forte desde a mais tenra idade que também se assemelhava ao dele que era conhecido como o grande lobo no mercado corporativo, sempre implacável) e sempre fizera absolutamente todas as suas vontades o que era motivo de ciúmes da mãe e o relacionamento entre as duas não era dos melhores, e quando a mãe da jovem morreu vítima de um aneurisma, passou devotar ainda mais sua atenção a filha e ter que entregar seu bem maior à outro homem era terrível.

Ele fez tudo o que podia para impedir essa união e precisou engolir seu orgulho quando ouviu de sua filha de modo ameaçador:

-Se não me deixar casar com o René, pode esquecer que sou sua filha. Se eu não tiver os dois homens da minha vida, não quero nenhum.

Álvaro sabia que Tereza Cristina não estava blefando pois assim como ele, sustentava o que dizia sem se importar com as consequências.

Dois anos após o casamento veio a primeira filha.

Não estava nos planos de Tereza Cristina ser mãe, adorava ter a atenção do marido totalmente devotada a ela e sabia do quanto seu marido desejava ser pai.

Foi um processo difícil para ela ser mãe. Custou a entender que tinha um serzinho frágil e indefeso que dependia de seus cuidados. Assim como sua mãe disputava a atenção de seu pai com ela, disputava com Patrícia a atenção de René que com toda paciência do mundo ajudou sua esposa nesse processo.

A chegada de René Junior foi diferente. Tereza Cristina queria ter um outro filho e o fato deste ser um garoto não lhe parecia ameaçador.

Amava indistintamente os filhos, mas era nítido o xodó que nutria pelo caçula, principalmente porque ao contrário da filha mais velha o garoto não batia de frente com ela. Acatava-lhe todas as vontades, tinha a personalidade tranquila assim como do pai.