Lolla Vaux

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Dói.

Cada um dos músculos que possuo doem. Não consigo fazer o mais simples dos movimentos sem sentir que meus ossos então prestes a partir em milhões de pedacinhos.

Incomoda.

Algo faz cócegas em meus rosto e braços descobertos, eu não sei o que é mas parece úmido.

Queima.

A claridade que vem de cima queima meus olhos todas as vezes que de alguma forma tento abri-los.

Dói, incomoda e queima quando vou contra todas essas sensações e forço meu corpo a sentar-se com os olhos abertos.

Havia um trailer alguns metros de distância de onde eu estava, ele era familiar, algo me dizia que ele pertencia a mim. Seguindo meus instintos levantei do gramado onde antes estava deitada e segui até à porta escancarada do trailer enferrujado.

Nada ali parecia conter valor algum, todos os móveis eram velhos e desgastados, o carpete estava encardido e embalagens de comida pareciam fazer parte do ambiente. Ao final do minúsculo cômodo - que podia ser chamado de sala ao mesmo tempo em que se mostrava um quarto e portava móveis do que deveria ser uma cozinha -, havia um estreito corredor com uma porta semiaberta, que devido a minha curiosidade descobri ser o banheiro. Era tão pequeno quanto todo o resto do trailer, mas de alguma forma parecia mais "estável" do que restante.

Meu corpo ainda dolorido pedia por um banho, então deixei minhas vestes imundas jogadas por cima de um pequeno tapete encostado em uma moldura que um dia devia ter sido reservada ao vidro de um box, mas agora continha apenas grandes cacos de vidro pontudos nas extremidades, esses que pareciam presos demais, me pergunto o quão forte a pessoa que conseguiu quebrar aquele tipo de vidro era. Principalmente quando dificilmente se consegue dar dois passos no cômodo.

A água estava gelada, mesmo com o registro marcando "inverno", mas meu corpo não tremia ou demonstrava sentir frio de alguma forma. Deduzi que banhos gelados eram rotineiros. Ensaboei meu corpo com um pequeno sabonete que antes estava no chão, sentindo cada pedacinho de minha pele. Eu reconheci meu corpo, meu toque, meu cabelo, minhas cicatrizes. Tudo isso é meu, pertence a mim.

Mas quem sou eu?

Minhas memórias não passam de neblinas densas ao qual não consigo atravessar. Tudo o que conseguia tirar dali era um nome sussurrado por uma doce voz feminina, ela dizia: "Lolla Vaux". De alguma forma eu me sentia terrivelmente atraída pela voz.

Meus ombros arderam quando o sabonete entrou em contato com a pele, passei minhas mãos suavemente por ali e senti diversos arranhões que eram recentes julgando pela ardência. Meu olhar recaiu para minhas mãos, minhas unhas estavam marcadas pelo que parecia ser sangue seco, não demorei muito para limpa-los com ajuda de minhas próprias unhas, uma a uma.

Longos minutos foram deixados debaixo do chuveiro, eu me sentia limpa em todos os sentidos da palavra.

Minha barriga roncou anunciando que eu precisava comer, mas não havia nada em canto algum que parecia ser comestível. E eu não precisei de mais do que uma olhada pelo trailer para saber disso.

Com uma toalha enrolada no corpo tratei de pegar em um amontoado de roupas no chão, ao lado do pequeno sofá-cama, algo que parecia ser leve e confortável, mas entre todas aquelas roupas as únicas peças limpas formavam um conjunto não muito agradável aos meus olhos. Eu os vesti mesmo assim.

Reparei em meu reflexo na janela suja e pequena, tudo que vi era uma jovem que parecia um fantasma com aquele short e camisa branca de mangas entranhas.

Aquela sou eu? Não se parece comigo.

Mas como poderia se sequer me lembro?

- Lolla Vaux... - Sussurrei me lembrando de minutos antes, quando esse nome surgiu em minha mente. Se não sei quem sou, precisarei ser alguém. E eu já sabia quem.

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⏰ Última atualização: Feb 28, 2021 ⏰

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