Teus vestígios.

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Eu sinto sua falta.

E isso dói. Arde. Queima.

O universo é bom, mas só se você cooperar com ele. No entanto, há coisas que simplesmente não possuem explicações, dentre elas: eu e você. Desejo ter um por cento de ideia sobre como você se sente quando tudo está arruinando aqui para mim e eu gostaria que você soubesse o quão fodida fico quando você está da mesma forma.

Quando estamos arruinados.

Desta vez, eu fui sacaneada tão bem que chega a me arrancar risadas, mas elas não possuem humor algum. É ácido.

Por que você? Por que nós? Honestamente, fazer esses questionamentos todos os dias se tornou rotineiro e cansativo. Eu cansei, pois eles não são respondidos e nunca serão. É inexplicável. Não faz o mínimo de sentido para nós, mas ao universo sim, ele sabe do propósito.

Você está bem? Como foi seu dia? Conte-me as novidades, garoto. Aposto que algo te entristece, não é? Eu sei que sim, sinto o mesmo. Está complicado. Eu tenho enlouquecido nesses últimos meses. A cobrança está mais alta que o aceitável. Eu ando com assustada, com medo de atitudes, da falta dela, das pessoas principalmente. E o pior, do fracasso, mesmo que eu já tenha aceitado minha derrota.

Querido, você me disse certo dia algumas palavras que carrego comigo até hoje. Elas me tocam no fundo da alma, são como um lembrete diário. Lembro de sua voz, no modo como as proferiu entre sorrisos sinceros e olhares atentos à mim. O tom estava calmo, doce. Diferente do significado delas.

Você disse que situações podem ser miseráveis, mas que nós não devemos nos fazer miseráveis, que não devemos insultar à nós mesmos. Oh meu bem, insultar-me é o que eu faço de melhor, mas você detesta quando faço, estou certa? Você me encara com os olhos soltando fogo de raiva, me sacode pelos ombros e acaba comigo com suas palavras fodidamente dolorosas enquanto eu choro feito uma garotinha em seu colo.

Elas me fodem e me fazem chorar porque eu sei que você está completamente certo. Nós estávamos deitados na cama assim que você desmoronou e disse que não é honesto. Nós não somos, e não está tudo bem, é parte de nossa personalidade.

Por que não conseguimos dizer algo honesto? Nós deveríamos dizer que estamos cansados quando nos sentirmos assim, mas não conseguimos ser honestos com nós mesmos.

Isso nos faz sentir sufocados.

Eu possuo uma pergunta. Como você fica quando preciso de você? Porque de alguma forma você chega em mim e me conforta. Eu também te conforto de alguma maneira? O sentimento ruim que você sente e não sabe de onde vem, ele é meu, menino. E eu poderia me desculpar por isso, mas a culpa não é minha. Não é sua. Não é nossa.

Dói. Como se eu tivesse levado uma surra. Daquelas que permanecemos deitados no chão e a pessoa continua chutando nossa barriga com toda a força.

Agoniza. Como se eu estivesse me afogando no fundo de um oceano e não soubesse nadar, não conseguindo voltar à superfície e não tendo ninguém por perto para me salvar. Resultando minha própria morte.

E mais uma vez eu questiono: por quê você?

Estou de joelhos neste exato momento. Eles doem pela força que exerço no chão gélido. Minhas mãos estão em posição de reza e olho para o céu, este que está escuro feito o breu, mas as estrelas estão salpicadas nele. Brilhantes, assim como teus olhos, onde encontro uma constelação todas as vezes que te vejo. E é nessas horas, meu bem, que eu faço de ti a minha morada e refúgio.

Eu perdi totalmente a linha de raciocínio. Você me tira o foco às vezes. Talvez eu esteja rindo dessa merda toda, mas estou em minha... Deixe-me ver, segunda garrafa de vinho? Você sabe que eu colocarei culpa no maldito álcool, nós fazemos isso constantemente.

Onde eu estava? Oh, sim. Meus joelhos, meu olhar, o céu.

Eu fiz algo de muito bom ou ruim para merecer, universo? E ele?

Sem respostas.

Quando iremos nos encontrar novamente? Fotos, vídeos, mensagens, chamadas de vídeo ou voz? Não. Em meus sonhos, todos os dias você se faz presente neles. O de sempre, eu te clamo e você me salva, me conforta. E coitado de você que precisa me tirar da merda todas as vezes, eu sou uma encrenqueira.

Você está por todos os lugares, até mesmo em meus sonhos, menos ao meu lado. E eu não estou do seu também, menino. Como conseguimos lidar com isso?

Eu preciso te tocar. De alguma forma, eu preciso. Abraçar você, andar de mãos dadas, rir, sorrir. Chorar. Oh, eu preciso chorar em seu colo ou ombro. Em qualquer lugar, desde que eu faça isso em tua companhia, aninhada em teus braços que são a calmaria das minhas noites tempestuosas. Menino, está tudo revirado. Minha mente está me matando, as pessoas estão indo embora e eu ficando para trás.

Minha mão está estendida em sua direção. Você irá segurá-la?

O álcool está embaçando minha visão e eu quero chorar, há lágrimas em meus olhos, mas eu não derramarei nenhuma delas.

Estou sendo cuidada por você de longe, minha parte também está sendo feita. Querido, cuide-se. Há alguém aqui que está tentando segurar as barras, só não sabe até quando irá aguentar. Dói, menino.

Dói para um inferno.

E ao universo, meus sinceros vá se foder.

Porque eu sinto a porra da falta dele. Ele não possui nada de mim, eu possuo tudo dele. Até mesmo sua alma, que está conectada à minha.

Nós nos pertencemos e é tão lindo, ao mesmo tempo que nos destrói.

Ao amanhecer, eu me arrependerei e xingarei todos os palavrões existentes por acordar com uma puta dor de cabeça pela ressaca e pelas palavras que escrevi. Espero que um dia você tome conhecimento delas, pois permanecerão aqui para quando quiser lê-las sempre que se sentir como me sinto. Para sentir a dor e o meu amor que chegará até você, não importa aonde estiver.

Eu cuido de ti, menino. Queimando minha sálvia, acendendo uma vela branca e fazendo preces à Lua.

Dói, querido. Sufoca.

Mas eu, estupidamente, amo você.

Com amor e dor, tua ruína.Onde histórias criam vida. Descubra agora