Não tem título

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  A cozinha estava fria, mas a sala estava quente, graças à lareira. Som algum podia ser ouvido no grande porão da casa. Da cozinha, já era possível escutar e discernir duas vozes, que vinham da sala: uma dava risadas altas, gargalhadas francas e intensas. Já a outra, lhe dava os motivos para fazê-lo.

  -Vai se ferrar, Felipe, eu tô falando sério!

  Disse o visitante, num ímpeto de raiva e de humilhação... Felipe deu de ombros, consciente do ar narcisista que impôs no inocente amigo... e desfez, com cuidado, o sorriso gostoso que havia surgido por conta... apesar disso, Carlos não perdeu a oportunidade de lhe apontar o dedo, dizendo "Olha! Tem até jeito!" Ah, se tinha... não por acaso, já ouvira essa frase várias e várias vezes, durante sua estadia naquela cidade... portanto, criou respostas melhores, com o passar do tempo:

  -Perdão... mas tu sabe que isso é só uma desculpa esfarrapada pro teu problema, né?

  Quase que imediatamente, Carlos expôs a natureza de sua situação... não só com palavras, mas também com sentimentos... no entanto, tais lamentos não foram recebidos pelo anfitrião, que cobriu seus dentes à mostra, até que eles sumissem de novo...

  -Enfim, cara, eu fiz tudo por ela... mas aí, tu aparece e PIMBA!... já não tem mais chance daquele anjo olhar pra mim... - Carlos dizia, consciente do ar narcisista que impôs no inocente amigo.

  Logo, recebeu a mão de Felipe em suas costas tristonhas e arqueadas. "Coisas da vida... só que eu tô ligado que a Rosa não vai ficar comigo pra sempre... nunca sustento um namoro por muito tempo..." Disse com um sorriso calmo, e isso tranquilizou Carlos... logo após, se dirigiu para o breu da cozinha, desviando perfeitamente da mesa, das cadeiras e de um vestido amassado no chão.

  -"Vampiro"... essa é boa... - Comentou Felipe, com os dentes, novamente, à mostra.

O Narcisista e o ChorãoOnde histórias criam vida. Descubra agora