Parte 2

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Ada abriu a porta do quarto dos irmãos com cuidado para não fazer barulho. Entrou em pânico por um segundo quando viu a cama de Adam vazia, mas rapidamente se apercebeu que o pequeno se tinha escapado da sua cama para dormir com o irmão mais velho. Jonah abraçava o pequenino, mas já estavam os dois a dormir um sono ferrado.

Ela dirigiu-se à janela e verificou as dobradiças da janela, certificando-se que se encontravam bem fechadas. Voltou para o andar de baixo onde pegou nas chaves e saiu, trancando a porta com todas as voltas que a fechadura permitia.

Ada não tinha intenções de se demorar muito. Queria apenas desabafar com a melhor amiga que vivia apenas a três casas de distância. O pai iria passar o resto da noite no bar a enfrascar-se com bebidas baratas e a aumentar cada vez mais a conta no bar. Gastava todos os seus rendimentos na porcaria do bar, mas ao menos enquanto lá estava Ada não tinha de se preocupar com o seu comportamento errático.

A rua estava fria e Ada conseguia ouvir ao longe ainda o barulho da vida noturna vindo do porto e dos seus bares e restaurantes abertos. Há noite, quando o vento mudava de direção, levando a brisa da terra para o mar, sentia a humidade da terra junto ao mar. Mas nesta zona, os cheiros bafientos das habitações apodrecidas estrangulavam qualquer cheiro agradável.

Ao chegar a casa de Tayee, a sua melhor amiga. Ada bateu à porta rapidamente, antes de voltar logo a colocar as mãos nos bolsos, dando saltinhos para se manter quente. Não teve de esperar muito para que a porta se abrisse, mas não fora a amiga que viera ao seu encontro.

– O que te aconteceu? – perguntou Nick, ao abrir a porta ampla o suficiente para ver o rosto de Ada que começava a inchar junto ao olho. Instintivamente ele estendeu os dedos para tocar-lhe na cara e Ada encolheu-se sobre o seu toque. – Desculpa. Entra, precisas de pôr gelo nisso.

Ada entrou na casa pré-fabricada. Era um pouco mais pequena que a dela, mas mais agradável. Não havia maus cheiros ou vigas podres, nem mesmo portas partidas ou paredes com buracos. Tayee tinha algumas peças de decoração inspiradas na arte nativa que lhe davam um aspeto acolhedor, enquanto tudo o que Ada tinha de bonito na sua casa já fora partido pelo pai num dos seus ataques de fúria.

Nick incentivou Ada para se sentasse na poltrona e desapareceu. Regressando em menos de um minuto com um saco de gelo. Ajoelhou-se junto de Ada e colocou o gelo com cuidado sobre o olho.

– Eu juro que mato esse gajo – bramiu. – Quem é o homem que faz isto a uma filha?

– Só estarias a fazer pior. Ele podia ir atrás de ti a seguir.

– Achas que tenho medo dele? Achas que me preocupo?

A fúria de Nick estava a fazer com que ele forçasse o aperto do saco sobre o seu rosto e Ada teve de o segurar na mão para o afastar.

– É só mais duas semanas. Daqui a duas semanas terei a audiência no tribunal e poderei finalmente tirar os meus irmãos daquele sítio. Nunca mais o veremos de novo.

– Já pensaram para onde é que vão?

Ela encolheu os ombros.

– Eu arranjo-me depois, não quero estar a alimentar esperanças a tratar de tudo. Se depois acontece algo de errado...

– Não vai acontecer nada – disse Nick. – Tu vais ganhar a custódia dos teus irmãos. E se não tiverem para onde ir, são bem-vindos cá em casa. A Tayee e eu não nos importaríamos.

– Eu não quero incomodar. – Na verdade era mais do que simples incômodo que fazia Ada recusar o seu convite, mas essa parte ela guardava só para si.

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