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- tem certeza de que quer ficar? Nós podemos passar numa lojinha de bebês pra ver algumas peças.

- não, to bem aqui - respondi, disfarçando meus planos muito bem.

Meus pais resolveram não insistir mais e sem se despedir, foram embora do restaurante, me deixando no controle por algumas horas.

Assim que o carro sumiu na estrada, larguei meu pano de prato e me certifiquei rapidamente se tudo estava em ordem no restaurante.

- vou precisar sair por alguns minutos, tudo bem? - avisei pra um funcionário qualquer, que assentiu.

Tirei meu avental e olhei pro relógio. Já estava na hora.

Notei que uma chuva de verão caía lá fora, mesmo com o sol radiante no céu. Xinguei baixo, vendo que teria que enfrentar a chuva assim mesmo.

Olhei pros lados e fui pros fundos, saindo do restaurante. As gotas de chuva começavam a me encharcar, mas permaneci atenta com qualquer movimento. Por um momento pensei que JJ não viria, mas assim que vi seu rosto familiar surgido dentre o mato e vindo até mim, senti meu coração se apertar.

Ele sorriu aliviado por me ver e correu na minha direção. A chuva já estava forte, mas naquele momento não dei a mínima pra isso.

Fui até ele também e agarrei seu pescoço, o envolvendo com necessidade. Já fazia um mês desde que nos encontramos e aquilo me matava de saudade.

JJ se encolheu nos meus braços e encaixou seu rosto no meu pescoço, me fazendo sentir sua respiração acelerada contra minha pele.

- me desculpa por não conseguir te ver... - começei - meus pais não deixam eu sair pra nenhum lugar a não ser o hospital.

- tá tudo bem... - ele dispensou e soltou o ar - você não tem culpa de nada.

O apertei mais contra mim, num gesto de gratidão. Ele deu um beijo na minha clavícula e depois se virou pra mim, finalmente grudando seus olhos nos meus.

Não liguei se ele estava notando, mas me permitir avaliar seu estado dos pés a cabeça.

- o que aconteceu com sua mão? - perguntei a segurando. As dobras de seus dedos estavam com vários machucados.

- não foi nada.

Levantei meu rosto pro seu.

- sua bochecha também tá cortada - completei e passei delicadamente meu dedo por sua pele molhada.

Ele suspirou.

- tive uma discussão com meu pai, só isso - ele disse baixinho.

Tinha isso ainda. Como se já não bastasse ter que nos separar, JJ ainda lidava com o pai.

- eu sinto muito...

- vou fugir de casa amanhã cedo - ele disse mais confiante.

- Nina comentou.

- meu pai nem vai ligar. Ele me odeia mesmo...

Não sabia o que responder, por isso distanciei minha mão de seu rosto e afastei algumas mechas do meu cabelo grudado na testa. Esse assunto sempre acabava em discórdia se eu começasse a prolongar muito.

- vem comigo, kie.

Um gelo percorreu minha coluna. JJ segurou na lateral dos meus braços.

- se você não pode fugir, inventa uma desculpa ou qualquer coisa - ele prosseguiu - nós não podemos ficar nos encontrando assim pra sempre.

- eu sei... - inspirei - e eu realmente queria te dar uma resposta concreta, mas meus pais estão muito mais espertos. Eles iriam perceber.

- você é inteligente, e vai pensar numa coisa - ele ignorou minhas desculpas - Nina já falou que não liga de ficarmos na casa.

Desviei o olhar, avaliando todas as hipóteses que surgiam e JJ deslizou suas mãos até que elas encontrassem as minhas. Enrolei meus dedos nos dele, querendo ficar presa neles eternamente.

- nós temos um filho, kie - ele começou, mais baixo dessa vez - e temos que começar a planejar as coisas... se nós morássemos naquela casa, já iria ser uma coisa a menos.

Sorri fraco vendo que ele também fazia planos pro futuro. E mais uma vez desejei que ele tivesse acompanhado tudo isso de perto. Tivesse escutado, visto e...

Acabei me lembrando de um detalhe.

Olhei pra JJ e sorri mais uma vez.

- é uma menina.

Ele me olhou estranho, não entendendo.

- o quê?

Ri fraco da lerdeza do loiro. Tirei minhas mãos das suas e segurei seu rosto gentilmente, acariciando todos os machados.

- nós vamos ter uma filha - enfatizei a última parte.

Senti os músculos dele relaxarem sob minha mão e um brilho diferente tomar conta de seus olhos azuis infinitos. JJ segurou em meus pulsos e procurou meu rosto com necessidade.

- é sério? - ele perguntou mesmo sabendo da reposta.

Confirmei com um gesto de cabeça.

- não gostou? - indaguei vendo a confusão de sentimentos que corria por seu rosto.

Mas tudo esvaiu com um sorriso calmo em seu lábios. Ele repousou uma das mãos dele sobre minha barriga, enchendo meu coração de felicidade.

JJ olhou pra região por um instante e depois se voltou pra mim.

- é perfeito - ele disse baixinho.

Sorri com a resposta e deixei que ele me beijasse, num beijo calmo e cheio de saudade.

- queria que você estivesse lá, JJ... - disse contra seus lábios - deu pra escutar o coração dela.

O rosto do garoto ficou ainda mais iluminado. Ele voltou a segurar em minhas mãos e pousou sua testa na minha. Algumas gotas caíam de seus fios até minhas bochechas.

- eu vou nas próximas consultas, kie.

- eu sei - confirmei.

- nós ficaremos bem naquela casa - ele prosseguiu - e vamos planejar tudo que já era pra ter feito...

Suspirei e fechei os olhos, sentindo nossos rostos colados um no outro.

- eu já cansei de receber tanto ódio - ele disse quase que sussurrando - nós dois precisamos de paz...

- e nós teremos.

- quero criar ela junto com você e com o pessoal. Longe do meu pai, da polícia e de seus pais - ele mecheu no meu cabelo - ela, mais que ninguém, não merece viver no mesmo ambiente que eles.

Abri meus olhos e assenti, roçando meu nariz no dele.

- vou pensar em algo - disse com determinação.

Eu iria fugir dali o mais rápido possível.

JJ and Kiara//outer banks⛱Onde histórias criam vida. Descubra agora