Prólogo

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O dia já estava em seu fim, no final do mês de agosto, do ano de 2000. Aqueles já eram praticamente os últimos dias de verão, e a brisa era gentil e transpassava sobre as folhas das árvores na comuna de Lauria, ao sul da Itália. A noite acariciava o dia em um encontro purpura no céu, enquanto as estrelas dançavam cintilantes sobre o véu celestial.

— Nona, podemos ir agora? — perguntou Giovanni calçando suas botas.

— impaciente como sempre, não é? — suspirou — Quando seu pai ainda era pequeno, costumávamos sair ao mesmo horário, para observar as estrelas. — disse sorrindo ao seu neto. — você me lembra muito ele.

Ele sorriu, e uma rápida mudança de expressão ia se formando em seu pequeno rosto, mas antes que se desse conta, nona colocou a mão gentilmente sobre sua cabeça.

— Agora vamos! E pegue seu casaco, não quero perder o crepúsculo.

Giovanni correu para seu quarto e terminou de se aprontar, enquanto Rita já observava o céu semi-estrelado, com uma visão surpreendente da mistura de cores celestiais, azul e púrpura. Foi quando começou a relembrar sua rotina com seu filho quando ainda jovem, apoiada sobre o canteiro de sua varanda, com a vista deslumbrante dos vinhedos a sua frente.

— Estou pronto! — disse assustando sua avó, que estava distraída.

Dio bono!!! — exclamou assustadaUm dia você ainda me mata do coração menino! — disse ela sorrindo, com uma mão no peito enquanto se abaixava para pegar a cesta pesada que havia preparado. — Vamos logo, antes que o crepúsculo termine.

Caminhando os dois juntos pelo campo, já à noite, podiam ouvir os grilos a começar sua sinfonia, de maneira crescente.
Ao passar pelo bosque puderam ver o riacho onde ela costumava ir. Um lugar agradável aos olhos, e os vaga-lumes, juntos, formavam um espetáculo no anoitecer. Chegando ao local, nona esticou o lençol na grama, em seu lugar favorito, e os dois se deitaram, juntos. 

- Nona, por que a senhora gosta tanto de observar o céu? - Perguntou pensativo.

- Olhe para lá por um instante - respondeu, olhando no fundo dos seus olhos - o que você enxerga?

- Só as estrelas, nona - respondeu.

- Giovanni, esqueça sobre tudo e olhe para as estrelas. O que você vê?

Podia parecer difícil para uma criança de 8 anos observar e sentir, com a mesma intensidade que uma senhora de 62, mas ele se esforçou, e viu a magnitude do universo, e sua grandeza. Do jeitinho dele.

Nós somos muito pequenos né? - Afirmou o garoto.

- Sim! Como formiguinhas minúsculas! Respondeu nona sorridente, acariciando o rosto de seu neto. — Sabe, costumávamos vir aqui todos os dias, era nossa parte favorita. Contávamos histórias e brincávamos enquanto seu avô cuidava da fogueira e de nosso lanche. Era simplesmente esplendido.

— Uau! Devia ser incrível. Queira muito ter conhecido eles. — Respondeu o garoto, com um ar misto de alegria e uma tristeza súbita.

Ela queria poder explicar a ele o que acontecera no dia em que seus pais e avô haviam falecido, mas sabia que aquele não era o momento, não ainda.

Rapidamente ela pegou o pacote de biscoitos e o abriu, oferecendo-os enquanto mudava de assunto. 
— Vou te contar uma história, que e-

Prestes a começar a sua história, um clarão súbito tomou conta dos céus como um cometa reluzente, o que era a noite, agora brilhava como o dia, acompanhado por um estrondo ensurdecedor.

NONA????!!!! - perguntou amedrontado

— PEGUE AS SUAS COISAS, VAMOS VOLTAR, RÁPIDO!

A Redenção de AuroraOnde histórias criam vida. Descubra agora