A irmandade Secreta dos Reinos Silenciosos

Todos Saúdem o Rei Abner

(Obra do autor Paulo Elias André)

Enquanto caminha pelo bosque; tendo como companhia ninguém menos que Lord Mordec de Meneses, Abner tenta desesperadamente controlar sua notável ansiedade, ao mesmo tempo em que reluta para regular as batidas descompassadas  de seu aflito coração. Imaginar-se cheirando uma perfumada flor e assoprando uma tocha - técnica que aprendera com Lady Ágata, e a qual constuma usar em momentos difíceis em que se há necessidade de inspirar e expirar contínua e intensamente. O cair das folhas das enormes árvores que enfeitam o lugar indica que finalmente chegara o outono. Apesar do fim de um verão que fora insuportavelmente quente no reino do Leste,  o homem não consegue se concentrar em outra coisa além daquele que segue ao seu lado.

- Abner. – diz o homem troncudo e de grossas sobrancelhas e que cujo brilho da coroa em sua cabeça ofusca os olhos do rapaz que lhe fita, quebrando o silêncio que se fizera entre eles desde que deixaram o vilarejo do Leste. Logo, se coloca de frente para seu fiel combatente. – Sabe que é merecedor do meu respeito. Você tem me servido com bravura já há alguns anos, e nesse tempo conquistamos muitas batalhas e muitas terras para o fortalecimento do reino do Leste.

Embora pensativo, o servo meneia a cabeça para seu rei. Lembra-se da conversa perturbadora que tiveram enquanto voltavam da ultima conquista, onde há pouco mais de um mês tomaram um pequeno vilarejo. Desde então, vem tentando evitá-lo para fugir da resposta que precisará lhe dar.

- Sobre o assunto que conversamos. Você pensou em minha proposta? – indaga o rei, sempre muito direto. - Lhe confesso que desde aquele dia eu tenho estado ansioso pela sua resposta. Sei que você é um homem inteligente e fará o que for melhor para nós dois.

Antes de dizer qualquer coisa, Abner sente o sangue ferver e o coração lhe parece subir até a garganta quase chegando a altura da boca e pulando para fora.

- Milorde... Sabe o quanto lhe admiro e lhe sou fiel... – inicia o homem. Nota mudanças repentinas e assustadoras na face de seu superior. – No entanto, o pedido que me fizera foi para mim um tanto demasiado.

Nesse momento, o rosto do rei Meneses fica sombrio. Abner sente-se sem ação. Sabe que aquele homem não costuma reagir bem a uma negativa. Presênciara, por diversas vezes, os castigos mais cruéis serem aplicados aos que ousaram lhe contrariar.

- Sei o quanto você gosta da senhorita Ágata. – afirma o rei, relutando para controlar sua já conhecida ira. – No entanto, apelo para que você repense sua resposta. A graciosidade daquela donzela é tão notável que contenta aos olhos que a observam. Não seria certo ela receber a notícia de sua morte a frente do meu exército. Por isso eu lhe fiz aquela proposta!

Sair da linha de frente nas batalhas e assumir o posto de subcomandante da guarda do castelo do Leste, dará a Abner um pouco mais de segurança e ele poderá passar mais tempo ao lado de sua amada Ágata, aquém já há algum tempo vem servindo a rainha. No entanto, não conseguiria viver em paz se aceitasse entregar a pureza daquela donzela para satisfazer aos desejos profanos de seu insano rei.

- Perdoa-me Milorde. Mas...Preciso mesmo negar ao seu pedido. Não é certo. Espero sinceramente que entenda os meus motivos e...! – antes mesmo que o homem terminasse sua fala, o rei saca a espada e lhe direciona.

- Servo infiel. Você não é digno de estar no meu exército, nem de hábitar no meu reino, e nem tampouco de se alimentar dos frutos e grãos que aqui cultivamos! – grita o homem, já tomado pela cólera.

- Milorde... Por todos os Deuses, eu lhe suplico. Não precisamos chegar a esse ponto. – apela Abner, que por impulso também saca sua espada, ficando com ela erguida, assim como o homem a sua frente. Jamais se imaginou levantando-se contra seu próprio rei. – O senhor já tem tudo que deseja: a rainha, que é a mulher mais linda e formosa de todos os sete reinos; as mulheres, casadas ou não, do vilarejo que o senhor vive a cortejar; além disso, o senhor também possue as mais fogosas concubinas, sempre prontas a atender as suas necessidades libidinosas!