Vivre La Liberté

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Maio de 1940, o auge da segunda guerra mundial, a Alemanha Nazista com sua tática guerra-relâmpago conseguiu, por fim, invadir a França, dominando o norte e o oeste do país, grande parte dos habitantes dessas áreas foram evacuados para o sul que foi dado com França Livre, os alemães exigiram apenas os judeus.

No Sudeste da França, um jovem judeu corria para casa, Marlon Kutner abandonou seu posto no trabalho como fotógrafo do jornal assim que viu as manchetes. Ao chegar, sem muita explicação, chamou a mãe e as irmãs, Marjorie e Charlotte, e se puseram a arrumar as malas. Partiriam ao anoitecer logo após a chegada do pai. Noah Kutner, que por sua vez chegou mais cedo já sabendo das notícias, trazia consigo um envelope contendo boa parte das economias da família e cinco passagens de trem.

-Para onde vamos, papa? - Perguntou Charlotte, a mais nova das meninas.

-Iremos mais para o sul, um amigo meu que tem uma pequena fazenda nos ajudará, ficaremos escondidos em uma fábrica de vinhos italiana, ela foi desativada a anos e há um depósito subterrâneo onde guardavam os barris de vinho para fermentar, será um bom esconderijo.

Não havia muita convicção nas últimas palavras do pai, mas apenas a mãe e o mais velho dos filhos notou. Ninguém sabia o quanto isso iria durar ou se ao menos acabaria, pelo rumo que as coisas estavam tomando, Lis, a mãe, suspeitava que a Alemanha dominaria todo o mundo, não restaria um único lugar seguro para os judeus. Ela havia ouvido falar do que estava acontecendo na Polônia, invadida no ano anterior, os guetos onde os judeus foram obrigados a morar, todos amontoados e na miséria, os trabalhos forçados e as marchas para a Alemanha, só de pensar ela estremecia. Abraçou Marjorie, de 11 anos, e Charlotte, de apenas 9, a mulher temia pelas jovens filhas.

Sem mais demora os Kutner partiram, a viagem de trem durou quatro horas, desembarcaram já tarde da noite e caminharam à pé em uma estrada acidentada e sem iluminação por toda a noite, as meninas choramingavam de cansaço, nunca haviam ficado tanto tempo acordadas ou caminhado tal distância sem descanso. Mas os pais nada podia fazer para ajudar as filhas, tinham as malas para carregar e eles próprios já estavam cansados, apenas diziam: "Só mais um pouco, estamos quase chegando."

O sol já apontava ao leste quando chegaram no local onde encontrariam o tal amigo, que por sua vez já os esperavam com uma carroça, o pai saudou o velho conhecido e lhe entregou o envelope com dinheiro, haviam combinado de usar esse dinheiro para mandar provisões a família escondida no subterrâneo. Todos à bordo da carroça cobertos por uma lona foram levados até a velha fábrica, o terreno em volta, que outrora foram fartos vinhedos, havia se tornado uma rala floresta com árvores finas e mato alto, a construção em si estava decrépita e uma parte já tinha desmoronado, seria quase impossível que os alemães se interessasse por esse lugar, uma pequena chama de esperança ardeu no âmago da família judaica.

A entrada para o depósito era um alçapão num canto da fábrica as dobradiças guincharam ao serem abertas tantos anos após o seu fechamento, a escada de madeira que ligava ao subterrâneo estava visivelmente podre e foi preciso muito cuidado ao descer. No andar de baixo ficaram alguns barris vazios e algumas ferramentas enferrujadas, o generoso fazendeiro até já havia trazido 3 colchões e mantimentos para a semana.

-Muito obrigado, Matteo. Espero um dia poder retribuir todo o que está fazendo por nós. - Agradeceu Noah.

-Não se preocupe com isso, apenas sobreviva à esses tempos ruins que já será de meu agrado. - Disse o homem gesticulando com as mãos. - Mais uma coisa, na parte de trás tem um poço, a água é limpa e podem beber, mas recomendo que só saíam durante a noite para evitar serem vistos por quem quer que seja. Virei a cada 15 dias trazer comida e o que mais precisarem. Adeus meus amigos. - Matteo se foi deixando a família no subsolo.

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