A semana que se decorreu foi conturbada para o país, e Harry e Sam engajaram-se participando das manifestações que tomaram conta da América do Norte e que logo foram difundidas para outras partes do globo.
Na manhã de sexta-feira, Sam acordou e Harry já não estava mais no quarto. Cambaleou até a sala de jantar, com sono, e encontrou Harry, de pé há muito tempo, sentado na mesa e encarando duas tintas para cabelo: uma na cor rosa e uma na cor azul.
-Não me diga que você está pensando em...- Começou Sam.
-Primeiramente, bom dia! E sim, eu só não consigo decidir a cor...- Respondeu Harry. - Me dê a sua opinião.
-Se você está indeciso, misture as duas!
-Quer saber de uma coisa? Você tem razão.
Sam serviu-se de uma xícara de café e quase cuspiu um gole da bebida quando Harry respondeu afirmativamente à sua fala irônica.
-Espera, você vai mesmo fazer isso?
-É claro! Por que não? É bom variar às vezes, uma mudança de ares. Você não acha que eu deveria?
-Qualquer decisão que você tomar, eu apoiarei totalmente. - Disse Sam, beijando as têmporas de Harry e sentando-se no sofá.
-Não só apoiar, é você quem vai pintar para mim!
-O que? Não! Se eu fizer algo de errado você vai guardar rancor e jogar a culpa em mim para sempre!
-Para com isso! Eu não sou assim.
Sam respondeu com um olhar torto, franzindo o cenho como quem diz "nem você mesmo acredita no que você acabou de dizer", e Harry interpretou as entrelinhas imediatamente:
-Tudo bem, talvez eu seja um pouco rancoroso. Mas eu não consigo pintar sozinho, eu já vi um tutorial na internet e vou precisar da sua ajuda.
Sam finalmente cedeu, deixou o café de lado e começou a seguir as instruções de Harry, descolorindo seu cabelo e tingindo as mechas uma a uma alternadamente entre azul e rosa, em um processo que levou horas. Finalmente, após o almoço, Harry lavou seu cabelo e pôde ver o resultado final. Os tons não eram muito intensos, sendo o azul quase acinzentado e o rosa bem sutil, e até mesmo Sam reconheceu que fez um bom trabalho e que apesar de ser diferente do que estava habituado, o cabelo de Harry estava lindo.
-Eu adorei! Obrigado, amor! - Disse Harry, empolgado.
-Você fica lindo de qualquer jeito. Eu te amo.
-Eu também te amo.
Os dois entrelaçaram seus lábios em um longo beijo, que evoluiu gradativamente até irem para o quarto de Harry, bagunçar a cama recém-arrumada.
Já era noite e o casal estava deitado no sofá da sala de estar, dividindo a mesma coberta enquanto assistiam um filme que levaram horas para escolher, difícil que era alinhar seus gostos, o de Harry mais eclético englobando desde romances clichês até suspenses com assassinos em série e o de Sam voltado para documentários e distopias próximas da realidade, quando ouviram uma voz familiar no corredor. Harry abriu a porta para ver do que se tratava e deu de cara com Gabrielle que, ainda de máscara, voltava do mercado com algumas sacolas de papel cheias de compras e conversava com uma vizinha do andar de baixo com a qual esbarrou a caminho do elevador.
-Harry! Que bom que você apareceu! - Disse Gabrielle. - Nós estávamos falando sobre a Marylin, a mulher que mora no final do corredor do térreo. Ela já tem 72 anos e mora aqui sozinha, o aniversário dela é amanhã e ninguém da família vai poder visitá-la porque ela faz parte do grupo de risco. Os dois filhos se revezam para trazer mantimentos para ela uma vez por semana mas não chegam nem a entrar no apartamento para não correrem riscos. Eles conversam com ela todos os dias por vídeo chamada, mas mesmo assim ela estava dizendo para a Carol como se sente abandonada. - Introduziu Harry à Carol, a vizinha com quem Gabrielle conversava.
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Inevitável
Roman d'amourQuando tudo parece dar errado, é quando começa a dar certo. Harry e Sam são namorados há algum tempo e, como em qualquer relacionamento, crises vêm e vão, e durante uma dessas crises, quando o que Harry menos quer é olhar nos olhos de Sam, o casal s...