Parte 3

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   Três horas depois pude ver Noah. Ele estava deitado,  abatido e sonolento.  -Oi.  - eu disse

- Oi,  já viu seu irmão ?

- Ainda não. - ele estava coberto por aparelhos médicos, o que parecia lhe incomodar um pouco. - Como se sente ?

- Um pouco frustrado.

- Frustrado? - ele tem sorte de estar vivo e de não ter perdido o braço,  e ele está frustrado?

- Sim, eu estou completamente frustrado.- ele se endireitou na cama e afastou um pouco as pernas deixando um espaço vazio em meio aos lençóis. - Senta aqui.

- Ainda quero saber porque está frustrado. - me sentei - Você deve ter se enganado, sabe o que a palavra FRUSTRAÇÃO  significa? Você poderia está morto,  ou poderia ter perdido um braço ou sei lá o que.  Se eu fosse você estaria agradecido. - quando eu parei de falar me dei conta que eu tinha falado alto de mais,  talvez eu tenha sido um pouco grossa. Respirei fundo. - Desculpe.

- Eu estou frustrado Kris, você já se sentiu invencível?  A pessoa mais forte do mundo,  como se nada nunca fosse te acontecer ? Pois bem, é a primeira vez desde que meu pai morreu que eu me machuco,  que eu sinto dor. - ele estava com lágrimas nos olhos - A última coisa que meu pai me disse antes de morrer foi que ele cuidaria de mim para que nada de ruim me acontecesse.  Faz 4 anos que eu não sinto nem dor de dente. E isso me fortalecia todo dia, eu já acordava me sentindo o Superman, e ontem eu descobri que ele não me protege mais,  eu me sinto fraco,  frustrado e triste. - as lágrimas escorriam uma atrás da outra,  seu rosto estava vermelho e o cabelo bagunçado, mas ele continuava lindo.

- Ei,  ontem você foi o meu Superman.  Obrigado. - Eu segurei a mão dele e ele apertou a minha.

  Uma enfermeira entrou no quarto e acabou de vez com qualquer tipo de clima que estava nascendo naquele momento.

- Seu amigo vai ser medicado agora,  peço que se retire, mais tarde poderá vê-lo de novo.

- Tudo bem. - virei para Noah - Até logo.

- Até logo Kris.

    ****

Assim que saí do quarto esbarrei com o Dr. Loompa, ou melhor,  ele que esbarrou na minha perna.

- Desculpe doutor! - ele olhou para cima sorridente.

- Eu que lhe devo desculpas, Na verdade eu estava mesmo te procurando.

- Meu irmão já está melhor?

- A senhora me acompanhe por favor.

O Dr. Loompa andava rapidinho com aquelas perninhas curtas,  as crianças que esperavam atendimento olhavam para ele e riam muito, o Dr. Loompa parecia não se incomodar e acenava para cada uma das crianças que achavam graça.

- Entre por favor - entrei enquanto ele segurava a porta. 

Nós nos sentamos em pequenas almofadas coloridas.

- Me perdoe por não ter cadeiras,  é que as crianças gostam das minhas almofadas. - Nós rimos. - Senhorita,  como sabe,  seu irmão passou por uma cirurgia nas duas pernas quebradas.  Depois da cirurgia ele continuou sentindo muita dor na perna esquerda,  e nesse momento ele está refazendo a cirurgia. - a expressão dele ficou mais séria,  e eu pressenti que algo ruim estava por vir.- Eu vou ser direto,  seu irmão corre o risco de ficar sem a perna. E infelizmente depois dessa cirurgia não podemos mais fazer nada.

Boomm! A bomba foi jogada,  e mil e um sentimentos tomaram conta de mim.

Me peguei chorando e suando pelas mãos. O desespero tomou conta de mim e eu perdi os sentidos.

A menina que magoaOnde histórias criam vida. Descubra agora