Capítulo 6

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Os dias passaram de forma demorada, e vez ou outra eu via Yongsun nos corredores da escola

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Os dias passaram de forma demorada, e vez ou outra eu via Yongsun nos corredores da escola. Falávamos apenas o necessário, realmente apenas o profissional sobre dúvidas minhas com o projeto. Eu realmente havia seguido o conselho de Wheein, e não forcei nenhum tipo de amizade obrigatória.

Devido aos meus sentimentos e a bagunça de minhas emoções, eu sentia uma necessidade de olhá-la nem que fosse de longe, e quando seus olhos me pegavam, ela não retribuía nem ao menos com um cumprimento... na verdade era como se eu não existisse. Seu olhar parecia apenas me atravessar, e descobri que a indiferença era o maior pecado que poderíamos cometer com um semelhante.

Durante quase toda uma semana o maior que consegui arrancar de sua boca, foi quando sem querer, a flagrei cantando. Eu estava com Wheein, que me acompanhava até o carro, logo após uma reunião. Me senti hipnotizada quando a vi. Ela estava sozinha em uma sala de acústica arquitetônica, que possuía paredes repletas de madeira e formavam um círculo... no centro havia um piano de calda e ouvimos o som perfeito que saia do instrumento, graças a leveza de suas mãos que apertavam as teclas de forma ágil.

Eu já havia a visto tocar, mas ela realmente estava muito melhor do que me recordará, mas nada conseguia superar meu fascínio, quando a ouvi cantar. As primeiras palavras saltaram de sua boca, e ela não parecia errar uma nota sequer... eu estava sem palavras, e minha boca entreaberta parecia ter vontade própria, admirando o talento da mulher em minha frente. Não me importei se Wheein estava ao meu lado vendo toda aquela cena, era como se nada e ninguém mais existisse, apenas eu e ela.

O telefone de Wheein tocou, e ela se assustou interrompendo aquele momento que desejei que nunca tivesse um fim. Ouvi Wheein pedir desculpas antes de ir atender, mas não a olhei diretamente... Os olhos de Yongsun se encontraram com os meus e instintivamente me aproximei dela. Ela voltou a olhar o piano em sua frente e apertar as teclas, e de modo intrusivo sentei na ponta do banco ao seu lado e apertei uma tecla, acompanhando de forma desleixada, antes de dizer:

— Lembra do quão ruim você dizia que eu era? — Perguntei retoricamente, eu não esperava nenhuma resposta dela, então continuei: — Eu era péssima.

— E continua. — Ela afirmou.

— Você melhorou muito Yong... eu fiquei sem palavras, e...

— Faltam apenas uma semana... — Ela disse se levantando. — ... uma semana, e não vamos nos ver mais... já te disse, não precisamos disso.

Ela simplesmente foi... apenas deu as costas, e passou reto por Wheein, que já se encontrava na porta outra vez e nos observava de longe. A vi pender a cabeça pro lado, com uma expressão de que sentia muito, talvez pela forma que fui tratada. Cheguei a ouvir de sua boca um "Você está bem?" , e me perguntei se a minha tristeza estava de fato tão estampada. Eu já estava me sentindo agoniada com toda aquela situação, e eu estava decidida, como a mesma disse faltavam apenas uma semana... não nos veríamos outra vez e eu estaria livre daquele sofrimento.

Dirigi até a casa de Seulgi. Ela havia me pedido ajuda para fazer as malas, já que viajaria com um grupo de amigos, faria um curso de especialização em Orlando, e passaria toda a semana fora. O voo seria de madrugada, então me dispus a levá-la até o aeroporto.

— Quanto tempo vai ficar fora mesmo? — Perguntei.

— Eu não sei... — Disse dispersa. — ... uma semana? Talvez um pouco mais. — Afirmou.

— Talvez um pouco mais? Não vai no projeto comigo? — Perguntei, enquanto guardava outra peça de roupa em sua mala. — Já é no próximo fim de semana.

— Eu não sei amor. Vou depender das grades extras que haverão, não posso perder essa oportunidade, os cursos só abrem de dois em dois anos.

Balancei a cabeça afirmando que a compreendia.

— Hey... — Falou tocando meu rosto, me fazendo olhá-la. — Está chateada?

— Não... — Afirmei. — Só vou sentir saudades.

Ela me beijou de forma singela, e não demorou muito até chegar a hora de irmos até o aeroporto. Eu de fato sentiria saudades... nos víamos praticamente todos os dias e devido a confusão que estava minha cabeça, me sentia mais sozinha do que nunca.

No dia seguinte trabalhei apenas de casa, e as horas passaram de forma demorada. A voz de Yongsun ecoava em meus pensamentos e eu mal conseguia me concentrar no que precisava fazer. Peguei meu telefone e liguei novamente para Dahee, a convidando para jantar em minha casa... e depois de anotar todas as exigências do que comer, ela finalmente aceitou. Passavam das 20h quando fui tirada dos meus devaneios, com o som de batidas na porta.

— Não estou sentindo o cheiro da comida, Moonbyul! — Disse invadindo minha casa.

— Eu pedi, daqui a pouco chega. — Sorri.

— Pensei que cozinharia para mim. — Disse desapontada.

O jantar não demorou muito, e logo estávamos comendo acompanhadas de uma boa garrafa de vinho. Dahee me contava de forma eufórica sobre uma modelo qualquer, que queria de forma suja, sua vaga em uma determinada marca da qual eu não fiz questão de memorizar o nome. Por um momento cheguei a me esquecer dos problemas que pairavam em meus pensamentos... já que eu ria do modo entusiasmado que Dahee contava todas as suas aventuras. Como sempre ela havia perguntado sobre Seulgi e como estávamos, e afirmei que de fato estávamos bem... pois estávamos certo?

Não sei se minhas palavras haviam soado pouco confiantes, já que logo em seguida ela perguntou:

— Mas, me conte... como esta sendo com a Yong?

Fui pega de surpresa com sua pergunta, talvez não tivesse imaginado que ela voltaria com aquele assunto... pensei que ela esqueceria, e retornaria sua preferência por Seulgi ao invés do passado.

— Bem... — Falei num suspiro, já sabendo do assunto em questão.

— Esse tom não me convenceu... como está sendo pra vê-la todos os dias novamente?

— Já se sentiu invisível? — Perguntei.

— Como? — Perguntou um tanto aturdida.

Nunca me senti tão perdida. Era como se eu não tivesse certezas concretas do que eu realmente queria. Não queria mais tocar naquele assunto, que de fato me entristecia, mas ao mesmo tempo, sentia que precisava. 

— É como me sinto... é como se eu não existisse, ela não me olha, não me dirige a palavra... — Desabafei. — ... e quando fala, é horrível... é como se ela nunca tivesse me conhecido, somos estranhas uma à outra.

Naquela noite voltei a me lamentar para Dahee prometendo a mim mesma que seria a última vez... eu iria respirar fundo, e deixar passar porque talvez,  o melhor verdadeiramente havia sido termos seguido destinos contrários, e todavia o silêncio dela fosse a resposta... porque ninguém, absolutamente ninguém, deveria fazer morada, onde não é desejado. Então difícil mesmo não é lutar pelo que se quer, e sim desistir dele.

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⏰ Última atualização: Jun 13, 2020 ⏰

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