Querido

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 — Thomas, mas que diabos... — mal consigo terminar a frase de tão atônita que estou.

 Ele está bêbado, em algum lugar com uma música tão alta e gritos tão agudos que mal consigo entender direito o que fala, até porque sua voz também está tão arrastada que não me ajuda em nada.

 É como se todo meu ódio tivesse sido substituído por preocupação num piscar de olhos.

 — Diga Thomas de novo. — ele ri feito uma criança.

 — Por que? Está com algum tipo de tesão alcóolico?

 — Sim.

 Reprimo o riso.

 Cara de pau.

 — Certo, Thomas. Onde você está?

 — Hum... — Tom resmunga de um jeito que sei que está sorrindo. — Numa casa.

 — É mesmo? — ironizo, notando que meu sono já se dissipou. — E quem está nessa casa?

 — Muita gente. — ouço-o rir da própria piada como se fosse algo muito engraçado e reviro os olhos, esperando que pare. — Mas nenhum deles é você.

 — Sim, eu sei.

 — E eu queria tanto ver você. — ele choraminga. — Mas você está brava comigo e eles não me deixam dirigir.

 — Graças a Deus por isso! — a ideia dele pegar em um volante agora me faz querer vomitar de novo.

 — Mas eu queria tanto... — sua voz se arrasta novamente e o ouço fungar.

 Apesar de sorrir, preciso respirar fundo e olhar para o teto por alguns instantes.

 — Você pode me ver amanhã.

 — Hum... Mas eu queria hoje. — ele se queixa feito uma criança. — E ninguém pode me impedir! — ouço um farfalhar do lado da linha, como se Tom tivesse se levantado. — Harry, cadê as minhas chaves?

 — Não! — digo de supetão, já me colocando de pé.

 — Nem fodendo que você vai dirigir agora, mal consegue ficar de pé! — uma voz que não conheço ressoa próximo a ele.

 — Tom! — chamo enquanto chuto os shorts do pijama, substituindo-os pelos meus jeans.

 — Calma, Rey! — Tom diz, de repente sério. — Estou indo te ver!

 — O que tá rolando? — uma voz feminina questiona enquanto calço meus tênis surrados.

 — Tom quer dirigir pra ver a namorada!

 — Desse jeito?! — a garota torna a falar. — De jeito nenhum!

 — Ah, calem a boca. — ele tropeça nas palavras. — As chaves, Harry.

 — Tom! — chamo mais uma vez, tentando não surtar. — Onde você está? Me fale onde é e eu vou te ver.

 Ele permanece em silêncio por alguns instantes e só consigo ouvir a música estridente no fundo.

 — Você vai vir?

 — Vou, Tom. Estou indo te ver, tudo bem? — uso o tom mais maternal possível, exatamente como Sara faria. — Só preciso que me diga onde você está.

 Longos minutos se passam até ele balbuciar um endereço em Kingston, e enquanto visto um um suéter sobre o pijama, ouço-o cantarolar alguma música que não conheço do outro lado da linha. Apanho as chaves do carro e saio em disparada até a cozinha, rabiscando um bilhete rápido para Sara e usando um imã para pendurá-lo na geladeira.

All My Life | Tom Holland ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora