Encontrei em ti o amor que nunca tive

 A chaleira apitou, indicando que o líquido estava pronto. Rei ainda tinha uma certa dificuldade em lidar com o utensílio, porém estava bem melhor nisto e se orgulhava do próprio progresso. Preencheu duas canecas, podendo finalmente se livrar da tensão que era segurar o objeto metálico, insistia em o fazer e não ter sempre alguém da família a socorrendo quando quisesse um pouco de chá.

 Carregou os recipientes até o sofá, onde Inko já lhe aguardava com um sorriso e o controle remoto na mão, passando pelos catálogos de obras procurando qual interessaria a ambas naquela noite calma de quinta-feira. Eram apenas as mulheres na casa, no entanto Fuyumi chegara cansada e já dormira. Os garotos estavam na UA, provavelmente conversando com os colegas na área comum, já o único adulto do gênero masculino informara que ficaria na casa da namorada por hoje.

 Entregou a bebida da esverdeada, quem agradeceu com o adicional de um beijo na bochecha gelada, a namorada adorava as pequenas demonstrações de carinho, sempre que recebia sentia-se aquecida por dentro, era assim que um relacionamento de verdade deveria ser. Ao lado da mais baixa, se sentia relaxada, como nunca esteve antes, podia ser autêntica sem medo de consequências desastrosas, era bom ser escutada e levada em consideração.

 Nestes momentos ela lembrava que felicidade matrimonial não era um luxo como acreditara por tantos anos, desde que aceitara aquele casamento arranjado, era como uma realidade distante e inalcançável, algo fictício de televisão. Dinheiro, marido e filhos eram o ideal que desejava para sua vida, se sentia bem cuidando da casa e da prole, no entanto a companhia tóxica a destruiu psicologicamente.

 Balançou a cabeça, mudando os pensamentos e focando na realidade, não havia motivo para remoer tais memórias quando finalmente tinha uma parceira maravilhosa ao seu lado. A casa espaçosa também era agradável, recebera esta de presente quando saiu do hospital como uma tentativa de reconciliação do ex-marido, com quem preferia manter uma distância respeitosa:

 — Rei? - sua namorada perguntou, ajustando o manto cinza macio no colo das duas.

 — Sim? Desculpe, me perdi em pensamentos um pouco. - retrucou agradada com o toque gentil através do tecido.

 — Eu perguntei o que você acha desse filme para a gente assistir.

 Leu a sinopse rapidamente na tela, era sobre um romance que aflorava numa viagem que um grupo de amigos fazia pelo país, parecia interessante:

 — Gostei, vamos ver?

 Inko respondeu com um aceno de cabeça, apertou o botão de play no controle e o largou no braço do sofá, movendo mais para perto da outra mulher e se aconchegando no ombro desta. A todoroki aproveitou para por a própria cabeça por cima, parando de divagar sobre a vida antiga para se prender no momento cotidiano feliz.